O ministro do Interior da Alemanha, Thomas de Maiziere, anunciou neste domingo (13) a reintrodução provisória de controles nas fronteiras para "conter o fluxo de refugiados que chegam à Alemanha". Segundo ele, "centenas" de policiais serão mobilizados.
"A Alemanha introduz provisoriamente controles em suas fronteiras, em particular com a Áustria", indicou o ministro em Berlim, depois que nas duas últimas semanas 63.000 imigrantes chegaram a Munique, principal porta de entrada na Alemanha. "Também é absolutamente necessário por razões de segurança", acrescentou o ministro em uma breve declaração à imprensa.
Em comunicado, a Comissão Europeia afirmou que a Alemanha parece estar legalmente justificada em restituir controle de fronteiras neste domingo, especialmente em sua divisa com a Áustria, e disse que isso mostrou a necessidade de os países do bloco definirem uma abordagem comum à questão dos refugiados.
"A reintrodução temporária dos controles de fronteira entre os estados-membros é uma possibilidade excepcional explicitamente prevista e regulada pelo código de fronteiras Schengen, em caso de uma situação de crise", disse a Comissão Europeia em comunicado. "A situação atual na Alemanha, à primeira vista, parece ser uma situação abrangida pelas regras".
Na segunda-feira (14), os ministros do Interior e da Justiça da União Europeia se reúnem de emergência para analisar a questão.
Controles policiais
Segundo o "Kronen Zeitung", Berlim informou a Viena que ainda neste domingo começará a realizar controles policiais para "comprovar imediatamente quem tem direito a asilo", num momento em que cidades como Munique já estão se declarando "transbordadas" pela chegada de refugiados.
Esse jornal cita fontes governamentais austríacas ao explicar que a chanceler alemã, Angela Merkel, garantiu por telefone a seu colega austríaco, Werner Faymann, que não se produzirá uma situação de caos.
A expectativa é que neste domingo entrem na Áustria outros 10 mil refugiados que chegam da Hungria seguindo a chamada rota dos Bálcãs a partir de países em conflito do Oriente Médio e da Ásia.
Trens
As ferrovias alemãs Deutsche Bahn anunciaram a suspensão do tráfego procedente e com destino à vizinha Áustria até as cinco da manhã de segunda-feira (00h00 de Brasília), após a decisão do governo alemão de restabelecer os controles nas fronteiras.
"Deutsche Bahn suspende a circulação ferroviária entre Áustria e Alemanha até segunda-feira às cinco da manhã", indicou a empresa em um comunicado.
Soluções de emergência
Também neste domingo, o governo do estado federado da Baviera, no sul da Alemanha, reúne-de forma extraordinária para buscar soluções de emergência para atender aos milhares de refugiados que seguem chegando da Áustria.
"Devido aos números registrados ontem (sábado), está claro que alcançamos o limite extremo da nossa capacidade para acomodar os solicitantes de asilo que chegam à cidade após atravessar os Balcãs, a Hungria e a Áustria", declarou um porta-voz da polícia de Munique à agência France Presse.
Segundo números fornecidos pela polícia, apenas no sábado chegaram à estação central de Munique, a capital bávara, 12.200 solicitantes de asilo, aos quais se somaram outros 750 no começo da manhã deste domingo.
O prefeito da cidade, o social-democrata Dieter Reiter, lançou no sábado um alerta por não contar com suficientes vagas para alojar a todas as pessoas que chegam da Hungria através da Áustria.
Segundo a AFP, o Ministro dos Transportes alemão Alexander Dobrindt, denunciou neste domingo o "fracasso completo" da União Europeia no controle das fronteiras externas contra o fluxo de imigrantes, e pediu medidas "eficazes". "São necessárias medidas eficazes para conter o fluxo" após o "fracasso completo da UE", cuja "proteção das fronteiras externas não funciona mais", disse em um comunicado.
Segundo Dobrindt, a Alemanha "atingiu os limites da capacidade" de acolhida e "este sinal deve ser entendido sem ambiguidade" pelos outros países europeus, acrescentou. "A Alemanha tem ajudado com a questão dos refugiados por meses e em uma largura muito maior do que todos os outros países europeus", lamentou.
Pedido de ajuda
As organizações humanitárias que colaboram na primeira acolhida fizeram um apelo à população para que doassem sacos de dormir e colchonetes, utilizados esta noite nas estações de trem e de ônibus por alguns refugiados que não puderam ser hospedados nos albergues e edifícios preparados nos últimos dias pela prefeitura.
As autoridades locais e regionais se sentem abandonadas e nas últimas horas não cessaram de reivindicar aos demais estados federados que acolham parte dos solicitantes de asilo que chegam a Baviera, mas, por enquanto, a resposta é limitada e lenta.
A reunião do governo regional estará presidida por Horst Seehofer, líder da conservadora União Social-Cristã (CSU), partido irmão da CDU de Angela Merkel e parceiro na grande coalizão que governa a Alemanha.
No entanto, as afinidades políticas não frearam suas críticas à chanceler por ter decidido abrir as fronteiras aos refugiados sem ter previsto as consequências que isso poderia ter e sem ter desenvolvido um plano global de amparada.
Segundo as estimativas feitas na sexta-feira passada pelo ministro das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, a Alemanha pode receber este fim de semana cerca de 40 mil solicitantes de asilo.
Fonte: G1