Cidades

Trabalho voluntário exercita o “Saber Ouvir”

Não ficar de braços cruzados diante dos problemas sociais do País, e doar tempo sem esperar remuneração em troca é o resumo da vida de milhares de pessoas que praticam o voluntariado. Um relatório do Programa de Voluntários da ONU aponta que essas pessoas têm um papel fundamental para tornar os governos em todo o mundo mais responsáveis e ativos.

As áreas para atuação são diversas: entidades que cuidam de pessoas idosas, com câncer, crianças carentes, causas relacionadas ao meio ambiente e até à corrupção. Há ainda quem trabalhe ouvindo pessoas solitárias que precisam expor o turbilhão de sentimentos que residem em si. É o caso dos voluntários do Centro de Valorização à Vida (CVV). 

“O objetivo dos voluntários do CVV é dar apoio emocional a uma pessoa que, naquele momento, precisa desabafar. Essas pessoas normalmente estão passando por alguma dificuldade e querem contar o seu problema, falar das suas angústias. Contam uma história, mas com objetivo de falar do seu sentimento”, explica a voluntária do CVV há nove anos e funcionária pública, Marta Bunoro.

Para quem se interessar em emprestar seus ouvidos a alguém, não basta se considerar um bom ouvinte. É preciso “saber ouvir”. Para isso o Centro dispõe de um curso para novos voluntários, o Programa de Seleção de Voluntário (PSV), que tem duração de 13 semanas, realizado nos meses de março e agosto. 

“O ‘saber ouvir’ engloba o ouvir com atenção o outro. Ouvir com coração. Sem o objetivo de elaborar conceitos, conselhos, julgamento, nem direcionamento. Nós apenas ouvimos”, revela Boruno. Entretanto, os voluntários também falam sobre os problemas com as pessoas que recorrem a eles, mas de maneira atenta aos sentimentos colocados.

O trabalho realizado no Centro é especialmente voltado à prevenção do suicídio. Tema pouco falado e problematizado na sociedade, mas com índices crescentes. De acordo com dados da Secretária de Estado de Saúde, em 2014 foram 128 casos de mortes autoprovocadas em Mato Grosso; destas, 37 foram na Grande Cuiabá.

“Quando a pessoa procura alguém para conversar, ela está buscando ajuda e assim há a possibilidades de ela encontrar soluções. Muitas vezes ela não vê solução para o problema e entra em desespero. Fica reclusa. O suicídio ocorre porque a pessoa não vê saída; quando coloca o sentimento para fora, ela consegue visualizar a saída, mesmo que o problema não seja resolvido”, conta a voluntária.

O Centro vive exclusivamente do serviço voluntário. São feitos cerca de 600 atendimentos por mês, pelo 141 ou (65)3321-4111, 24 horas por dia, ou pessoalmente, na sede em Cuiabá, das 8h às 18h. Os voluntários trabalham com absoluto sigilo.

Há ainda outros tipos de voluntariado, como o de visitas a entidades. Em Cuiabá, o grupo Girassol da Alegria presta serviço quinzenalmente a seis instituições, com visitas que tem como objetivo estimular as pessoas e levar alegria para crianças e adultos. 

Há um ano e meio, a servidora pública Raiana Lira é voluntária no Girassol Roxo (uma das seis cores em que o grupo de divide). Sábado sim, sábado não, as tardes são dedicadas a cuidar do próximo. 

“Um dia a gente foi à Casa Transitória e encontramos um senhor que estava muito emocionado. Era a primeira vez que ele estava com a gente, mas logo iria partir. O médico tinha dado a ele poucos dias de vida, e ele não viria mais a Cuiabá. A felicidade dele, a força que ele tinha mesmo em estado terminal, me emocionou”, relata Lira sobre o momento mais marcante do seu trabalho.

SETEMBRO AMARELO

É preciso falar sobre suicídio

Começou a campanha “Setembro Amarelo”, promovida pela Associação Internacional pela Prevenção do Suicídio (IASP), que tem como objetivo conscientizar a população sobre a realidade do suicídio e mostrar que existe prevenção em mais de 90% dos casos.

O suicídio é considerado um problema de saúde pública e mata um brasileiro a cada 45 minutos e uma pessoa a cada 45 segundos em todo o mundo. Pelo menos o triplo disso tentou tirar a própria vida e outras chegaram a pensar em suicídio.

Segundo pesquisas, a cada suicídio, ao menos seis outras pessoas são diretamente impactadas, sofrendo consequências difíceis de serem reparadas. Apesar de números tão alarmantes, o assunto ainda é tratado como tabu. Evita-se o assunto, o que só colabora para seu aumento. 

Quando se trata de saúde pública, sabe-se que a prevenção de qualquer doença se faz com informação clara e objetiva. Por isso a importância do Setembro Amarelo.

Para colocar o assunto em pauta e marcar o início de um diálogo, o dia 10 de setembro foi instituído como Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. Isso para mostrar que é possível tirar várias vidas do escuro e pensar em alternativas para tratar essa questão que é de interesse público, mas acaba ficando marginalizada e invisível.

No Brasil, uma das instituições que está trabalhando pela causa neste ano é o CVV. Os 70 endereços do CVV em todo o país vão colocar uma faixa amarela na sua fachada, e seus voluntários buscam o apoio de municípios, estados e da federação para iluminar ou identificar monumentos e prédios públicos durante todo o mês de setembro.

Como ajudar

Para colaborar, qualquer pessoa pode iluminar ou identificar a fachada de uma casa ou prédio, promover motoata (passeio de motos) com balões, fitas ou panos amarelos, caminhadas com camisetas amarelas ou outras ações que impactem a população. 

Todos que mandarem fotos de suas iniciativas para a fanpage no facebook do CVV  (www.facebook.com/cvv141) terão o material compartilhado. Algumas dessas fotos serão enviadas ao IASP que vão reunir as principais ações ao redor do mundo. 

Além disso, o CVV Cuiabá está disponibilizando palestrantes para falar sobre o assunto por meio de agendamento, pelo 141.

 

SERVIÇO

Para quem se interessar em ser voluntário no Girassol da Alegria, basta entrar no site http://www.girassoldaalegria.org/.

O posto do CVV Cuiabá fica na Rua Comandante Costa, 296, Centro. O telefone é 141 ou (65) 3321-4111.

Cintia Borges

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