Noelisa Andreola, no Caderno Panorana deste jornal, trouxe um assunto raro e caro: constelação familiar. Naquela edição, discutiu-se a “Constelação familiar utilizada como mediação no judiciário” de Mato Grosso. A Constelação familiar, criada pelo filósofo e psicoterateuta alemão Bert Hellinger, nascido em 1925, consiste em “formar um inconciente coletivo e solucionar emaranhados de relacionamentos, que às vezes estão vinculados ao passado do paciente”.
A matéria de Andreola me levou a Marcel Mauss (1872-1959), sociólogo e antropólogo francês. Ouso colocar lado a lado Mauss e Hellinger porque trabalham, cada qual à sua maneira, os significados do dar e do receber. Mesmo se tratando de áreas distintas do conhecimento, para ambos, o equilíbrio entre dar e receber para o sistema familiar ou sistema coletivo do grupo é fundamental ao equilíbrio individual e coletivo.
Mauss escreveu “Ensaio sobre a dádiva” e discutiu os modos de reciprocidade, do intercâmbio e da origem antropológica do contrato. O dar e o receber nas sociedades ágrafas foram interpretados como constituidores de relacionamentos entre pessoas. “Ao doar ou dar um objeto (presente), o doador cria uma obrigação face ao receptor que fica de lhe devolver o presente. O resultado de tal conjunto de trocas que ocorre entre indivíduos de um grupo e entre diferentes grupos corresponde a uma das primeiras formas de economia social e da solidariedade social que une grupos humanos. As doações recíprocas estabelecem relações de fortes alianças, hospitalidade, proteção e assistência mútua”. Com outras palavras, o “dom da dádiva” está em Hellinger.
A matéria do Panorama me trouxe esperança. Em momentos distintos, Edu me apresentou a teoria de Mauss para entender o equilíbrio do dar e do receber entre o povo Nambiquara; Alda, em Hellinger, encontro o “dom da dádiva” para além dos índios e, de maneira inovadora, chega aos cidadãos pelos poderes judiciários da Bahia e de Mato Grosso. Na construção de um mundo melhor, todos ganham.