Opinião

O PRÓXIMO PODE SER O SEU

Era a vez do dia de estender a mão. Já ouviu falar? Isso mesmo. O tempo de distribuir, aceitar e retribuir gentileza, agir com mais leveza. Não era um dia qualquer.

Você pode ter sido recrutado para exercitar seu espírito do bem. Mas lembre-se: não necessariamente combinaram o mesmo com os demais atores das cenas cotidianas vividas e observadas no entorno.

O telefone vai tocar muito cedo. Engano. Não dedique  ao descuidado que quer encomendar umas comprinhas no mercadinho palavras impublicáveis e indesejáveis para terceiros. Amigos, conhecidos ou inimigos. Interrompendo o ritual matinal, deseje um bom dia e excelentes compras, com o recebimento dos produtos bem fresquinhos, razão da ligação para o pedido “assim que o mercado abre”, explica a voz do outro lado, já querendo puxar assunto. Seja delicado, mas desligue. O dia mal começou…

Na entrada do edifício não se abale com a ausência do porteiro para abrir trancas e trincos, não contabilizados no tempo apertado para o compromisso. Pense positivo, tudo tem uma razão. Se o responsável está ausente é por desempenhar outra tarefa, mais necessária e urgente. O cara é do bem, não é de hoje. Dedique-lhe o melhor sorriso e deseje um espontâneo e sincero bom dia. Ele e todos nós merecemos.

Se na passada rápida para sacar dinheiro o sistema estiver fora do ar, releve. Tenha calma e um andar ritmado a caminho da próxima agência. Afinal são tantos estabelecimento. No seguinte pode ser que o sistema, agora no ar, possa ser acessado. Se o equipamento não estiver em manutenção.

Dirija-se gentilmente ao balcão e informe o problema. Mesmo sabendo que a atendente certamente perguntará se o problema não é do seu cartão, ou se ele está sendo usado de forma inadequada. Nada pessoal é claro.

Cumprimente a moça, trate-a com carinho. Pense em como deve ser a vida dela. Diariamente, todos os dias. Tudo bem, ela tem salário, coisa rara hoje em dia. Mas a que preço. Faça uma boa ação. Não discuta, não reclame, nem lembre que tem seus direitos. Líquidos,  certos, porém difíceis de serem garantidos no dia a dia. Até a moça reconhece  solidária, pensando nas suas próprias demandas reprimidas e incompreendidas.

Não é fácil ser informada pelo cliente da mesa ao lado que sim, o banco voltou a receber os pagamentos da operadora de telefonia no caixa. Até janeiro de 2016. A gerente não sabia… Também – console a moça – como saber de tantas idas e vindas, ainda mais com as mudanças sucessivas e o bate cabeça da economia nacional, internacional e, quiçá, planetária.

Saia do banco com um atraso insuperável para ser administrado, mas não deixe de desejar bom dia para o segurança da agência, enrolado com um cliente mais enrolado ainda com a porta-giratória, mochilas, chaves, celulares e afins. Sorria para ele também.

O dia começa quente e abafado. O trânsito engarrafado.  Mero detalhe. Dedique um olhar acolhedor para os ambulantes que povoam suas esquinas. Precisarão de boas energias para venderem e correrem do rapa. Mesmo que não pretenda comprar nada e quase tenha tropeçado nas mercadorias tentando alcançar o espaço exíguo que serpenteia entre as ofertas eles merecem um sorriso. O ritmo do dia se espreguiça. Mais leve, menos pesado.

É nas pequenas atitudes que podemos ser melhores.  Independentemente do que vem do outro lado. Quando as coisas não vão bem, nem mesmo a vida ajuda. Se o que temos pela frente não é aquilo que sonhamos, o truque é mostrar para a vida como a gente gostaria que fosse. Começando na forma delicada de tratar a vida.

Como aqui, como agora. Neste papel que, graças a Deus, aceita tudo. Incluindo o otimismo, boa vontade e pequenos gestos de gentileza.  Amanhã ou depois experimente. Faça do seu um dia de estender a mão. E… sorria!

Valéria del Cueto

About Author

Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “Ponta do Leme”, do SEM FIM... delcueto.wordpress.com

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