Incentivado pelas passeatas de domingo, criei um outdoor no mínimo espirituoso para um cliente de origem cubana. É um outdoor a lá Old School, fundo chapado, logomarca grande no canto direito, e uma frase em letras garrafais: “ Desse cubano até os coxinhas irão gostar.”
– Ninguém nunca mais vai comprar o produto. – Dispara minha esposa e conselheira, a Flor.
– Como assim?
– Quem compra no Biglar, Extra, Padaria do Moinho?
– E o que que tem?
– O público vai se sentir ofendido.
– Como assim? Acho que eles vão achar uma grande sacada. “Coxinha”….. “Cubano”.
– Você gosta de ser chamado de Playboy? Aliás, existe algum trabalhador que gosta de ser chamado de playboy? Ainda mais agora com essa bipolarização autofágica. Defender um país melhor, com mais igualdade e mais honestidade, em vez de cidadão honesto, virou “coxinha” para vocês petralhas, seres em extinção. Se precisar desenhar, eu desenho: Se colocar essa frase, ele não vende mais nada.
Contra-argumentos, não há fatos. Ou vice e versa. Deleto a frase e vou em busca de mais uma ideia. Não vejo uma pessoa elogiando a atual situação do país. Todo mundo chorando miséria. Recessão. Demissão e outros “sãos” assolam empresários, empregados e qualquer pessoa que dependa de produção para gerar renda.
– E outra João. Esquece essa história de Cuba. Época de crise não é época de criar polêmica.
– Polêmica ou não a verdade é essa. Você não gosta de ser chamada de coxinha, mas votou no Aécio no segundo turno. Acha que entende tudo, mas não vê que tem gente ganhando com a crise. Aliás, essa crise não será a primeira nem a última. E Cuba é um grande país, sim senhor. O que falta para o brasileiro é um livro de história.
– Beleza. Descarrega em mim. Mas esquece esse negócio de Cuba.
Minutos de silêncio parecem uma verdadeira eternidade. Um iceberg se forma entre nós. Enfim quebro o gelo:
– E se fosse então “ Diretamente de Miami”..