O médico responsável pelo tratamento da Sofia Gonçalves de Lacerda, que se recupera do transplante multivisceral de cinco órgãos do sistema digestivo disse ao G1 nesta sexta-feira (14) que a menina está melhor, mas ainda corre risco de morte. Segundo Rodrigo Vianna, o citomegalovírus (CMV), que foi encontrado no corpo da bebê, cedeu um pouco.
"O vírus é resistente às medicações, o que torna as coisas mais complicadas. Ainda há muitos riscos, mas eu continuo sempre otimista e vamos em frente. Como a Paty [mãe da Sofia] sempre diz, 'a bonequinha não se entrega' nem nossa equipe. Então, o páreo é duro", afirma o médico da bebê, que trabalha há três anos no Jackson Memorial Hospital, em Miami, nos Estados Unidos, onde Sofia está internada.
A menina precisou ser encaminhada à Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no início do mês, depois que ela teve falta de ar, já que o vírus atingiu o pulmão. Os médicos resolveram encaminhá-la à unidade para que fosse feito um monitoramento respiratório. A menina já estava internada no hospital desde o dia 25 de julho, por causa de uma alergia severa na pele, que os médicos descobriram depois se tratar de uma reação ao CMV.
A melhora de Sofia, segundo Vianna, é resultado da fotoferese, uma técnica de tratamento do sangue com medicamentos e radiação ultravioleta que reduzem os sintomas causados pela virose. Desta forma, o sangue da menina tem sido filtrado através deste tratamento três vezes por semana. "Parece que está ajudando, mas obviamente ela ainda está bastante doente e respirando por aparelhos, mas continuamos na luta."
Com relação aos órgãos que foram transplantados durante a cirurgia multivisceral (intestino grosso e delgado [que inclui o duodeno]; fígado; pâncreas e estômago), o médico garante que eles continuam em perfeito estado. "Ela ainda está fora das medicações antirrejeição, já que os órgãos estão em ótima condição", frisa.
Em oração
A mãe da menina, Patrícia de Lacerda, está otimista quanto a recuperação da filha. Ao G1 ela contou que Sofia está estável, mas reagindo e que a contagem de vírus pelo corpo da menina caiu muito, de 3 milhões para um milhão. Além disso, os glóbulos brancos da menina que estavam baixos, agora estão normais, segundo a mãe. "É uma luta, mas confiamos em Deus e eu sei que Ele fará o melhora pra ela".
Além do vírus CMV, os últimos exames realizados na Sofia mostraram que há dois tipos de bactérias no pulmão da menina e, por conta disso, ela precisou ser entubada e respira com a ajuda de aparelhos. "A pele deu uma boa melhorada de ontem pra hoje [sexta-feira, 14]. O vírus que causou essas erupções pelo corpo dela que, no início, achavámos que fosse uma alergia, mas graças a Deus o vírus foi descoberto e ela está sendo tratada", finaliza Patrícia.
Segunda internação pós-transplante
Esta é a segunda vez que Sofia é internada desde que teve alta do hospital após o transplante de cinco órgãos do sistema digestivo (intestino grosso e delgado [que inclui o duodeno]; fígado; pâncreas e estômago). O procedimento – realizado no dia 10 de abril – foi comandado pelo médico brasileiro Rodrigo Vianna e durou quase 10 horas.
Depois de três meses de internação pós-cirúrgica, Sofia deixou o hospital para continuar o tratamento em casa no estilo homecare, no dia 2 de julho, que inclui visitação diária de enfermeiros para colher amostras de exames. Porém, seis dias após a alta, a menina apresentou uma reação alérgica e precisou retornar ao hospital. Quatro dias depois, Sofia voltou para casa e continuou o tratamento ao estilo homecare.
No dia 25 de julho, Sofia apresentou novamente uma alergia, dessa vez mais severa, e teve que voltar a ser internada no hospital dos Estados Unidos, onde permanece até então, alterando entre o quarto e a UTI. Vários exames estão sendo realizados para tentar descobrir a causa da alergia, que ainda é desconhecida pelos médicos.
Entenda o caso
Devido à complexidade da síndrome de Berdon, os médicos estimaram, no dia do nascimento de Sofia, que ela não passaria de um ano de vida. Porém, a menina contrariou as expectativas da medicina e comemorou seu primeiro aniversário no dia 24 de dezembro de 2014.
Desde que nasceu, no hospital da Universidade de Campinas (Unicamp), no interior de São Paulo, Sofia nunca esteve na casa dos pais, que moram em Votorantim (SP). Ela passou pelo Hospital Samaritano, em Sorocaba (SP) e pelo Hospital das Clínicas de São Paulo.
Neste período, passou por três cirurgias, mas ainda necessitava de atendimento especializado para a síndrome rara e para o transplante multivisceral, que não era realizado no Brasil e tinha custo estimado de R$ 2 milhões.
A mãe começou então uma campanha na internet, chamada “Ajude a Sofia”, para arrecar fundos e levar a menina aos EUA. Ao todo, a família arrecadou R$ 1,8 milhão. Mas os pais continuaram brigando na Justiça para que o governo brasileiro pagasse o valor da cirurgia.
Após diversas questões judiciais, o desembargador do Tribunal Regional Federal (TRF) determinou, em julho do ano passado, a transferência da menina para o Jackson Memorial Hospital, em Miami, especializado em transplante multivisceral.
Com relação ao dinheiro arrecadado, a intenção dos pais era de doar para outras crianças que, como a Sofia, precisavam de um tratamento caro. Mas quando a família chegou aos EUA, ficou sabendo que o governo brasileiro pagou apenas a cirurgia, um pacote de homecare e alguns medicamentos. "A partir daí passamos a precisar utilizar o dinheiro da campanha para as demais despesas do tratamento. A conta é monitorada pela Justiça”, afirma Patrícia.
Fonte: G1