São três meses e meio longe de casa. Uma escolha dura mas necessária: se alguém te perguntar quem são as pessoas mais importantes na sua vida, se você tiver filhos, dirá: meus filhos! Esse equilíbrio entre família-profissão é um dos mais desafiadores, apesar de não termos dúvida da resposta.
A oportunidade veio e junto com ela uma pergunta dolorida: você superprotege seus filhos? De acordo o psicólogo com Renato Molina, existe um limiar na criação dos filhos e se ultrapassamos esse limiar infantilizamos e incapacitamos nossos filhos. Eu comecei a cruzar esse limiar. Sempre repeti e volto a repetir: nossos filhos são nossos maiores presentes e professores, filho só escuta quem você é e não o que você diz. Consequentemente, por amor, veio a pergunta: o que preciso desenvolver em MIM pra ser uma mãe melhor? Confiar em si mesma e se perdoar, confiar nas escolhas que fiz como mãe e se perdoar pelas que não consegui fazer.
Mas falar sempre foi mas fácil que fazer e uma das nossas tarefas é aproximar o pensar do sentir e do querer, por isso a experiência nasceu, estou em um centro budista aprendendo a meditar; para confiar em mim mesma, preciso me observar e, para me observar, parar é o primeiro passo.
Um dos primeiros exercícios foi o de 10 dias de desintoxicação, acompanhado de uma terapeuta Ayurveda, comer somente um tipo de feijão chamado “Moong beans” e no meio do caminho um dia de jejum total. No primeiro dia uma dor de cabeça infernal, uma das dicas preciosas da terapeuta foi: antes de começar, estabeleça o propósito e dedique todo este esforço a alguém. Foram dias duros acompanhados de choro, brigas, choro novamente e superação.
Este centro budista é no coração da cidade de Leicester (Inglaterra), ao lado da catedral, e com um café movimentado que dá todo o apoio à prática, porque meditar lavando banheiros, louça, limpando chão, servindo café, é uma das propostas deste caminho Budista, meditar DENTRO da vida.
Então imaginem o exercício que foi passar pela desintoxicação. Mas passou e os presentes vieram, um dos maiores foi o banho com óleo – como o feijão resseca a pele, é preciso uma massagem com óleo antes de dormir; espalhamos óleo pelo corpo todo massageando cada parte do corpo lentamente. Durante o primeiro banho massageando e olhando meu corpo me emocionei profundamente ao enxergar pela PRIMEIRA vez um corpo perfeito, pés que me carregaram até aqui, pernas que me sustentam, surgiu um calor no coração, um amor por este corpo, claro que chorei. Nunca havia dedicado tanto tempo me olhando e me “carinhando”.
Outro presente veio durante uma das crises de choro, sentei na cadeira e comecei a desfiar o rosário das lamentações internas e de repente eu vi, EU VI minha mente pensando, imediatamente interrompi o processo e disse a mim mesma: É SÓ O MEU HÁBITO DE PENSAR, o choro parou e coração sossegou. Esse é um dos maiores presentes da meditação, ser capaz de SE OBSERVAR e se libertar. Comece hoje, sente-se de forma confortável e somente observe sua respiração, nada mais, sem criticar, perceba se ela é lenta, curta ou irregular etc., em alguns minutos o corpo responde e começa a relaxar, 5 minutos por dia. Essa é proposta desta coluna, VIDA INTERIOR, trazer reflexões, exercícios e insights pra juntos, “… irmos mais longe”. Namastê!