Opinião

NINGUÉM É IGUAL A NINGUÉM

Ontem eu e Joãozinho fomos à Arena Pantanal. Chegamos meia hora antes do jogo, estacionamos a 50 metros da entrada sem precisar pagar estacionamento, comemos um espetinho, Joãozinho alugou uma bike com rodas de mini bug, brincamos com muito sentimento de segurança. Mesmo que um fato me chamara a atenção: havia quatro viaturas de polícia rondando a entrada do estádio. Centenas e centenas de pessoas caminhando, correndo, andando de skate, ou simplesmente vivendo. Entramos no estádio sem filas, sem maiores problemas, levei Joãozinho ao banheiro, tudo muito limpo. Únicas coisas ruins foram o jogo (Luverdensse x Vitória) de péssima qualidade técnica, que nem de longe representa o palco, e a notícia arrebatadora que atribulou minha noite e sobretudo meus pensamentos. Joãozinho entre gritos de Vi-tó-riaaaaaaaa e Negoooooo (sim, Joãozinho pediu pra ir na torcida do Vitória), soltou a maior bomba da noite.

– Papai, quero te contar uma coisa há décadas.

– Pode dizer, meu filho.

– Mas pai, vai te deixar muito triste.

– Não existe essa história de ficar triste. Você sempre pode contar tudo pro seu pai. Tudo mesmo.

– Pai… O Inter não é meu time preferido, não é o número 1.

Minuto de silêncio. Pergunto com a voz embargada:

– E qual é o seu time então Joãozinho?

– Mixto.

Temos que respeitar. Afinal cada um torce para um time, cada tem um jeito, cada um tem um gosto. Filho a gente cria pro mundo. Filho a gente cria para ser melhor que a gente. Filho é a dádiva mais divina que Deus fez. A gente perdoa tudo. Ou quase.

– Joãozinho, beleza. Só não pode torcer pro Grêmio. E outra: vou dar todas as suas camisas do Inter para sua irmãzinha.

Fui ao âmago dele. Irmão mais velho sempre tem ciúmes dos mais novos. Em menos de dez segundos mudou de ideia. Queria ser Inter de novo, e com lágrimas nos olhos pediu pra voltar a ser Inter, e que eu não desse as camisas do Inter pra ninguém. Me senti um crápula. O pior pai do mundo. Num momento de confiança, fui egoísta e pensei apenas em mim. Na saída do estádio, depois de ver a vitória do Vitória, encontro um vendedor de camisetas:

– Amigo, tem camisa do Mixto?

– Mixto? Tem sim senhor.

– Vê duas pra mim: uma PP pra ele e uma GG pra mim.

Vestimos a camiseta e saímos abraçados cantando Mixxxtoooooo!!!!!!! Mixxxtoooooo!!!!! Em direção ao carro.
 

João Manteufel Jr.

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Mais conhecido como João Gordo, ele é um dos publicitários mais premiados de Cuiabá e escreve semanalmente a coluna Caldo Cultural no Circuito Mato Grosso.

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