A iniciativa do chamado FF alimenta discussões nas redes sociais no momento em que o Congresso chileno debate mudanças em uma lei antifumo em vigor desde 2013. As mudanças podem ampliar o número de locais onde é proibido fumar: de lugares fechados, como é hoje, para todas as áreas ao ar livre, como praias e praças.
Nesses locais, só seria permitido fumar caso passem a existir espaços "demarcados" para os fumantes, explicam assessores do senador Guido Girardi, um dos autores da medida.
"Não serão fumódromos, mas áreas demarcadas que indiquem onde a pessoa pode fumar. Queremos proteger as crianças do fumo. E não queremos que tenham o mau exemplo dos que fumam", disse um assessor de imprensa do senador.
As alterações foram aprovadas na semana passada no Senado chileno e agora dependem de ratificação dos deputados para entrar em vigor.
No mundo, o tabagismo mata cerca de 6 milhões de pessoas ao ano e é a principal causa de mortes evitáveis, segundo a Organização Mundial da Saúde. No Brasil, estimativas oficiais apontavam queda no número de fumantes (10,8% da população em 2014, contra 15,6% em 2006), mas os cigarros ainda são apontados como responsáveis por 200 mil mortes por ano no país.
No Chile, assessores dos parlamentares que defendem o maior rigor contra os fumantes disseram que, segundo dados do Ministério da Saúde, são registradas anualmente cerca de 16 mil mortes vinculadas ao fumo – "dez vezes mais que as mortes por acidentes de trânsito no país".
Críticas
Nas redes sociais, as restrições ganharam defensores, mas também críticas por parte de apoiadores dos Fumantes Furiosos, que defenderam, via Twitter, que "os políticos deveriam preocupar-se com outras questões, como crianças doentes e sem tratamentos" e deixá-los em paz.
A porta-voz do movimento pró-fumantes, Carolina Yáñez, pede mais liberdade aos fumantes
De Santiago, ela contou que a ideia de criar o FF surgiu numa conversa com um amigo enquanto fumavam em uma varanda, "morrendo de frio", porque eram impedidos de acender o cigarro em locais fechados.
Logo depois, eles conversaram com outros amigos, fumantes e não fumantes que defendem a "convivência básica" entre cidadãos.
"Eu fumo há dez anos, desde os 19 anos, e é o que me dá prazer. E limitar estes espaços (para fumantes) seria um atentado à liberdade, porque o Chile é um país democrático e no futuro poderia ser (um território) privilegiado somente para alguns", disse Carolina por e-mail à BBC Brasil.
O grupo criou uma campanha chamada #bastadehumofobia (chega de "fumaça-fobia"), alegando que os fumantes sofrem preconceito.
Questionada sobre as críticas dos não fumantes, ela chamou seus argumentos de majoritariamente "vazios", como o de que "os fumantes jogam fumaça na nossa cara".
Lugares abertos
Ela disse que os Fumantes Furiosos querem o direito de fumar principalmente em lugares abertos. "Chega de sacrificar as liberdades individuais com o discurso paternalista", argumentou.
A porta-voz do FF disse ainda à imprensa local que duvida que exista fiscalização suficiente para aplicar a lei nas praias do país, por exemplo.
Na mesma linha crítica contra a medida, o porta-voz do grupo "Quiero elejir" (Quero escolher), Diego Verdugo, disse que fumantes "são adultos e querem a liberdade de escolha", e por isso são contrários à proibição de fumar nas praias e praças, segundo informou o jornal La Tercera, de Santiago. Ele afirmou que respalda este direito, "sem desrespeitar os que não fumam".
As mudanças aprovadas no Senado chileno incluem a proibição de fumar no carro, se houver uma criança no veículo.
Entre as propostas de mudanças na lei atual, que não foram aprovadas no Senado, está a que sugeria impedir que adultos fumem andando nas ruas perto de crianças.
Fonte: BBC BRASIL