Ele tinha um gerente que o tratava mal e, toda vez que queria tirar uma dúvida com algum colega mais experiente, ouvia que não poderiam ajudá-lo ou não sabiam a resposta.
Guler não sabe o que deu início a esse comportamento: talvez os companheiros estivessem preocupados em manter seus próprios empregos ou com medo de serem ofuscados por ele. Mas, certamente, havia muita gente insegura trabalhando naquela empresa, e por isso ele deixou o cargo na primeira oportunidade.
"Não sei lidar com colegas que sofrem de complexo de inferioridade", explicou Guler, em entrevista à BBC Capital.
Mas será que pedir demissão é a única saída quando a insegurança dos outros funcionários está fazendo da sua vida profissional um inferno?
Mais comum do que se pensa
Um bom começo é tentar entender se seus colegas não têm autoconfiança ou se são simplesmente tímidos.
Uma pessoa introvertida normalmente atravessa a jornada de trabalho sem ser notada, enquanto alguém mais inseguro constantemente procura atrair atenção e aprovação.
Às vezes, a insegurança pode estar diretamente ligada à área de atuação e ao tipo de personalidade que ela atrai. Alguns setores cultivam funcionários mais apreensivos do que outros, principalmente em posições em que há mais subjetividade na avaliação de desempenho.
"Se um programador pode criar um software que comprovadamente funciona bem, ele terá menos chances de ser inseguro do que um escritor ou um artista, cujo trabalho é avaliado segundo preferências pessoais ou coletivas", exemplifica Ben Dattner, consultor de executivos e sócio da Dattner Consulting, de Nova York.
Apreciação e apoio
A pior coisa que você pode fazer é deixar colegas inseguros ainda mais apreensivos, segundo o consultor.
"Isso acaba exacerbando a ansiedade deles e induzindo a um comportamento contraproducente", diz. "Em vez disso, tente transmitir um apreço genuinamente positivo, começando por dar a eles o benefício da dúvida."
Elogie esses colegas quando puder. "As pessoas com pouca autoconfiança precisam de apoio e reconhecimento", aconselha a consultora de carreiras e escritora Charlotte Hagard, que trabalha em Estocolmo, na Suécia.
Para Teresa Amabile, professora da Harvard Business School e autora do livro O Princípio do Progresso, uma das melhores maneiras de incentivá-los é oferecer-se para ajudar na área em que você tem mais conhecimentos, e depois pedir o apoio deles para algo que eles dominam a fundo.
"Solicitar essa ajuda demonstra que é aceitável admitir imperfeições e aumenta a percepção que eles têm de sua própria competência", afirma a especialista. "Ajudá-los quando eles precisam, de uma maneira não condescendente, pode fazê-lo melhorar suas habilidades, além de ajudar a criar um ambiente de maior colaboração."
Lembre-se de reconhecer qualquer trabalho bem executado. "O reconhecimento pode ser privado ou público, e não precisa ser elaborado", diz Amabile. "Simplesmente mencionar sua apreciação pela contribuição deles pode fazer milagres."
Paciência e respeito
Por mais tentador que seja simplesmente ignorar a presença daquela pessoa, é quase sempre mais compensador tentar se reconectar com ela para atingir objetivos a longo prazo, segundo Dattner.
"Cultivar a paciência com os colegas é uma habilidade muito útil, pois é inevitável que, em determinado momento, até mesmo os companheiros mais seguros, confiantes e competentes vão acabar decepcionando você", diz o especialista.
Para Gabriel Garcia, fundador e gerente de produto da MailTrack.io, de Barcelona, na Espanha, mandar um e-mail para toda a equipe no fim do expediente, diariamente, ajudou a fazer com que cada funcionário se sentisse mais responsável e valorizado.
No início, era uma maneira de pessoas em um departamento saberem o que estava acontecendo em outro. Mas logo Garcia percebeu que as mensagens serviam a outro propósito. "Essa rotina ajudou os empregados a entender todos os passos e todo o trabalho por trás de planos e características que pareciam mais simples vistas de fora", afirma o executivo. "Quando as pessoas entendem você, elas se colocam no seu lugar, e isso melhora a comunicação e o feedback."
Lembre-se ainda de que você não precisa estar sozinho se precisar resolver questões como essas.
"O problema com colegas inseguros é realmente um problema de gerenciamento, não seu problema", afirma Hagard. "Se seu gerente permite que uma pessoa seja desrespeitosa ou mal-educada com outra, é um aspecto com que o gerente tem que lidar. São os líderes que estabelecem a cultura corporativa."
Fonte: BBC BRASIL