Dois ouros no conjunto e um bronze no individual ainda eram pouco para as pretensões do Brasil na ginástica rítmica nos Jogos Pan-Americanos. Nesta segunda-feira, 20, as meninas brasileiras fizeram o último dia de competições no Toronto Coliseum e, novamente, Angélica Kvieczynski saiu com o terceiro lugar no pódio. Essa foi a 100ª medalha do Brasil nessa edição do Pan. Desta vez, foi na decisão da fita. Favorito, o conjunto do Brasil, que tinha ficado duas vezes no topo do pódio (geral e fitas), cometeu uma falha no finzinho da performance mista entre arcos e maças, e o terceiro ouro não chegou. Mas elas encantaram da mesma forma e levaram a prata. Os EUA venceram nessa prova.
Após a decisão individual da fita, Angélica, a melhor da ginástica do país na atualidade se despede do Canadá com dois pódios. E, para isso, ela precisou superar Patricia Bezzoubenko, que contava com o apoio dos locais. A canadense não gostou e protestou contra sua nota 15.250. Os jurados revisaram. Angélica sentiu "50 tipos de desespero", mas só mudou 0.050, e a medalha de bronze ficou mesmo para o Brasil.
– Nossa, fiquei desesperada, me bateram uns 50 tipos de desespero ali, achei que iam me prejudicar de novo no recurso. Quando vi, falei: "Pronto, vão tirar minha medalha de novo". Fiquei bem preocupada, mas entrei na série de fita com muita raiva, com sangue nos olhos, olhei no olho de cada árbitra e acho que isso fez um diferencial bem grande. Entrei para cravar a série, realmente fiquei decepcionada no dia do geral quando baixaram minha nota e perdi a medalha por isso, mas hoje meu objetivo foi cumprido – disse Angélica, lembrando que, no primeiro dia, pediu revisão de sua nota, foi descontada e acabou terminando o individual geral em quarto. Ficaria em terceiro se a pontuação tivesse sido mantida.
Graciosa, americana Laura Zeng, de 15 anos, foi a primeira colocada na fita e na maça, chegando a cinco ouros e confirmando seu domínio na competição. Além do Pan, há o Mundial no fim de agosto, em Stuttgart, na Alemanha, onde a missão do Brasil é terminar pelo menos entre as 10 primeiras. Depois, o foco das meninas comandadas pela ex-ginasta Camila Ferezin é total nas Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro. O time já tem a vaga por ser país-sede, mas não terá vida fácil diante de potências da modalidade.
As meninas do conjunto brasileiro já tinham o ouro no geral (que garantiu o penta do Pan) e nas fitas. Nesta segunda-feira, entraram para a disputa do primeiro lugar no misto entre maças e arcos. Novamente, apresentaram a bela coreografia com o repertório de canções nacionais ("Mas que Nada", "Tico-Tico no Fubá", "Alegria Olodum" e "Brasileirinho") ao fundo. No finzinho da execução, uma maça ficou solta no chão. Custou o ouro, que foi para os Estados Unidos. As americanas fizeram uma performance sem erros (14.983). Mas a prata ainda era do Brasil (14.692). O Canadá terminou em terceiro, com 13.709, e foi festejado no Toronto Coliseum.
Angélica começou com um movimento bem difícil, atirando a fita com o pé para cima e capturando de forma certeira. Abusando de movimentos sensuais e sempre com o "carão", mencionado por ela própria no Pan, fez uma linda apresentação e finalizou com um longo arremesso e três cambalhotas antes da pegada, conquistando o público presente. Levou 15.633 dos jurados. Foi o suficiente para levar o bronze, batendo a canadense Patricia Bezzoubenko, com 15.300 (após ganhar 15.250 e protestar aos jurados). Os locais lamentaram nas arquibancadas. Essa foi a 100ª medalha brasileira no Pan.
Na sequência, a americana Laura Zeng elevou ainda mais o nível. Até cometeu uma pequena falha no fim, mas foi graciosa como sempre e saiu ovacionada, indo direto para o primeiro lugar e passando da compatriota Jasmine Kerber. Natália Gaudio, a outra brasileira na prova, fez 13.517.
A rotina de Angélica, principal nome da ginástica rítmica do Brasil, agradou. Usando um repertório variado, com direito a vanerão (dança típica do Rio Grande do Sul) e passos de samba, ela foi aplaudida, mas sua performance ainda estava um pouco abaixo das americanas, da canadense e da mexicana, e lhe valeu apenas o quinto lugar, com 15.267 na final individual da maça. Natália Gaudio se apresentou na sequência. Foi apenas a oitava, com 13.633. O ouro foi, de novo, para Laura Zeng, com 16.167, e a prata, para Patricia Bezzoubenko, com 15.933.
Entenda a ginástica rítmica
O site oficial do Pan de Toronto descreve a ginástica rítmica como "uma combinação de arte e esporte, e um dos dois esportes em que só mulheres competem nos Jogos". O outro é o nado sincronizado. As competidoras fazem rotinas curtas acompanhadas por música em uma área de 13m x 13m. Durante as apresentações, os aparelhos precisam estar em constante ação. Ou seja, é preciso haver interação entre os quatro aparelhos (maças, fitas, arco e bola) e a atleta.
Na sexta, pela disputa do individual geral, cada competidora se apresentou duas vezes, uma com o arco e outra com a bola. No sábado, 18, completando os aparelhos, primeiro maças, depois, fitas. As notas de todas as apresentações juntas fizeram um somatório que definiu a classificação final. Logo em seguida, foi a decisão da apresentação por equipes. Nesse caso, foram dois aparelhos: fitas e combinado de dois arcos e seis maças. Cada um foi apresentado em um dia, sexta e sábado e, da mesma forma, as notas foram somadas para definir o pódio.
O domingo e a segunda-feira são dedicados às decisões por aparelhos. No domingo, aconteceram as finais individuais do arco e da bola e, por grupo, na fita. Na segunda, ocorreram as decisões por atleta na maça e fita, e por conjunto, no combinado entre maças e arcos.
Fonte: G1