Duas histórias que esperaram mais de 20 anos até chegarem ao final feliz. Uma aconteceu na Colômbia. Numa casa, moram dois irmãos gêmeos não-idênticos. Em outra, outros dois gêmeos não-idênticos. Mas quando os quatro se viram pela primeira vez, formaram dois pares de gêmeos idênticos. Iguaizinhos! Um a cara do outro! Como é que pode?
A outra história, você conheceu no Fantástico, no Dia das Mães.
Na primeira vez em que Eni, Juliana, Deize e Joyce se encontraram, bastou uma troca de olhares entre as quatro e um erro cometido 28 anos atrás começou a ser revelado.
Joyce nasceu em um hospital em Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, e de lá foi para a casa da dona Deize.
Os pais se separaram quando ela tinha 2 anos, e Joyce foi criada pela madrasta. “Eu era a gata borralheira da casa. Não foi fácil”, conta Joyce.
Na mesma noite e na mesma maternidade também nasceu Juliana. Ela foi levada pela dona Eni, que sempre desconfiou das diferenças físicas entre as duas.
Um primeiro exame de DNA confirmou: Juliana não era filha biológica da Eni. Ela cismou de descobrir onde estava a filha trocada na maternidade. Soube que só mais uma menina havia nascido na mesma madrugada, naquele hospital: “Ela foi registrada como Joyce Cardoso da Silva”, conta o delegado de polícia.
“Quando eu vi, eu achei que era uma foto minha, mais antiga”, lembra a dona de casa Eni de Oliveira.
Encontrou Joyce e a família dela. Na última quinta-feira (16), a Joyce esperava a notícia que ela mais queria ouvir. “Estou muito ansiosa, está batendo um nervoso que a gente está aguardando desde o dia que foi feito o exame”, diz Joyce Cardoso, auxiliar de serviços gerais.
Em quatro envelopes estão os resultados dos exames de DNA que vão dizer se ela é filha da Dona Eni ou da Dona Deize.
Você acha que a vida dessas mulheres daria uma boa novela?
História incrível de gêmeos colombianos
Então leia essa outra: Semana passada, o jornal ‘The New York Times’ contou a incrível história do colombiano Jorge e seus irmãos.
Jorge é estudante de engenharia mecânica em Bogotá. Ele tem um irmão gêmeo, Carlos. Jorge e Carlos não são idênticos. São bivitelinos, ou seja, nasceram de dois óvulos. Bom, era nisso que a família de Jorge acreditava até junho de 2013.
Quando Laura, amiga de Jorge, entrou em um açougue, uma verdade desconhecida durante 25 anos começou a vir à tona. O açougueiro era tão parecido com Jorge, mas tão parecido, que Laura chegou a pensar que fosse mesmo o amigo.
"Dei tchau para ele, mas ele ficou me olhando esquisito", conta Laura.
O açougueiro disse que ela estava se confundindo, que não se chamava Jorge. Que seu nome era William. A Laura foi embora. Quando reencontrou Jorge, brincou com ele.
"‘Você tem um irmão gêmeo por aí, sabia?’ E ele respondeu: ‘eu tenho um irmão gêmeo, sim, mas não é parecido comigo’. Aí eu saquei que tinha alguma coisa estranha acontecendo", conta Laura.
Laura foi fundo. Conseguiu uma foto do açougueiro William e mostrou para Jorge. "Eu vi e falei 'caramba, é igual mesmo'. Fiquei curioso e fui procurar nas redes sociais", diz Jorge.
Na internet, a surpresa de Jorge aumentou: William também tinha um irmão gêmeo, chamado Wilber. William e Wilber também não eram idênticos. E mais ainda: Wilber, na verdade, era a cara do irmão gêmeo do Jorge, chamado Carlos.
Resumindo: Jorge, da família 1, é a cara do William, da família 2. E Carlos, da família 1, é igualzinho ao Wilber, da família 2. Alguém foi trocado na maternidade. Só que um detalhezinho afastava a história de um final assim tão simples.
"Ele nasceu em uma cidade e eu em outra. Será que meu pai andou fazendo filhos por aí?", pensou Jorge.
O perfil de William, na rede social, dizia que ele nasceu em Velez Santander, uma cidade pequena a 200 quilômetros de Bogotá, onde ele mora hoje. Jorge, então, marcou um encontro com William em uma praça, na capital colombiana. Estava nervoso, ansioso. Levou um amigo, que gravou tudo.
Jorge saiu desse encontro, direto para casa, para ligar para o irmão Carlos.
“Perguntei para ele: ‘você acredita em novelas?’”, lembra Jorge.
“E ele me mostrou no computador a foto do William", conta Carlos.
Carlos riu. Mas achou graça só até conhecer Wilber, o irmão do William. Estava na hora de reunir os quatro.
O encontro que mudou a vida deles foi no dia seguinte, na casa do Carlos. Um vídeo registrou o momento em que Jorge, Carlos, William e Wilber se viram juntos pela primeira vez.
“E quando entrou o irmão do William, o Wilber. A gente não parava de rir de nervoso", conta Carlos.
Três dias depois, os quatro foram para o laboratório fazer exames de DNA.
"São idênticos", disse a médica.
O resultado já estava na cara: o verdadeiro irmão gêmeo do estudante Jorge é o açougueiro William. E o verdadeiro irmão gêmeo de Carlos é Wilber.
Mas ainda falta responder: como essa troca aconteceu, se as duplas teriam nascido em cidades diferentes? Os pais de Jorge já morreram. “Minha mãe morreu de câncer no estômago há seis anos”, diz Jorge.
Só os pais de William talvez pudessem ajudar a desvendar o mistério. Carmelo e Ana vivem em uma área rural ao norte de Bogotá. Dona Ana conta que, depois do parto, um dos bebês, Wilber, nunca saiu do lado dela. “Mas o outro bebê teve que ir para a encubadora, porque aqui não tínhamos estrutura", lembra.
Foi em dezembro de 1988. Como eles moravam em uma área muito pobre, o bebê foi levado até uma maternidade em Bogotá. Justamente onde nasceram Jorge e o irmão gêmeo dele, no dia 21 de dezembro de 1988.
Uma enfermeira que trabalha na maternidade desde aquela época, explica como os recém-nascidos eram cuidados. “Os bebês ficavam na mesma incubadora. E como as pulseirinhas de identificação eram de esparadrapo e acabavam caindo, na hora de botar de volta podem ter sido trocadas”, disse a enfermeira.
O menino nascido em Santander ficou no mesmo berçário dos meninos nascidos em Bogotá. Na hora de voltar para casa, ele foi deixado no hospital, por engano. Era Carlos.
Quem voltou para o lugar de Carlos, em Santander, foi um dos meninos nascidos em Bogotá. Era William. As famílias não perceberam.
Carlos, o menino que ficou por engano, em Bogotá, vai conhecer os pais biológicos.
Carlos consola a mãe que acaba de conhecer. “Não chora, porque isso foi coisa de Deus", diz Carlos.
Quando Jorge e William entram juntos. Dona Ana reage de um jeito bem maternal. “Esse aqui está mais gordinho, né?", diz a dona Ana.
Duas semanas depois, os quatro irmãos viajaram juntos até a cidade onde essa história toda começou: Vélez Santander.
Os outros filhos de Carmelo e Ana ainda moram lá. "Carlos, esses são os meus irmãos. Na verdade são seus, mas são meus também", diz William.
Para o açougueiro William, ficou difícil pensar no tempo perdido. “Queria ter conhecido os pais dele, que são os meus pais verdadeiros, mas isso nunca vai acontecer", diz William.
Mas a hora era de olhar para frente. Com novos parentes, mas também com tudo que já foi vivido até agora. Foi isso que um dos irmãos que William tem em Santander garantiu, na hora da despedida. "William, nunca pense que nós vamos deixar de ser sua família também”, diz um dos irmãos de William.
Resultado do DNA das irmãs brasileiras
Um final comovente na Colômbia. Um final feliz no Brasil.
Juliana não pôde vir de Minas Gerais, onde mora. Mas as outras três mulheres da história estão na sala de espera do laboratório. A Joyce e a Eni foram chamadas para abrir os envelopes com o resultado dos exames de DNA.
“Podemos afirmar que Eni de Oliveira é a mãe biológica de Joyce Cardoso”, anuncia o médico Mauro Terra.
“Quando houve a primeira troca de olhar, minha para a minha mãe, eu tive certeza antes mesmo do DNA estar pronto, está aqui, agora, nas nossas mãos com a certeza, com a prova de que é minha mãe, eu tive certeza desde o primeiro instante”, diz Joyce.
Para Dona Deize, outra boa notícia. “Nós confirmamos através dos exames de DNA que a senhora é a mãe biológica da Juliana”, diz o médico Mauro Terra.
E Joyce, que sempre buscou o amor de mãe, agora tem duas. “Eu não tive uma história feliz durante a minha infância, mas agora eu estou tendo um final feliz”, diz Joyce.
Fonte: G1