A chegada do inverno no Brasil e principalmente em Mato Grosso, um dos estados mais quentes do país, traz junto a si doenças respiratórias relacionadas a baixa umidade do ar. O Circuito Mato Grosso entrevistou a pneumologista e presidente da Sociedade de Pneumologia de Mato Grosso, Ayrdes Pivetta, para sabermos como evitar, amenizar os sintomas e diferenciar gripes de resfriados recorrentes aos meses de junho e agosto.
A pneumologista ainda explica como se dá o processo de formação das doenças respiratórias e alerta que nesse périodo do ano é importante a ingestão de mais água e a pôr bacias de água para umidificar o ambiente para que melhore a qualidade do ar que respiramos.
Veja entrevista completa abaixo.
Circuito Mato Grosso: Doutora, como e por que aumentam tantos os casos de doenças respiratórias nessa época do ano?
Ayrdes Pivetta: Nesses meses de inverno, em função do clima, nós temos uma qualidade do ar que fica prejudicada. Sem as chuvas, a umidade do ar cai bastante, assim se torna inadequado para um ar respirável. A Organização Mundial da Saúde considera a umidade relativa do ar ideal para se respirar em torno de 60%. E nosso estado às vezes chega a 30%.
Ainda, neste período, aumenta muito a massa particulada em suspensão, que nós respiramos. Para termos uma ideia de como ela é prejudicial, é só olharmos a sujeira que se acumula no capô do carro de um dia para o outro. Esse material particulado, além dá poeira em si, tem matérias tanto orgânicas quanto inorgânicas. Os inorgânicos são os gases tóxicos, produzidos por veículos, fábricas, queimadas urbanas, dióxido de enxofre, dependendo do horário do dia há muito ozônio. Os orgânicos como vírus, fungos, bactérias.
CMT: Como se dá o processo e quais são as principais doenças?
A.P.: Como o clima está todo inadequado, ele agride a mucosa nasal, que a primeira porta do ar respirável. Então, geral um processo inflamatório, e ai descama o epitélio da mucosa. É percebido também pela nossa pele e cutículas das unhas, que se tornam mais ressecadas. O processo inflamatório faz com que colonize mais microorganismos.
E quando gera a inflamação do nariz, aumenta a produção do muco, e descama toda a epiteli. Tanto é que, muitas vezes, nós temos sangramento nasal. E as bactérias começam a encontrar uma situação mais adequada e proliferam. O mais comum são as viroses, e podem favores a complicação bacteriana que podem acontecer desde sinusite, rinite, bronquite e até a pneumonia – que são os casos mais graves e demandam uma atenção no diagnostico para um tratamento correto e sem retardamento, pois pneumonia mata.
A pneumonia é a infecção do pulmão, que é o órgão principal do nosso corpo, por dois motivos: é ele que manda para dentro do nosso organismo o oxigênio que é o gás da vida. E segundo por que ele estabelece o maior contato do corpo com o meio ambiente, até mais que a pele. Pois se abrirmos um pulmão, ele é capaz de cobrir uma quadra de tênis, com uma superfície de contato ampla. Então, quando respiramos uma qualidade de ar prejudicada, e toda essa oscilação de tempo que temos no inverno mato-grossense torna esse ar frio e seco mais irritante para a mucosa.
C.M.T.: Qual a reação do nosso corpo a falta de umidade?
A.P.: O pulmão é um órgão nobre. Ele produz um muco, que a cada 24h encheria um copo americano, esse muco reveste por dentro toda árvore traqueobronquia, então toda as partículas que vem com o ar são “coladas” no muco. Nós temos o epitélio, que são um espécie de pelinhos que funcionam numa espécie de esteira rolante, que limpa o pulmão e leva para a secreção para traquea e nós engolimos sem precisar lançar mão da tosse. E junto a esse muco, tem as células de defesa, que é suplantada pelos mecanismos de defesa, e vem as infecções.
C.M.T: Quem são as pessoas mais atingidas?
A.P.: São pessoas que possuem diabetes, reumáticos, usuários de corticoide, crianças e idosos, alérgicos e fumantes. Esses tem a imunidade um pouco mais comprometidas e são mais suscetíveis às infecções.
C.M.T: Como sei quando é só uma virose e quando é algo mais grave?
A.P.: As viroses são doenças auto limitadas, a duração delas tem média de cinco a sete dias. A febre durante dois dias deve sumir, a tose com secreção amarela e esverdeada, podendo escarrar sangue, falta de ar… perda de apetite, falta de vontade de fazer coisas habituais, esses já são sinais de alerta que não é só uma virose.
C.M.T.: Quando a auto medicação se torna necessária e quando ela não é indicada?
A.P.: Neste período, o indicado é tomar medicação sintomática, ou seja, as que aliviam os sintomas como febre e dor muscular: analgésicos e antitérmicos. É preciso evitar os antinflamatórios. Os antiflamatórios são medicamentos que mascaram o processo de infecção, e a pessoa pode evoluir para uma pneumonia, e mascarar a doença, e pode trazer complicações.
C.M.T: E as vacinas?
A.P.: As vacinas antinfluensa preconizam os grupos de riscos. Isso melhora a imunidade. Mas é necessário toma-las antes do período crítico, abril e março.
C.M.T.: O que devemos evitar e o que deve ser feito para melhorar a nossa qualidade de vida?
A.P.: Atividades físicas intensas em locais aberto quando o sol está muito quente e tem mais ozônio, devem ser evitadas. Aumentar a ingestão de água para mais 2l por dia, usar umidificador no quarto, que é onde passamos a maior parte do tempo, e nos outros ambientes, aconselho colocar uma bacia de boca larga. Agasalhar adequadamente quando a temperatura cai, principalmente os idosos, para evitar o resfriamento corporal, o “choque térmico”.
Hidratar a mucosa do nariz, com soro fisiológico 0,9% e há ainda a água do mar esterilizada, mas desde que não haja vasoconstritor dentro da solução.