Ao cabo de 17 horas de negociação que vararam a noite, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, afirmou que "em princípio" foram fechadas as bases para "continuar o apoio" ao país.
Na sexta-feira, o governo do primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, já havia capitulado e aceitado aumentos de impostos, cortes em fundos de aposentadorias e reforma econômica.
Para o analista econômico da BBC, Robert Peston, a mudança de rumo do líder de esquerda grego, eleito para resistir às pressões por mais austeridade, se deve ao medo de a Grécia ser excluída temporariamente do euro.
"Isso aterrorizou Tsipras de tal forma que desde então ele se permitiu participar de negociações que roubariam da Grécia qualquer soberania econômica significativa", diz Peston.
O pacote de emergência, que deve ser encaminhado ao Parlamento grego na quarta-feira, prevê desde reforma fiscal, reestruturação e até privatização de empresas – justamente o tipo de medidas de austeridade que os eleitores gregos refutaram nas urnas.
'Estrada longa'
Resta saber se os parlamentares gregos também estarão dispostos a aceitar o pacote, o que abriria caminho para a liberação de cerca de 35 bilhões de euros (R$123 bilhões).
"A estrada será longa e, a julgar pelas negociações desta noite, difícil", afirmou a primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, na manhã de segunda-feira.
A verba evitaria o colapso do sistema bancário grego e um futuro calote de suas dívidas externas.
Bancos na Grécia fecharam as portas há duas semanas, e saques diários em caixas eletrônicos foram limitados a 60 euros.
O chefe da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, disse nesta segunda-feira que não ocorrerá o "Grexit" (saída da Grécia da Zona do Euro).
No entanto, para o novo acordo sair do papel, parlamentos de vários países da Zona do Euro precisam sancionar o documento.
O presidente da França, François Hollande, afirmou que o acordo permitirá que a Europa "preserve a integridade e a solidariedade".
"Também provamos que a Europa é capaz de solucionar uma crise que vem ameaçando a zona do euro há anos."
Líderes europeus estariam confiantes de que o primeiro-ministro Tsipras é capaz de convencer os deputados gregos a aprovar o pacote, diz Robert Peston.
O analista da BBC, que está em Atenas, afirma que na capital grega o sentimento predominante é de fatalismo, de que o país está "arruinado, mais ou menos tanto faz o que aconteça".
"O que faz com que o seu comportamento seja imprevisível", diz Peston.
O especialista diz que o pacote vai, na prática, representar a passagem do controle da economia grega, durante anos, para Berlim, Bruxelas e para o Fundo Monetário Internacional (FMI), em Washington.
Monitores do FMI seriam postados em Atenas para evitar recaídas do governo, segundo Peston.
Ele afirma também que os lucros de privatizações serão depositados em uma conta de garantia em Luxemburgo.
"Também é perfeitamente plausível argumentar que Tsipras e seus colegas é que provocaram tudo isso por sua incompetência, principalmente nas negociações com os países da Zona do Euro desde que foram eleitos na virada do ano."
Para Peston, a questão agora é saber que consequências terá a atual percepção de que líderes europeus e, em especial, a Alemanha, puseram responsabilidade fiscal e honra de dívidas acima de preocupações humanitárias com o sofrimento dos gregos.
"A crise da Zona do Euro começou na Grécia em 2010. Ela ameaça descambar para uma crise existencial para toda a União Europeia", afirma o analista da BBC.
Fonte: iG