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Nº de empregados na indústria automotiva é o menor desde 2012

O número de empregados na indústria automotiva em junho deste ano foi o menor em um mês desde janeiro de 2012, segundo dados da associação das montadoras, a Anfavea.

No mês passado havia 136.929 trabalhadores em montadoras, uma queda de 9,6% em relação a junho de 2014. Esse recuo acompanha as baixas nas vendas e na produção de veículos.

Entre 2011 e 2013, o setor aumentou o contingente de empregados, movido por recordes sucessivos nos emplacamentos. Há 2 anos, no entanto, as vendas vêm caindo e as montadoras precisam reduzir a produção. Na última segunda-feira (6), segundo a Anfavea, havia 36.900 funcionários parados. Mas nem a sucessão de folgas, férias coletivas e suspensões temporárias de contratos (lay-off) evitaram cortes desde o ano passado.

Para tentar segurar empregos, o governo lançou, também na última segunda, o plano de proteção ao emprego, que prevê reduzir a jornada de trabalho e, consequentemente, os salários, em empresas em dificuldades financeiras. Os sindicatos têm opiniões divergentes sobre a solução.

No ABC paulista, berço da indústria automobilística, duas montadoras demitiram neste ano: Mercedes-Benz (660 funcionários) e General Motors (150). A Volkswagen chegou a anunciar 800 cortes, mas voltou atrás após greve.

A Mercedes, que fabrica caminhões e ônibus, desligou 160 trabalhadores em janeiro e mais 500 em maio. Cerca de 300 demitidos acamparam em frente à fábrica, em São Bernardo do Campo, durante 26 dias de junho, pedindo a reversão da medida. O G1 esteve no local nos últimos dias do ato (assista ao vídeo acima).

'Esperança' movia acampados
As barracas foram desmontadas depois que uma proposta, negociada entre sindicato e montadora, foi rejeitada pela maioria dos trabalhadores que continuam atuando na Mercedes. A negociação dava estabilidade para todos por 1 ano, mas reduzia a jornada de trabalho em 20% e, os salários, em 10%.
José Erinaldo Rodrigues, de 46 anos, completaria 12 anos na montagem final de caminhões da fabricante alemã. "A esperança é a última que morre. Com uma criança de 1 ano e 7 meses para criar você é capaz de dar a vida. Ficar desempregado nesta hora é desesperador", afirmou.

"Com a forte queda de vendas de veículos comerciais no mercado interno, a empresa teve a necessidade de efetivar o encerramento de 500 contratos de trabalho", informou a assessoria da Mercedes, que ainda vê um "excedente" de cerca de 2 mil trabalhadores na unidade, ou seja, cerca de 20% do total de 10 mil empregados.

Pai e filho em lay-off

Para Wanderley Coelho, que foi colocado em lay-off pela Volkswagen na última segunda-feira (6), este é o pior momento de sua história de 25 anos na fabricante que também tem sede m São Bernardo do Campo. "Tenho 46 anos. Mais da metade da minha vida passei lá dentro. Crise tem todo ano e a gente vence com negociação, mas essa não teve o que fazer", disse.

A família de Coelho, que trabalha na linha de montagem do Gol, foi duplamente afetada, já que seu filho Jôniffer Coelho, de 25 anos, também ficou entre os 2.357 trabalhadores da Volkswagen afastados por 5 meses. Neste período, os dois farão cursos de atualização profissional.

"A gente tem que fazer um curso, mas não escolhemos qual. Eles (a empresa) determinam, não é por nossa vocação. Eu gostaria de mecânica de autos, ou industrial, mas vou fazer um que se chama 'grade geral'. Eu não sei nem o que é”, afirmou Coelho, sobre o curso incluído no lay-off.

"É aquela situação em que está ruim, mas está bom. Se não fosse esse lay-off, seria uma demissão em massa. A gente fica inseguro, não sabemos se voltamos. O sindicato diz que sim, mas um toque de telefone muda o Brasil. A gente fica muito preocupado”, completou.

No início do ano, trabalhadores, sindicato e Volkswagen fecharam acordo para garantia de emprego aos trabalhadores da planta até 2019. O acerto foi feito depois de uma greve que levou a montadora a desistir de 800 demissões na fábrica.
De geração em geração

Ao mesmo tempo em que viu o seu ciclo de 13 anos se encerrar na Mercedes-Benz, José Dijalma de Souza, de 41 anos, teve uma alegria com o filho de 17 anos, que passou nos testes para o ensino técnico e será funcionário da montadora em 22 de julho. Uma história que se repete em muitas famílias da região.

"Queria um dia poder me aposentar na Mercedes. Este era o meu sonho. Mas fiquei muito emocionado quando vi o nome do meu filho na lista final de aprovados. A seleção começou quando eu saí de lay-off. É uma coisa meio louca", disse Souza.

"O objetivo de uma pessoa que trabalha com metalurgia, que começa nas pequenas autopeças, é chegar na montadora que é o patamar máximo. Eu cheguei na montadora e agora estou demitido. Você fica sem rumo", completou.

Demissões em 2015
Quarta maior do mundo em vendas até o ano passado e responsável por 23% do PIB industrial, a indústria automobilística brasileira gera cerca de 1,5 milhão de empregos diretos e indiretos.

Considerando as vagas diretas em montadoras, em junho, havia 136.929 pessoas trabalhando em montadoras, incluindo as de máquinas agrícolas e rodoviárias. São 14.501 empregados a menos do que em junho de 2014, montante que considera demitidos, adesões a Planos de Demissão Voluntária e aposentadorias.

Os cortes também se refletem nas lojas: a Fenabrave, federação dos concessionários, informou que 12 mil empregos foram cortados nas concessionárias no 1º semestre. A previsão para o ano é de 20 mil vagas a menos.

Nas montadoras, além dos 660 cortados na Mercedes-Benz e dos 150 na GM no ABC, outros 140 foram desligados da Ford, em Taubaté (SP), em março.

O Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano teme que outros 400 funcionários da General Motors que estão em lay-off sejam cortados. A entidade se reuniu com a montadora nesta segunda e disse que conseguiu prorrogar a suspensão de 400 contratos, que deveria terminar na próxima sexta (10). Mas não há garantias para os demais 419 que estão na mesma situação.

Além deles, outro grupo, de 620 empregados, está em lay-off até outubro, segundo o sindicato. Em São José dos Campos (SP), a montadora tem outros 798 trabalhadores com contratos suspensos temporariamente.

A fábrica da Mitsubishi em Catalão (GO) enfrenta greve em virtude da possibilidade de 430 demissões, de acordo com o sindicato local. Também houve paralisações na recém-inaugurada fábrica da Chery, em Jacareí (SP), e na fábrica de caminhões Volvo, em Curitiba, onde há lay-off.

Trabalhadores parados
“No dia de hoje estamos com 36.900 funcionários parados, em férias individuais, coletivas, lay-off ou licença remunerada”, disse Luiz Moan, presidente da Anfavea, a associação das montadoras, na última segunda-feira.

No mesmo dia, ele divulgou que a produção de veículos caiu 18,5% no 1º semestre, em relação ao mesmo período do ano passado. As vendas caíram 20,7% de janeiro a junho, como já havia adiantado a Fenabrave.

"O grande receio de perder o emprego é o fator que mais tem influenciado a queda de confiança do consumidor”, analisou Moan. A falta de confiança tem sido citada por ele, nos últimos meses, como motivo da queda nas vendas.

Sem emplacar, não adianta produzir no mesmo ritmo: os estoques nas fábricas e nas lojas, em junho, foram de 47 dias. Ou seja, se todas as fábricas parassem de produzir, as lojas ainda levariam 47 dias para ficar sem carros para vender.

Atualmente, têm férias coletivas ou lay-off as montadoras Volkswagen (2.357 funcionários em São Bernardo do Campo, SP, e 370 em Taubaté, SP), Volvo (407, em Curitiba), MAN (600, em Resende, RJ), GM (1.447 em São Caetano do Sul, SP, e 798 em São José dos Campos, SP) e Nissan (1.100 em Resende).

Além disso, a Ford vai promover "parada técnica" de produção neste mês nas fábricas de São Bernardo do Campo e Taubaté.

Fonte: G1

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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