Jornal Nacional mostra como é frágil a segurança de quem embarca em aeroportos importantes do Brasil. Os repórteres Robinson Cerantula e Bruno Tavares comprovaram que objetos suspeitos continuam sendo levados para dentro dos aviões. E sem nenhuma dificuldade.
Com canos de aço e pedaços de madeira, construímos esses objetos em formato de armas. Os saquinhos de areia viraram falsas bananas de dinamite. Colocamos tudo dentro de uma mala e fomos viajar de avião. A gente queria descobrir se o relato de um policial federal à justiça de São Paulo se repetia em outros aeroportos do país.
Policial: No aeroporto de Congonhas é um absurdo. Então, se a senhora pegar um fuzil ou matar alguém e colocar dentro de uma mala, a senhora despacha e não tem…
Juíza: Uma bomba?
Policial: Uma bomba também, não tem fiscalização nenhuma.
O depoimento foi durante o julgamento de uma mulher presa com 44 quilos de maconha, escondidos na bagagem despachada no aeroporto de Congonhas. A droga só foi descoberta por acaso, porque a mala caiu da esteira e abriu.
Policial: Não tem nem amostragem. Não existe fiscalização.
Há quatro anos, o Fantástico denunciou esse problema. Na época, o repórter Eduardo Faustini despachou uma mala com uma réplica de um fuzil AR-15, um saco de açúcar simulando cocaína e notas de dinheiro cenográfico. A bagagem passou por oito aeroportos.
Dessa vez, a situação se repetiu em três dos mais importantes aeroportos do país: Congonhas, em São Paulo; Santos Dumont: no Rio; e Juscelino Kubitschek, em Brasília.
Antes de embarcar, passamos a mala em um aparelho de raio-X igual aos que são usados nos aeroportos. A imagem mostra claramento os objetos em formato de arma e os três saquinhos logo abaixo.
“O raio-X vai mostrar exatamente este formato e o operador vai tomar a decisão de parar a mala”, diz o fabricante do aparelho de raio X Danilo Soares Dias.
Não foi isso que aconteceu. Na ponte aérea, fomos para o Rio e voltamos para São Paulo sem que o lacre da mala fosse aberto. E, na viagem para Brasília, não foi diferente.
O lacre colocado no aeroporto de Congonhas era o mesmo que chegou em Brasília. Pela numeração, 0241.261, é o mesmo lacre, um sinal claro de que essa bagagem não foi aberta lá em São Paulo e chegou em Brasília. E tem um detalhe importante: o aeroporto da capital federal é um aeroporto internacional, tem voos direto para os Estados Unidos e a Europa.
Uma resolução da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) diz que "as empresas aéreas devem realizar inspeção da bagagem despachada" e que, nos "voos domésticos, a quantidade de bagagem despachada que deve ser inspecionada será determinada pela Anac".
Mostramos a mala para um promotor de justiça que apura a fiscalização de bagagens nos aeroportos. “Muito preocupante. Isso aqui é falso, mas poderia ser verdadeiro. E aí? É preciso esperar acontecer alguma coisa pra tomar uma providência, acho q não, né? Não é crível que você transporte uma mala cheia de produto eventualmente proibido e ninguém tenha conhecimento dessa situação, ninguém fiscalize nada”, afirma Cássio Roberto Conserino.
A Inframérica, que administra o aeroporto de Brasília, declarou que cumpre todos os requisitos de segurança exigidos pela Anac.
Também a Associação Brasileira das Empresas Aéreas declarou que a inspeção segue as normas da Agência.
A Anac declarou que as bagagens despachadas em voos domésticos são obrigatoriamente fiscalizadas, quando o passageiro não embarca ou em casos de alguma suspeita.
Segundo a Infraero, a Anac ainda não determinou a quantidade de bagagens despachadas que deve ser inspecionada nos voos domésticos.
Fonte: G1