Opinião

CARTA DE GARCIA PARA RODRIGUES

Conheci ela numa reunião outrora. Daquelas que começam logo mas terminam tarde. Muitos falavam. Dizem que ela é forte. Percebi ela quieta desde o princípio. Somente observando. Como uma serpente que hipnotiza a presa, não consigo desgrudar os olhos daquela senhora. A mesa estava repleta de pessoas Pavão, onde mostrar a cauda era mais importante do que estava se discutindo. Aliás as discussões eram sobre como ela era boa para com todos ali. De como eu era importante para todos ali.  Normal quando se trata de uma lenda viva como ela.

– Uma reunião em que todos presentes estão absolutamente de acordo é uma reunião perdida, já dizia Einstein.  

Ela citou Einstein. Mais do que impressionante. Uma pessoa com essa idade com tal altivez. Muitos só reconhecem uma pessoa depois de sua morte, mas quando se trata dela ninguém tem dúvida. Como se fossem uma orquestra em frente ao seu maestro, todos da reunião começam a divergir sobre os fatos. Os pavões dão lugar às águias, que atacam de forma certeira seu alvo, indo direto nas maiores fragilidades de cada um. Para uma mulher, poder não é nada. O macho não entende. Poder não é nada. Por isso que as divas traem seus maridos poderosos com os jardineiros. Diferente do homem. O homem quer sempre demonstrar poder. Quer humilhar. Quer estar por cima. Os homens que se incomodam em ser comandados. Eu como Governador, não poderia deixar aquela situação. Sou o macho mais macho da mesa.  Tenho certeza que devemos lucrar algo com tal exposição. A discussão parece interminável, quando ela se levanta com toda sua fragilidade e bate forte na mesa.

– A partir de hoje, vamos montar um conservatório musical onde eu lecionarei para crianças que precisam.

Levantou da mesa e foi saindo arrastando os pés, levando consigo toda minha admiração. Depois daquele dia nunca mais fui o mesmo. Dunga Rodrigues me ensinou a sua maior lição: não devemos pensar no nosso, mas sim no dos outros. Não devemos pensar agora. Mas daqui a 50 anos.

João Manteufel Jr.

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Mais conhecido como João Gordo, ele é um dos publicitários mais premiados de Cuiabá e escreve semanalmente a coluna Caldo Cultural no Circuito Mato Grosso.

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