Política

Corrupção está na dificuldade de separar público e privado

A corrupção é um flagelo da sociedade, ignora o bem coletivo e enriquece uma minoria sem qualquer apelo ético e moral. A corrupção partidária, que atinge partidos políticos, tem sido pauta recorrente dos veículos de comunicação no Brasil, eventualmente dando a impressão de que essa é uma característica apenas dos integrantes dos poderes Executivo e Legislativo, deixando à margem da discussão empresários, servidores públicos e a própria população. Mas afinal, o que é corrupção e por que podemos ser corruptos?

Para o doutor em Direito pela Universidade de São Paulo (USP) e docente da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Marcos Prado de Albuquerque, uma das origens desse comportamento pode ser creditada à “crueldade” do brasileiro. De acordo com ele, a fama de que desfrutam as pessoas nascidas no Brasil – consideradas afáveis e gentis em muitas partes do mundo – é um mito e que as pessoas apresentam essas características apenas entre “seus pares”.

“Somos um povo extremamente cruel, e sendo a corrupção um tipo de violência, então é claro que sentimos essa consequência. O brasileiro é cordial, mas apenas entre seus pares, sendo extremamente violento no público”, diz.

Dados da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional, da Câmara dos Deputados, apontam que o no Brasil o custo da corrupção chega a R$ 85 bilhões por ano. No entanto, em virtude das peculiaridades desse tipo de ação – que no nível empresarial e de Estado conta com a colaboração de pessoas influentes – esse valor, que poderia construir 850 mil casas populares, é apenas uma estimativa e possivelmente tem cifras ainda maiores.

Historiadores apontam que a corrupção no Brasil é quase tão antiga quanto o próprio descobrimento. No século XVI, funcionários públicos da Coroa portuguesa que tinham o trabalho de fiscalizar o contrabando e outras contravenções, acabavam por fazer parte do “esquema”, traficando pau-brasil, ouro, diamante e outras riquezas.

Na mesma linha, o professor da UFMT afirma que a retórica do “combate à corrupção” é antiga em nossa sociedade, mas alerta para a hipocrisia que permeia alguns grupos, dizendo que em nome dessa “moralidade” arbitrariedades foram cometidas ao longo da história, como o Golpe de 1964, que deu origem à ditadura civil/militar.

“O combate à corrupção esteve presente na queda do Reinado, no fim do século XIX, na Revolução Tenentista, com Jânio Quadros e sua vassoura e até mesmo no Golpe de 1964”.

O pesquisador aponta ainda outra característica das pessoas que em algum momento apresentam um comportamento corrupto, que é a dificuldade de separar o público do privado.

“Não temos noção do que é espaço público. Uma coisa é meu patrimônio privado e outra é o patrimônio público. Essa dificuldade enseja uma maior incidência de corrupção. Nosso sentimento com o espaço público é que ele não é de ninguém, fazendo acreditar que qualquer um pode se apropriar dele”.

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Diego Fredericci

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