A defesa do ex-deputado José Geraldo Riva (PSD) que está preso desde o dia 21 de fevereiro, foi pega de surpresa pelo depoimento chave da viúva de Edemar Adans, nesta terça-feira (09). Cleonice Bernadete Adams revelou, no Fórum de Cuiabá, que o ex-parlamentar deixava recadinhos contendo mensagens sobre os repasses fraudulentos feitos pelas empresas de papelaria. A mulher era esposa do ‘braço-direito’ de Riva na Assembleia Legislativa na época dos desvios de R$ 62 milhões.
As fortes declarações de Clarice deixaram os advogados representados por Válber Melo sem ações. A testemunha foi arrolada de última hora, na segunda-feira (08) no fim do expediente da vara criminal de Cuiabá, após prestar declarações ao Ministério Público Estadual (MPE) – em outro processo civil, onde se apura o crime de improbidade administrativa. A Juíza Selma Rosane de Arruda entendeu por bem que o seu interrogatório era essencial para esclarecimento do caso.
Pressão
Logo no início da audiência, Clarice Bernadete, foi pressionada a se valer do seu ‘direito’ de permanecer em silêncio pela defesa do ex-deputado. “A excelentíssima juíza não ‘alertou’ a testemunha do seu direito de não responder e também dizer somente a verdade. Nós [a defesa] pedimos que a senhora instrua adequadamente a testemunha, pois isso faz parte oficial da audiência”, disse Valber Melo, antes da testemunha começar a ser indagada pela Juíza.
De forma irônica a juíza disse que não seria necessário instruir a testemunha a dizer a verdade, mas aceitou o pedido da defesa e realizou os procedimentos oficiais. Após isso, uma série de questionamentos foram respondidos pela viúva.
A promotoria indagou se a testemunha não tinha medo de revelar tantas informações sobre o caso. Contudo a Clarice explicou que não iria deixar de falar a verdade, pois queriam imputar toda a responsabilidade do esquema a ele [o marido]. “Tenho dois filhos que estão aflitos ao ouvir, que o pai deles, é o único responsável pelo esquema e isso não é bem assim. Por isso não tenho medo de dizer a verdade”, disse.
Edemar não ‘inventou a roda’
Entre as informações prestadas, Clarice disse que o esquema de desvio de verba já existia antes do marido chegar a Assembleia. “Meu marido não ‘inventou a roda’ o esquema que escolhia empresas pré-determinadas para vencer as licitações já existia. Nele as empresas eram incumbidas de repassar 85% do valor licitado ao meu marido. E depois esse valor era entregue a José Riva que se responsabilizava de fazer os pagamentos’”, revelou Clarice.
Além disso a viúva de Adans contou que o marido lhe entregou um pendrive contendo informações valiosas sobre a contabilidade do esquema. “Meu marido me entregou um pendrive e disse que se ele morresse era para que eu o entregasse somente a José Riva. Nele havia balanços de movimentações vultosas de transações que variavam entre R$ 700 a R$ 800 mil”, comentou Clarice.
Na narrativa da viúva, dois dias após a morte de Edemar o ex-deputado lhe procurou para saber o paradeiro do pendrive. “Eu fui até a Assembleia Legislativa lhe entregar a mídia, com meus dois filhos. Lá ele perguntou se eu estava precisando de alguma ‘ajuda’. Eu disse que sim, que meu filho precisava de um emprego e o deputado atendeu meu pedido”, pontuou.
Estratégia
A defesa do ex-parlamentar preso tentou desqualificar o depoimento da viúva, lhe questionando o porque das declarações neste momento das oitivas. Outra estratégia foi tentar fazer a testemunha se contradizer em suas afirmações.
Riva em seu interrogatório disse que a Clarice não tinha provas (bilhetes, documentos, ou mesmo o pendrive) para afirmar tudo aquilo. Em uma de suas falas, Riva menospreza o valor das informações prestadas pela testemunha: “Ela não sabe o que está falando. Ela não participava da vida profissional do marido, não têm provas e nem me viu entregar ou pedir dinheiro para Edemar”, disse.
Novo prazo
A Juíza deu o prazo total de 20 dias para as novas diligencias do caso. A defesa do social-democrata terá 10 dias e o mesmo prazo foi dado ao Ministério Público. Conforme Selma Arruda é preciso seguir as fases processuais e esgotar todas as diligências para as alegações finais sobre o caso.
A medida ocorre devido ao pedido dos advogados em arrolar outras testemunhas citadas pela viúva de Edemar Adams. Além disso, a magistrada informou que nos próximos dois dias decidirá se acata ou não o pedido da defesa do ex-parlamentar, para que sua prisão preventiva seja revogada.
Entenda
A fala da viúva é o depoimento que liga alguns pontos obscuros no processo que investiga o desvio de verba na AL. Colocando José Riva no centro das acusações, assim como o Ministério Público desconfiava ao deflagrar a Operação Imperador – que levou o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) a prisão de Riva.
Nas últimas oitivas na Justiça, o nome do ex-chefe financeiro de José Riva, Edemar Adans, foi inúmeras vezes citado pela defesa e pelas testemunhas que falaram a juiza. Adans era o 'braço-direito' de José Riva na Assembleia e responsável pelos repasses e pagamentos fraudulentos dos desvios e superfaturamentos.
Edemar morreu de câncer a cerca de cinco anos, mas a viúva decidiu falar somente agora para não deixar que imputem toda a culpa ao marido falecido. Suas declarações foram consideradas pela juíza como essenciais para a elucidação do caso.