Política

Cenário político: China quer investir R$ 167 bilhões no Brasil

A presidenta Dilma Rousseff (PT) e o primeiro-ministro da China, Li Keqiang, assinaram no último dia 19 de maio um plano de cooperação até 2021. Ambos os países fecharam acordos que somam nada menos que US$ 53 bilhões. Segundo a última cotação vigente do dólar, o gigante asiático pretende investir no Brasil R$ 167 bilhões em seis anos.

Nos 35 projetos previstos, uma das vedetes e antiga demanda dos empresários de Mato Grosso são os estudos de viabilidade da Ferrovia Transoceânica (ver matéria abaixo). Mas não só isso: parcerias em várias áreas econômicas estratégicas como infraestrutura, transporte, agricultura, energia, mineração, comércio, ciência e tecnologia, entre outras, também figuram nas negociações entre os dois países.

Outra boa notícia para o mercado mato-grossense é a retomada de exportações de carne bovina para o país asiático, interrompidas desde julho de 2012 em razão da suspeita de um caso de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), a chamada “doença da vaca louca”. Com o acordo assinado semana passada, o setor deve recuperar parte dos prejuízos que vem amargando em 2015: entre janeiro a abril deste ano os negócios com a commoditie dos empresários locais registraram retração de 24,2% na comparação com o mesmo período de 2014, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).

Na ocasião, Dilma Rousseff anunciou que oito frigoríficos previamente cadastrados poderão retomar esses negócios, mas outras empresas também podem ser incluídas.

“É a retomada da exportação de carne bovina para a China, de forma sustentável, que será implementada com a habilitação feita pela China dos primeiros oito estabelecimentos brasileiros. Reiterei interesse em tornar efetivo o processo de habilitação de novos estabelecimentos produtores de carne bovina, suína e de aves”, disse ela.

O campo econômico, no entanto, não deve ser o único sentir os reflexos do acordo histórico. Estados Unidos e União Europeia acompanham atentamente as movimentações entre o Brasil e a China, que no início do ano declarou que pretende investir US$ 250 bilhões em todo continente sul-americano nos próximos 10 anos. Da parte chinesa, o interesse é pelos alimentos, minérios e a possibilidade de escapar do controle oceânico estadunidense por meio do Canal do Panamá.

Do lado sul-americano, o acordo pode representar um salto na diminuição do déficit de infraestrutura e industrialização desses países. No caso específico da Brasil, há expectativa de obter apoio chinês pela reforma do Conselho da Segurança das Nações Unidas (ONU).

Os acordos incluem ainda a compra de aviões da Embraer, a construção de um satélite de monitoramento remoto, investimentos de US$ 7 bilhões na Petrobras e a implantação de um polo siderúrgico no Maranhão.

Ferrovia Transoceânica passará por Mato Grosso

Entre os 35 itens que abrangem a parceria Brasil-China, um em especial chama a atenção dos mato-grossenses: a Ferrovia Transoceânica, que unirá por meio de uma estrada de ferro os oceanos atlântico e pacífico, cortando o país de leste a oeste, a partir do Porto de Açu, no Rio de Janeiro e tendo como destino o Peru.

A iniciativa ainda está em fase de estudos e especialistas apontam que se trata de um empreendimento de longo prazo. No entanto, um dos trechos da Transoceânica deve aproveitar o projeto da Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (Fico), antiga demanda dos empresários do agronegócio mato-grossense, mas que encontra problemas em sua licitação – que não atraiu interessados – e com a Controladoria-Geral da União, que identificou problemas no projeto básico.

Para o doutor em Engenharia de Transportes e professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Luiz Miguel de Miranda, a construção da estrada de ferro é “muito importante para Mato Grosso e o Brasil”. Segundo ele, a principal preocupação da China é alimentar 1,3 bilhão de pessoas, em virtude das características climáticas e do solo do território chinês, que segundo ele, é “árido, sem a possibilidade do cultivo de soja ou criação de gado”, apontando outras regiões de interesse para eles no mundo.

“Não pode faltar comida para 1,3 bilhão de pessoas. Eles têm que pegar alimentos onde tem. Você não planta soja na montanha. Os lugares com maior potencial para atender essa demanda, na visão deles, são o meio-oeste americano, na Bacia do Mississipi, a Argentina, na região do rio da Prata e o Centro-Oeste brasileiro”, analisa ele.

A ambiciosa iniciativa chinesa deverá aproveitar também o projeto da Ferrovia Transcontinental, que ligará o Rio de Janeiro ao Acre. As duas estradas de ferro (Fico e Transcontinental) compartilham a mesma estrutura física no trecho entre Campinorte/GO e Vilhena/RO, e que passam por Água Boa e Lucas do Rio Verde, ambas em Mato Grosso.

O professor aponta que após Sapezal (478 km de Cuiabá), a Transcontinental seguiria o traçado da BR-364, “facilitando a logística para construir isso tudo”. No entanto, o especialista em logística pondera que o Governo Federal deve estar atento para as condições desse empreendimento: “O banco deles que vai viabilizar esse negócio funciona igual ao nosso BNDES quando realiza um empréstimo: levamos nossas firmas, nossos projetos, 100% dos equipamentos e também parte da mão de obra. Um engenheiro de fora que entra aqui tira o emprego de um profissional brasileiro. São questões a serem levadas em consideração”.
 

(Com informações da Agência Brasil)

 

Diego Fredericci

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