Ler A Árvore de Carne e Outros Contos (2012) da Editora Tordesilhinhas é adentrar um universo diferente, repleto de histórias que parecem a princípio estranhas. Como assim: uma árvore tem tronco feito de carne e frutos que são olhos? Um pajé, guiado por voz misteriosa, busca novos poderes; um casal de jovens apaixonados inventa um plano para conseguir o consentimento dos pais. E como pode uma lagoa ser encantada e mudar de lugar a cada dois dias?
As crenças contadas por Lia Minápoty e Yaguaré Yamã no livro fazem parte da cultura do povo maraguá. Lya Minápoty é uma das jovens lideranças do povo maraguá. Nasceu na aldeia Yãbetue’y, no Estado do Amazonas. Pertence ao clã Çukuyêguá (por nascimento) e ao clã Aripunãguá (por casamento). É casada com Yaguarê Yamã e coautora deste livro.
Yaguarê Yamã é o nome maraguá de Ozias Glória de Oliveira, escritor, professor e artista plástico indígena, nascido na aldeia Yãbetue’y em 1973. Tem militado no movimento indígena, lutando pela demarcação das terras de seu povo, pela conscientização dos ribeirinhos e pela inclusão indígena na sociedade brasileira. A edição da obra é ricamente ilustrada por Mariana Newlands.
O povo maraguá habita a região do rio Abacaxis, no Amazonas, eles gostam de histórias de fantasmas e têm um ritual que representa a passagem da infância para a maturidade. Segundo a tradição Wakaripé ou Wãgaripé, os meninos, quando completam dez anos, têm que passar por três testes: dormir sozinho na floresta, atravessar o rio Abacaxis a nado e acender quatro fogueiras ao redor do terreiro principal. Cultura é assim mesmo: cada um tem a sua e cada qual com suas leis, crendices e assombrações. Essas diferenças são importantes. A obra contém um glossário que explica os significados de palavras do idioma maraguá – e de outras línguas indígenas – e do vocabulário típico da Amazônia. As surpreendentes e fascinantes histórias deste livro são metáforas para explicar a religião, os mitos de origem e os costumes dos maraguás, proporcionando ao pequeno e jovem leitor uma experiência única de troca cultural.