Foto: Andrea Lobo
Unidade da federação que está na linha de frente em relação à agricultura e à produção de grãos, Mato Grosso possui um potencial econômico subutilizado, principalmente quando o assunto é industrialização. Segundo maior exportador do país de commodities do agronegócio, com valores que somaram U$ 14,6 bilhões em 2014, segundo dados do Sistema de Estatísticas de Comércio Exterior do Agronegócio Brasileiro (AgroStat), o Estado poderia ter maior protagonismo na área econômica se empresas e governos dialogassem.
A opinião é do presidente do Porto Seco Cuiabá, Francisco Antônio de Almeida. Segundo o administrador da estação aduaneira – única do tipo em Mato Grosso, responsável, entre outras coisas, por nacionalizar produtos e intermediar aquisição de bens de origem externa –, o Estado não pode assistir atônito à falta de interesse de empresas na instalação de suas plantas, principalmente quando se leva em conta alguns tipos de serviços necessários ao desenvolvimento do agronegócio, como a indústria química e veterinária.
“Não é possível que Mato Grosso seja o maior exportador de soja do país e não tenha uma indústria agroquímica forte. Da mesma forma, temos o maior rebanho bovino de corte e não temos sequer uma indústria veterinária aqui”, diz ele.
Maior produtor brasileiro de soja e carne bovina, ao passo que, no mundo, o Brasil ocupa o primeiro e segundo lugar, respectivamente, na produção dessas commodities, de acordo com o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), o Estado tem no Porto Seco Cuiabá papel-chave na industrialização, uma área que ainda carece de investimentos e iniciativas públicas e privadas, de modo que não deixe os mato-grossenses numa dependência crônica do agronegócio, que necessita de máquinas e insumos fabricados lá fora.
Nesse sentido, o executivo do único dry port de Mato Grosso faz duras críticas à falta de planejamento, estrutura e condições de escoamento oferecidas aqui. Para ele, o governo federal deveria “olhar para a gente com outros olhos”, citando o protagonismo que o agronegócio possui na economia.
“Não podemos ser reféns apenas do agronegócio. Devemos utilizar seu potencial em todas as instâncias, inclusive a industrial. A última grande empresa a se instalar em Mato Grosso chegou há quatro anos. Isso é preocupante”, diz ele.
Francisco explica ainda os benefícios concedidos a empresas que desejam montar uma planta fabril em Mato Grosso: “Se uma empresa deseja se instalar aqui e tiver de importar seus materiais, o governo estadual dispensa o empreendedor do pagamento de ICMS. Da mesma forma, uma colheitadeira importada conosco pode ter um desconto de até U$$ 200 mil”.
Porto Seco importou 10% menos em 2014
A desindustrialização tem como um de seus reflexos a queda nas importações, uma vez que a demanda por produtos e bens que deveriam ser consumidos por essas empresas, e que normalmente não são encontrados por aqui, apresenta baixa. Dados do próprio Porto Seco Cuiabá apontam uma queda de 10% nas importações de 2014 na comparação com 2013.
No passado a procura por produtos fabricados fora de Mato Grosso movimentou U$$ 224,01 milhões, ao passo que em 2013 esse número foi de U$$ 82,29 milhões. Os valores, no entanto, não representam a realidade da indústria e do comércio mato-grossense, pois os negócios registrados em 2014 levam em conta a importação do VLT, que sozinha respondeu por U$$ 149,65 milhões.
Descontado o valor, chegamos a U$$ 74,35 milhões – 10% a menos do que o registrado pela estação aduaneira em 2013.
Para Francisco de Almeida, a única solução viável deve ser por meio da política.
“É preciso haver um esforço dos setores público e privado para reverter esse quadro. Goiás conseguiu e se tornou polo da indústria farmacêutica e automobilística”.
Falta de indústria é fruto de política equivocada
Os investimentos em infraestrutura realizados nos últimos anos no Brasil não foram suficientes para reverter o processo de desindustrialização que atravessa o país. Respondendo por apenas 13% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), o país está atrás de nações como a Coreia do Sul, cuja indústria registrou participação no PIB de 27,9% e é fruto de uma política pública equivocada, sobretudo do governo federal.
A opinião é do presidente do Fórum pró-Ferrovia em Cuiabá Francisco Vuolo. Segundo ele, o processo de desindustrialização atinge o país “como um todo” e se deve sobretudo a uma estratégia questionável da União, que considera “mais fácil exportar produtos primários do que optar pela industrialização deles”. Francisco afirma ainda que Mato Grosso não é diferente e acaba sofrendo as consequências desse tipo de orientação econômica, que tende a desestimular a vinda de indústrias.
“É mais fácil exportar um produto que acabou de sair da terra do que utilizá-lo na fabricação de bens de maior valor. Mato Grosso não tem sequer uma capacidade de armazenagem eficiente para torná-lo mais competitivo”, diz ele.
De acordo com Francisco, empreendimentos como o Porto Seco, que segundo ele é um “instrumento extremamente importante para a competitividade de Mato Grosso”, acabam sendo prejudicados pela falta de demanda na implantação das indústrias, que poderia baixar os custos de importação e exportação caso houvesse empreendimentos consolidados no Estado, e que o fato atrapalha o desenvolvimento de organizações, como as de alta tecnologia.
“É preciso criar políticas públicas, programas específicos de industrialização. O sonho de todo empreendedor é ter sua indústria próxima do local da matéria-prima, é estar ao lado de quem produz”.