Uma celeuma envolvendo a Academia Mato-grossense de Letras (AML) tem causado burburinhos nos bastidores da cuiabania. É que a Casa Barão de Melgaço passará por uma eleição no dia 6 de julho deste ano, para ocupar as quatro cadeiras vagas disponíveis, e há opiniões muito divergentes sobre a condução do processo de seleção e escolha dos novos imortais.
De um lado o professor e poeta Airton Reis, do outro o presidente da Academia e advogado Eduardo Mahon, no meio, opiniões que pesam para um lado e para o outro sobre eleição, apadrinhamento e o processo eletivo como um todo.
Reis, que já foi candidato a uma das vagas AML por três vezes – sem sucesso – acusa Mahon de protagonizar o apadrinhamento de concorrentes. Num texto, o professor faz um desabafo no qual afirma ter sido preterido por duas vezes pelo atual presidente (Mahon).
“Três tentativas de ingresso pela porta da frente. Destas, duas candidaturas consecutivas preteridas e prejudicadas pelo mesmo atual presidente. Na última, após efetivarmos a nossa inscrição na cadeira 16, fomos chamados pelo dito cujo para ‘renunciarmos’ em favor da candidata eleita e outrora empossada. O mesmo presidente ainda nos disse que a nossa chance de vitória seria mínima,” diz trecho do texto.
Em entrevista exclusiva ao Circuito Mato Grosso, Airton reiterou que, em sua opinião, as vagas na AML são conquistadas por meio de apadrinhamento e disse ainda que ele próprio já foi convidado a desistir de uma candidatura em prol de outra candidata, na eleição realizada em fevereiro deste ano.
“Não trocamos favores na calada das madrugadas. O mérito literário, mais uma vez, foi demovido pelo favorecimento pessoal. Outros candidatos derrotados sentiram o mesmo peso de uma concorrência desleal. Afinal, que laço de amizade é esse que se diz determinante em pleito eleitoral? Se há escolhidos antes de eleitos, qual a finalidade da publicação de um edital?”. O trecho, ainda do texto de Airton, mostra sua indignação.
Segundo o poeta, os sucessivos problemas com a presidência o levaram a desistir do pleito, por ora.
O advogado, professor, escritor poeta e compositor Janio Gonçalo Maciel de Morais, candidato por quatro vezes a uma cadeira na AML, avaliza o discurso de Airton afirmando que Mahon quis conduzi-lo para não concorrer a uma cadeira específica e sim a outra.
“Eu notei, logo na primeira eleição em que concorri – com Mahon enquanto presidente – que a coisa foi conduzida. Parece-me que o importante ali é ter e não ser. O padrão de escolha é dada pelo ter. A eleição já sai pronta do gabinete desse senhor, faltando apenas as assinaturas”, diz Janio, que durante a gestão de Mahon foi candidato duas vezes.
Ele afirma ainda que concorreu com uma pessoa sem expressão nenhuma na eleição retrasada – agosto de 2014 – e mesmo assim perdeu, questionando o meritocracia do pleito.
Airton finaliza seu texto dizendo que “poetas não foram adestrados para calar” e pede que “Eduardo Mahon reflita sobre os verdadeiros encargos e atributos de um presidente e não continue metendo, por capricho e continuadamente, os pés pelas mãos”.
Outro lado (o de dentro)
O presidente da Academia Mato-Grossense de Letras, Eduardo Mahon, refuta as acusações e explica que o professor Airton Reis vinha sendo preterido antes mesmo de ele assumir a presidência da Casa Barão de Melgaço.
“A seleção se dá, necessariamente, através de parecer e vence a maioria. Ele (Airton) concorreu com Luiz Orione Neto, Lucinda Persona e Cristina Campos e perdeu nas três eleições porque a maioria entendeu, por bem, votar nos outros candidatos” explicou.
Apesar disso, Mahon admite que “existe uma simpatia natural que inclina o voto dos imortais para algum lado”, o que faria com que eles levantassem bandeira para seus candidatos, mas que “isso é algo natural e que há concorrência real”.
Eduardo pontua ainda que, mesmo entre os perdedores, o nível intelectual é altíssimo e que o caso do professor e poeta Airton é crônico. “Ele perde sucessivamente eleições”.
O presidente da AML disse, ainda, não entender o motivo da indignação de Airton, tendo em vista que ele não se candidatou na atual eleição.
“Eu recebo inscrições pelo Correio, e recebi uma no último dia, às 17 horas, logo, quem quer se inscrever o faz. Eu não posso recusar uma inscrição e o secretário e tesoureiro também recebem as inscrições” disse.
A advogada e professora Marília Beatriz, ocupante da cadeira número 2, que fora de seu pai (Gervásio de Figueiredo Leite) disse estar escandalizada com a situação toda.
“É uma coisa horrível que está acontecendo e eu não aceito nada disso, não sou manipulada por ninguém. Quando entrei, fui votada, é tudo muito sério e as pessoas estão ali em comunhão pela literatura. Não dá para entender o que esse povo quer. Não entram porque não têm competência” diz.
A professora afirma que, no caso de Airton Reis, em que ela foi uma das pareceristas, “ele não conquistou a vaga por ter algumas deficiências”.
“Ele tem livros publicados, mas estava deficiente em partes e temos um regulamento a seguir” sintetiza.
Eleição
A eleição do dia 6 de julho vai agregar mais quatro imortais e a disputa está entre seis candidatos.
Os escritores Aclyse de Mattos e Antonio Veloso Peleja Júnior disputam a cadeira 3; para a cadeira 12, o jornalista e escritor Lorenzo Falcão; para a cadeira 36, os juristas e escritores Ernane Calhao e Lindinalva Rodrigues; para a cadeira 37, o escritor Santiago Villela Marques.
A inscrição para concorrer a uma vaga na AML custa R$ 750 e a análise é realizada por três pareceristas e votada, atualmente, por 36 membros da Academia.