Cidades

MC Melody muda para virar ‘Anitta pop mirim sem sensualizar’

MC Melody tem 8 anos de idade e é alvo de um inquérito aberto pelo Ministério Público de São Paulo para investigação sobre "forte conteúdo erótico e de apelos sexuais" em músicas e coreografias de crianças e adolescentes músicos. De acordo com uma das representações do inquérito, ela "canta músicas obscenas, com alto teor sexual e faz poses extremamente sensuais, bem como trabalha como vocalista musical em carreira solo, dirigida por seu genitor".

O pai de Melody, MC Belinho, de 27 anos, está arrependido. Mas acha que a filha "não estava fazendo nada de errado" e diz que ela "estuda, está matriculada e com vacina em dia, brinca normalmente, não fala palavrão". Em entrevista ao G1 por telefone, afirma: "Se fosse um menininho, ninguém estaria ligando, a gente não seria tão perseguido e tão condenado. A gente entrou numa guerra constante".

De acordo com ele, a carreira de Gabriella Abreu Severino, nome verdadeiro de Melody, "mudou totalmente de rumo" após a polêmica. "A gente agora está fazendo uma cantora pop mirim. Mais ou menos como Anitta, só que com umas letras 'mirins', sem sensualizar."

Belinho conta que Melody sonha em ser cantora desde que tinha 1 ano de idade. Ele gosta de dizer que os primeiros vídeos da filha no YouTube eram de música gospel. "Vejo que ela tem talento, canta bem, é afinada, tem o dom. Eu pensava: 'Quem sabe algum empresário vê, ela vai parar numa novela'. Isso aí é o sonho de qualquer pai."

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:

G1 – Como você pretende se defender no inquérito aberto pelo Ministério Público?
MC Belinho – Ainda não aconteceu a notificação, mas meus advogados estão a par. Minha defesa vai falar o que é real: a gente não violou nada, e minha filha estuda, está matriculada e com vacina em dia, brinca normalmente, não fala palavrão, é muito bem educada e leva uma vida de criança. Só que com o sonho de ser cantora desde um aninho de idade – e eu apoio esse sonho. Mas agora a gente mudou totalmente o rumo, e não só devido ao inquérito, mas para a aceitação do povo.

G1 – Mudou como?
MC Belinho – Minha filha não estava fazendo nada de errado, a não ser uma roupa ou outra, um jeito de dançar. Então, mudou a maneira de vestir, algumas letras. A gente agora está fazendo uma cantora pop mirim. Mais ou menos como Anitta, só que com umas letras "mirins", sem sensualizar. Se falar que é "uma funkeira de oito anos de idade", todo mundo fala "não acredito!". Mas, se falar que é "uma cantora de oito anos de idade", aí tudo bem. Vou aguardar o inquérito e pretendo, sim, entrar com pedido do juiz pra que ele autorize [a atividade artística]. A ideia é tentar um outro segmento, de repente de modo mais correto.

G1 – Então quer dizer que o estilo antigo era errado?
MC Belinho – Se as pessoas estão falando que está errado, a gente vai mudar. Não adianta ser uma artista com talento mas sem a aceitação do público – e da lei também. Recebi ligações de outros artistas, todo mundo falando: "Sua filha é perfeita, só tenta mudar um pouco o estilo das roupas, da dança". Agora vai ter uma coreógrafa. E os vídeos novos já são diferentes. A maneira correta é esta: direcionar mais para a faixa etária de 6 anos a 15 anos de idade.

Mas não estou ganhando nem R$ 1 com ela – quem sabe futuramente. Nunca vendi show dela. Primeiro, porque estou ciente de que precisa de autorização legal. Só que passei a encarar como carreira, e antes era uma brincadeira. E tem um escritório agora ajudando, minha filha está indo ao psicólogo.

G1 – Desde quando ela passa por psicólogo?
MC Belinho – Não que minha filha esteja precisando, mas ela já fez duas sessões. A gente está só averiguando mesmo. Eu, como pai, sei da cabeça da minha filha. Ela tem o talento, o dom.

G1 – A MC Melody já ganhou dinheiro como artista?
MC Belinho – Ela não é uma artista, nunca fez um show, nunca ganhou dinheiro, cachê, diferentemente dos outros MCs investigados. Como artista, minha filha só é visualizada na internet e nos meios de comunicação. Ela só participou de um show meu aqui um ano e meio atrás, na Zona Norte, em São Paulo. Era uma matinê, uma domingueira, às 18h, aberto para adolescentes, sem bebida alcoólica – normalmente, não entra maior de idade.
Não era um "batidão", e estava a família inteira: bisavó, vó, mãe, a outra irmã dela. No intervalo desse show, viram ela cantando e falavam para mim: "Põe ela pra cantar". Não teve maldade da minha parte. O vídeo não foi para expor a criança. Primeiramente, porque sou pai. Que pai vai querer o mal para sua própria filha?

G1 – Muita gente achou que você não pensou nisso ao publicar o vídeo.
MC Belinho – Se houve uma imagem errada, a gente corrigiu. Mas o que mais tem na internet, como todo mundo sabe, são crianças fazendo coisas muito piores que minha filha fez. Só que, como ela começou a aparecer muito, algumas pessoas maldosas se aproveitaram.

G1 – Você se arrepende de algo?
MC Belinho – Se for parar para pensar, me arrependo de… [Faz silêncio] Se fosse para voltar atrás, eu pensaria no que as pessoas poderiam achar do vídeo. Não é só minha filha que está sendo investigada, mas o no caso dela foi o mais polêmico, passou em vários países, porque ela tem só oito anos e porque é menina.

G1 – Acha que a MC Melody foi vítima de machismo?
MC Belinho – Não vou dizer que é machismo, mas isso contribuiu. Se fosse um menininho, ninguém estaria ligando, e a gente não seria tão perseguido, não seria tão condenado. Tem dois fatores principais, isso é real, as pessoas têm que aceitar: primeiro por ser funk; segundo, por ser menina.

G1 – E por que você diz que o funk é o outro motivo?
MC Belinho – Tem o lance do preconceito. Assim como já existiu com o samba, que hoje é bem visto. Muitas pessoas falam que, se minha filha cantasse sertanejo, axé ou pagode, não teria problema. Mas é bom as pessoas abrirem o olho: no sertanejo e no axé tem muita letra de duplo sentido. Muitas crianças dançaram “Lepo lepo” e não sabem o que significa.

Além disso, se for reparar, Sandy & Junior começou com “Maria Chiquinha”… O que a Maria Chiquinha foi fazer meio do mato? E depois teve É o Tchan. As crianças rebolavam até o chão, dançavam “Boquinha da garrafa”. Por que ninguém falou na época?

G1 – Qual a razão para essa ‘tolerância’, na sua opinião?
MC Belinho – Porque era axé, que não é tão discriminado. O funk tem o lado positivo, que é ostentação, consciente, mas tem o lado de muita coisa pesada, que é feito para adulto. E as crianças acabam ouvindo. Na periferia em São Paulo, no Rio, só rola funk. O funk é a linguagem da periferia. Não vou falar que tudo que existe no funk é correto e que concordo com criança cantando palavrão. Mas funk sustenta muita família.

G1 – A sua também?
MC Belinho – Eu cantei pagode muitos anos, sertanejo, reggae, axé na Bahia durante seis anos. Só que é o funk sustenta minha família. Eu sou MC. Só que, antes de MC, sou músico: sei tocar instrumento, sei ler partitura. É o que pretendo passar para minha filha. Pode ser que amanhã ela fale “decidi ser modelo” ou “decidi ser advogada”. Beleza. Eu, desde que tinha quatro anos, quis ser cantor. Sempre trabalhei com isso, me vejo nela. Puxa, era meu sonho e nunca desisti. Só que eu não tive pai para apoiar ou mãe para apoiar.

Parei minha carreira para dar atenção a isso que está acontecendo. Estou há quase dois meses sem fazer show, e vinha fazendo de 15 a 18 por mês. Cobro R$ 2 mil, R$ 2,5 mil por show. As pessoas deviam conhecer a nossa família. Não pretendo viver às custas da minha filha, mas pretendo que ela viva o sonho. Na verdade, por enquanto a polêmica só me prejudicou, não ganhei nada com isso.

G1 – Você e Melody lançaram um vídeo em que se diziam arrependidos e pediam desculpas. Mas e em particular, você chegou a pedir desculpas à sua filha?
MC Belinho – A música é desculpa para todo mundo, para geral. Então, sim, é para ela. E eu também me excedi em alguns momentos. Quando fiz um vídeo e falei "vocês são recalcados", não falei para a população brasileira, para geral. Falei para quatro ou cinco que estavam usando o nome para ganhar "likes". Só que não passei essa visão. Eu estava bravo, naquele momento de pai em fúria… Você ver sua filha blasfemada por um vagabundo qualquer.

G1 – Alguma coisa nessa história ofendeu você?
MC Belinho – Muitas coisas, cara. É minha filha, né? Pô, seu bem maior, e as pessoas vão falando coisas que não são verdade, tipo falar que a gente está ganhando rios de dinheiro, que ela está trabalhando na noite, fazendo bailes funk, dentre outras coisas.

Não que não pinte show. Se eu fosse ganancioso, tinha fechado 200 shows no Brasil inteiro, e antes mesmo da polêmica. Tem muito pai querendo contratar para festas de 15 anos, fui procurado por dezenas de artistas, que falam: “Traz ela em casa, vamos fazer uma parada”. Minha filha está no auge, entre aspas. É o centro das atenções, e as pessoas também aproveitam o gancho para ganhar “likes” fazendo vídeos com críticas.

Além disso, as pessoas falam: “Que pai é esse?”. Se ficassem uma hora comigo, iam ver que não é isso. Quase todas as noites eu faço minha filha dormir e ponho na cama. Imagina uma criança apegada com o pai, como a minha, e aí alguém fala em tirar essa filha do pai. O dano maior é esse. Não é mudar a carreira. Cuidei da minha filha desde pequenininha. As pessoas julgam muito sem saber.

Fonte: G1

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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