Meu nome é Pedro. Mas pode me chamar de José, Antonio ou tantos outros mil.
Sou apenas mais um na violentada pátria amada e idolatrada chamada Brasil.
Violência que vem de tempo… desde quando Cabral nos descobriu, guiado pelos poderes dos ventos… e com bandeirantes, igreja, gripe e descontentamento… massacrou aqui uma nação.
Nação… nação formada por xavantes, xingus, tchucarammaes, morubixabas insolentes perante o fogo dos jesuítas… Que pela força ou pela inocência trocaram a beleza por espelhos… e a liberdade pelo perdão.
Perdão… Palavra que assola a cidadania… nos povoando com ladrões, escravizando irmãos, deixando a terra da vida vazia…
Capitanias hereditárias, feudalismo senzala, covardia… Exploração de ouro, diamantes, pau-brasil, a favor da diabólica monarquia… Que despertaram o desejo de independência ou morte… como Dom Pedro e muitos outros anjos diriam… Acabaram com as riquezas, com gerações, mas não acabaram com a nossa esperança e alegria…
Alegria que não durou muito tempo… Veio a república, Getúlio, Juscelino, o golpe militar, a tal da Guerra Fria… E o Brasil ainda não era nada daquilo que a gente queria… Plano Funaro, os dois Fernandos, a esperança venceu o medo, e o barbudo, quem diria, transformou nosso país em refém da hipocrisia…
Hipocrisia… que apodrece todas as instâncias… Granja do Torto, Piratini ou Casa Branca… Onde a insanidade se confunde com o próprio medo… onde números, grades e códigos escondem os mais negros segredos… Segredos que regem o mundo como uma divina comédia recheada de amargos temperos…
Mundo, planeta água, planeta terra… Mundo que nos fornece matéria-prima divina… E agora tenta se livrar do câncer… Com tsunamis, secas na Amazônia, Katrinas… Efeito da produção em massa, da burguesia minoria… Do relógio Rolex, casaco de pele, terno Armani, sorriso perfeito, com combustível cocaína, vendendo indultos em todas as esquinas, sustentando o caos à base da anarquia… onde na favela traficantes são deuses, e no asfalto, o calmante da família…
Anarquia do medo, anarquia da fome, anarquia do fim… Onde carros blindados são vítimas de si mesmos, com secretárias prostitutas e mulheres cheias de joias nos dedos… sustentando o morro com o vício que domina, olhando o moleque na rua, fome no prato, a noite vazia… Deixando pro resto apenas o desdém. Sou esse menino, e meu nome é Pedro. Mas podem me chamar de Zé. Zé ninguém.