A semana que se foi, prometeu. Ou melhor, deveria prometer –19 de Abril, Dia do Índio. Data que diz muito. Ou deveria dizer muito num país com mais de 300 povos e mais de 180 línguas indígenas. Semana de silêncio…
A data precisa ser comemorada, mesmo que a demarcação das Terras Indígenas esteja emperrada; mesmo que a PEC 215 ronde como um fantasma a ameaçar os povos indígenas; mesmo que a construção de hidrelétricas interfira no cenário e na vida da aldeia.
Há de se comemorar o protagonismo indígena que está avante, com o propósito de impedir arbitrariedades impostas pelos não índios. Afinal de contas, índios e não índios, há mais de 500 anos, não conseguem se entender. O relativismo cultural é desprezado por grande parte da sociedade brasileira para dar acento ao etnocentrismo, à discriminação, à exclusão.
A data deve ser comemorada tanto por indígenas como por amigos dos indígenas. Para comemorar a rica diversidade cultural indígena no país que, apesar das vicissitudes impostas pelo contato com os não índios, há um aumento considerável do contingente populacional e os indígenas vêm criando maneiras de sobreviver física e culturalmente.
Baby Consuelo cantou Todo dia era dia de índio. Mas agora eles só têm o dia 19 de abril. Vistos como gentes de culturas estáticas, os índios estão impedidos de dinamizar sua cultura, de procurar alternativas de vida e até mesmo de sobrevivência espiritual. Devem, para muitos, permanecer enclausurados em suas aldeias, presos em uma redoma de vidro, sem que possam interagir com as gentes não índias. Tupy or not Tupy? Sim, mas para isso é preciso que o Brasil possa vivenciar intensamente suas identidades. A unidade na multiplicidade.
O que se quer comemorar são visões de mundos singulares. Celebrar a diferença, quando os povos indígenas buscam construir um lugar dentro de uma sociedade pluriétnica. E que tenham reconhecido o direito a uma vida cidadã entre os seus iguais.