Em Começo, meio e fim, de Frei Betto, recém-publicado pela editora Rocco, conhecemos a pequena e inocente narradora-personagem que gosta de comparar pessoas a doces e conta como os domingos na casa dos avós são alegres e aconchegantes. Mas um domingo em especial estava diferente. Naquele domingo, sua avó não estava contente nem lembrava um doce, antes, farinha; seu avô nem mesmo veio cumprimentá-la na porta. A menina logo desconfia que algo está errado e imagina coisas terríveis, até ser levada ao quarto do avô e descobri-lo doente. E é aí que o avô inicia uma explicação sobre a existência e finitude das coisas, inclusive do mundo, e como é necessário que o que é velho morra para que haja espaço para o novo florescer.
Frei Betto trata a criança como um ser capaz de entender e lidar com uma situação tão complicada, apresentando a morte como uma consequência natural da vida – inclusive ao mostrar como nem sempre partimos quando estamos velhos e doentes, podendo acontecer abruptamente em um acidente, por exemplo. E em uma das passagens mais belas, o autor não assume nenhum tom de superioridade, tratando com respeito e normalidade que algumas pessoas não acreditem nem em religião, vida após a morte e nem em Deus. Sem buscar a verdade para si, o avô do livro assume que a crença em algo além é própria das religiões e também no que ele crê e de minha parte, penso que incentivar a crença de que a vida continua em outro lugar, ao lado de uma figura que transmite segurança, como Deus, é reconfortante e adequado para crianças, que não precisam lidar com a tristeza de não se crer em nada.
Com a leveza das ilustrações sensíveis de Vanessa Prezoto e a escrita delicada de Frei Betto, este é um livro que vale a pena ser lido com as crianças para introduzir e explicar um assunto tão difícil e inevitável quanto à morte. Independente da religião do leitor, ou da falta dela.