Cuiabá sediou por cinco dias o 1º Fórum Nacional de Políticas Públicas para o Setor de Esporte e Lazer para os Povos Indígenas. O encontro tinha como eixo principal discutir políticas públicas para a participação de atletas indígenas em grandes competições profissionais. Os grupos de trabalho se reuniram para discutir sobre formação, treinamento e participação de atletas indígenas em modalidades de alto rendimento. O fórum reuniu indígenas representantes de todos os estados brasileiros e de 190 etnias, de terça-feira (7) a sábado (11).
O fórum contou com uma extensa programação, que envolveu desde a formação de grupos de trabalho à atividades culturais. Conforme uma das responsáveis pelo evento, Beleni Grando, os debates sobre as políticas públicas foram conduzidos por meio de quatro eixos temáticos: Esporte, Lazer, Cultura e Território; Esporte, Lazer e Desenvolvimento Sustentável; Esporte, Lazer, Saúde e Educação e Esporte de Alto Rendimento; e Atletas Indígenas e terão a participação de representantes escolhidos pelos mediadores indígenas.
“A Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), já vem realizando trabalhos e pesquisas em diferentes cursos de graduação e pós-graduação, que envolvem índios nas atividades acadêmicas, sendo a pauta esportiva um dos temas. A universidade mantém ainda um programa de inclusão de estudantes indígenas, o Proind, que é parceiro na organização do evento. O Fórum foi organizado pelo Ministério do Esporte e pela UFMT”, explicou Grando.
A formação de atletas indígenas, a exemplo de Iagoara, nome indígena de Dream Braga da Silva, da etnia Kambeba (AM), também foi discutida no fórum. O atleta foi convocado para compor a equipe de arqueria brasileira e treina para participar dos Jogos Pan-Americanos de 2015 e Olimpíadas 2016. A iniciativa inspira outros jovens, que mantêm o domínio de práticas esportivas, porém não encontram incentivos para o desenvolvimento dessas atividades de forma profissional.
No encontro, três sugestões foram apresentadas pelo assessor técnico do Ministério do Esporte José Roberto Gnecco, para que os indígenas interessados sejam cada vez mais inseridos nos esportes: a captação de recursos, por meio da Lei de Incentivo ao Esporte; a criação, a partir de iniciativas indígenas, de federações esportivas nos estados onde ainda não existam, e a criação da Confederação Brasileira de Desportos Indígenas, que poderia organizar jogos nacionais e aumentar a participação dos índios nos esportes olímpicos.
Para o assessor, os indígenas só precisam de mais orientação para ocupar melhor esses espaços. “Temos material humano muito bom para o esporte de alto rendimento, que precisa ser orientado de forma que possa participar em pé de igualdade, ou melhor ainda, do que os atuais participantes não índios”, acrescentou.
O presidente da Confederação Brasileira de Tiro com Arco, Vicente Fernando Blumenschein, acredita que em 2024 a seleção brasileira será praticamente toda formada por atletas indígenas. Para ele, esse esporte está no sangue das populações indígenas, que têm muito a ensinar aos não índios. “Quando começou isso tudo, a família dele [Dream Braga] falou: ‘Não vá com a ideia de vingança do povo indígena pelo que o branco já fez conosco. Vá para ser um campeão’”, contou Blumenschein.
O atleta Dream Braga também deu depoimentos sobre alto rendimento. Ele ressaltou que segue bem os conselhos do povo Kambeba e não pensa em ganhar, mas em representar as populações indígenas do país. “Eu penso no meu povo. Eu estou lá porque me deram muito apoio, e eu estou lá pra representar os povos indígenas e o povo Kambeba.” (com assessoria).