“A vida está perdendo o sentido, no sentido que todos pensam nela. Não há ficção capaz de superar a incrível realidade que vivemos.” (Pluct Plact, da TerraBrasilis). Assim mesmo, totalmente introjetado do sentimento geral de ser humano, nosso alienígena enfileira pensamentos e reflexões desfilando perplexidades por sua tela intergaláctica. Segundo ele, “Não existem padrões, cada situação pode gerar uma nova interpretação dos parâmetros, com infinitas possibilidades distintas”. “Quase nada é o que parece ser e, daqui a pouco, perde seu significado correlato adquirindo uma conotação diversa e surpreendente”.
De acordo com o estupefato e profundo parceiro de vida e confidências da escriba, recolhida do lado de lá do túnel pra não ver tanta bagaça e surtar de vez, os exemplos de suas premissas eram muito interessantes apesar de, normalmente, depreciarem o significado original de verbos, substantivos e adjetivos oriundos do idioma local.
A saber: o verbo intransitivo “pedalar” não é mais o simples ato de “fazer mover os pedais”, como os das bicicletas, ou uma jogada esportiva cheia de ginga. Pedalar é categoria econômica designando artifícios financeiros. A pedaladas fiscais servem para inflar o chamado superávit primário, com o uso de recursos de bancos públicos (falamos aqui de 40 bilhões), para melhorar as contas públicas.
Pedalar serve para maquiar e é atrasando o movimento de repasses que o efeito se faz sentir, dizem por unanimidade os membros do Tribunal de Contas da União, o TCU. Pedalar, de um exercício físico quase perfeito, tornou-se crime de responsabilidade fiscal!
Outro termo deturpado e distorcido nos dias atuais é “economia criativa”. Substantivo e adjetivo. O conceito criado para abrigar iniciativas criativas e intelectuais populares, também entrou para o glossário surreal como uma espécie de macro pedalada. Ela faz que vai. Serve para enganar a torcida, quer dizer, os eleitores. Mas dá pra trás e ainda pode provar um processo traumático chamado impeachment. Uma loucura! Tanto para a economia quanto para a criatividade, ambas utilizadas no mais baixo patamar de seus significados.
E não é só isso, continuou analisando o nosso amigo da outro planeta, sob o olhar atônito da reclusa, cada vez mais convencida que é melhor apagar a luz no fim do túnel e ficar ali, bem escondida na penumbra dessa (ir)realidade distorcida. Segundo ele, é essencial que se tente um contato, nem que seja de terceiro grau, com a parente fugitiva do agora ex-responsável pelo tesouro e planejamento da agremiação partidária vencedora do último pleito, a detentora de um segredo matemático financeiro capaz de transformar a aquisição de um bem em construção por 200, numa generosa devolução de 400, mesmo tendo a produtora do mesmo vendido similares concluídos por meros 337. Tudo mil e reais… Melhor ainda, sem que a recolhedora do quinto sequer desconfie da transação.
Na verdade, parece que essa característica de multiplicação de numerário faz parte do de um dom familiar. A herdeira do mesmo segundo tesoureiro encarcerado também teve um aumento estupendo de patrimônio, um fenômeno galáctico a dissecado e, por que não, assimilado…
Nesse ponto, a cronista, que fazia a correção dos rascunhos a serem transmitidos, teve um a-ta-que. Com a chegada do socorro, tentava convencer a todos que a doente não era ela mas, sim, seu amigo invisível que começava a delirar, contaminado pelo vírus maligno da corrupção vigente.
Tomou um cala boca e, enquadrada, foi recolhida aos costumes. Onde já se viu falar sozinha e ainda pedir para que alguém a ajudasse a salvar os planetas irmãos do universo da praga que, todos sabiam, já era endêmica? A corrupção não era só financeira e moral, tinha virado doença contagiosa. Ela estava fora da realidade. O mal, já estava feito. Era a primeira praga…