Tyra Banks abriu um sorriso e papeou à toa com um público cativo recentemente, exibindo seu novo corte de cabelo curtinho. Depois, mostrou uma mecha castanho-avermelhada para a plateia, perguntando quase em tom zombeteiro: "Ainda gostam de mim agora?".
Banks não estava no cenário de seu programa diário na televisão nem desfilando na passarela na Semana de Moda de Nova York. Ela estava olhando para a câmera do celular usando uma versão de teste do Periscope, aplicativo para transmissão ao vivo de vídeo que o Twitter lançou em 26 de março, mais um em meio à febre de programas semelhantes com nomes como Meerkat e Camio que estão tomando de assalto a mídia social.
A premissa do Periscope, do Meerkat e de outros é simples: capturar vídeo de si mesmo fazendo qualquer coisa, de conhecer uma cidade nova a brincar com o cachorro, usando apenas a câmera do smartphone. Os aplicativos notificam os outros que você está transmitindo um vídeo ao vivo de si mesmo, que pode ser compartilhado com amigos e seguidores.
O conceito não é novo e resultou no fracasso de várias empresas iniciantes no passado. Durante anos, empreendedores tentaram tornar o vídeo ao vivo uma febre na multidão, com empresas como YouNow, Justin.tv e Livestream oferecendo suas versões de transmissão pessoal.
Recentemente, no entanto, aconteceu uma espécie de renascimento dos aplicativos de transmissão ao vivo. Empresas como o Twitter e investidores de risco estão gastando milhões de dólares em sua aposta do que será a próxima grande novidade a fisgar os consumidores.
"O mundo está mais bem preparado para isso do que há um ano. Temos a vantagem de entrar nesse mercado quando as pessoas entendem melhor a ideia da transmissão ao vivo", disse Kayvon Beykpour, principal executivo e fundador do Periscope, adquirido pelo Twitter neste ano.
A mudança é impelida por progressos tecnológicos e a onipresença dos smartphones, bem como pelos anos que deixaram as pessoas mais à vontade para revelar informações sobre si mesmas na internet por meio de textos e fotos. Com os novos programas de vídeo, o humorista Jimmy Fallon transmitiu ao vivo o ensaio de um monólogo para seu programa de entrevistas que vai ao ar tarde da noite. Al Roker, um dos apresentadores de "Today", transmitiu o buxixo nos bastidores do programa matinal e investidores do Vale do Silício apontaram a câmera do celular para si mesmos em atividades como gravar podcasts ou fazer apresentações.
"De repente, os bolsos do mundo estão cheios de câmeras e telas boas com planos de dados bons e plataformas sociais boas para deixar todo mundo saber que você está transmitindo", disse Chris Sacca, fundador e presidente da Lowercase Capital e um dos primeiros investidores no Twitter.
Em comunicado oficial, Tyra Banks disse que o Periscope era uma "plataforma maravilhosamente voyeurística e acho incrível que as coisas que transmito possam ser vivenciadas ao vivo por outras pessoas".
Entretanto, a safra atual de aplicativos de transmissão ao vivo tem um histórico de fracassos de programas para vídeo. A Viddy, empresa de filmagem que era a queridinha do Facebook em 2012 e que arrecadou dezenas de milhões de dólares, experimentou picos iniciais de atividade e chegou a ser vista como o "Instagram do vídeo". O concorrente Socialcam era praticamente visto do mesmo modo. Os dois programas foram por água abaixo ou foram adquiridos depois que o interesse do consumidor minguou.
Isso não impediu o Twitter de apostar alto na tecnologia. A empresa de São Francisco gastou quase US$ 100 milhões para comprar o Periscope meses atrás, antes de o programa ter sido lançado, segundo duas pessoas por dentro do assunto. De acordo com essas fontes, Dick Costolo, diretor-presidente do Twitter, é particularmente "obcecado" com usar o aplicativo para filmar em tempo real, da mesma forma que o Twitter captura conversas em tempo real.
Beykpour declarou que uma vantagem do Periscope era o fato de o tempo de espera ser curto entre a transmissão e a capacidade de enviar respostas em texto para quem transmite, em essência permitindo que as pessoas se comuniquem com o transmissor praticamente em tempo real. O Periscope também se aproveita dos seguidores de um usuário do Twitter para formar rapidamente um público potencial, e o programa sugere outros usuários ativos do Periscope como indivíduos a serem seguidos. Além disso, o aplicativo permite que o usuário armazene vídeos para reexibição ou compartilhamento posterior.
Embora o Periscope opere de forma independente do proprietário corporativo – de forma parecida ao Vine, aplicativo de vídeo de formato curto de propriedade do Twitter –, ele tem acesso ao dinheiro e suporte técnico do dono.
Todavia, o Periscope tem concorrência, incluindo o Camio e – em particular – o Meerkat, que surgiu em março e chamou a atenção de consumidores e celebridades. Em questão de dias após o lançamento do Meerkat, seu uso explodiu e chegou a se tornar o 177º programa mais baixado nos Estados Unidos e o 22º mais popular nas redes sociais, segundo a App Annie, consultoria de análise móvel. Fazer um vídeo ao vivo está se tornando um verbo em inglês, "Meerkating".
Boa parte disso veio do surto de popularidade do Meerkat durante o South by Southwest, conferência de música e tecnologia realizada em Austin, Texas, onde diversas empresas novatas chamaram a atenção, criando burburinho.
O Periscope foi desenvolvido durante um ano, mas o Twitter fracassou ao lançar e comercializar o produto rapidamente depois que comprou a empresa em janeiro, disseram fontes próximas ao Twitter. Isso deixou o Meerkat ocupar os holofotes. Poucas semanas atrás, o Twitter restringiu o acesso do Meerkat a seu gráfico social, ou seja, os seguidores de um usuário do Twitter não apareceriam automaticamente no Meerkat.
O sucesso de Ben Rubin, fundador do Meerkat, não veio da noite para o dia. Ele fundou o Yevvo, outro aplicativo para transmissão ao vivo de vídeos que estreou em 2012, mas com pouco sucesso. Por fim, o Yevvo se rebatizou como Air, que também fracassou.
Agora investidores estão ansiosos em financiar o Meerkat. A empresa disse em 26 de março que arrecadou US$ 14 milhões do grupo de capital de risco Greylock Partners e outros investidores, tais como Chad Hurley, um dos fundadores do YouTube, e o ator Jared Leto. Em publicação on-line, Josh Elman, sócio da Greylock, disse ter investido no Meerkat porque "parece que estamos no alvorecer de uma nova era do vídeo ao vivo".
"Pense na cultura do selfie hoje. Culturalmente, nós chegamos ao ponto em que as câmeras são mais comuns e as pessoas começaram a se sentir à vontade com o vídeo", disse Rubin.
Fonte: iG