Coincidentemente há um ano, a Arena Pantanal, antigo estádio José Fragelli, teve sua ‘inauguração’ com o empate sem gols entre Santos e Mixto pela Copa do Brasil 2014. A poucos dias do 293º ano de fundação, Cuiabá reviveu uma época esquecida no futebol nacional. Voltou a ser visto no Brasil e até abrigou grandes times como Corinthians, Santos e Internacional.
Mas o esporte que atrai multidões já teve uma época mais movimentada e que levou centenas de milhares de torcedores ao antigo Verdão. Foi a época de ouro de equipes como o Bom Bosco, recém-revivido e que atualmente joga na primeira divisão do estado; O grande Mixto Esporte Clube, que também luta nos torneios regionais, além do seu arquirrival Operário Várzea-grandense.
Tempos idos e que arrancam boas gargalhadas da torcedora-símbolo do Alvinegro da Getúlio Vargas, Nhá Barbina. “Tempo que nós reuníamos a turma e íamos torcer pelo Mixto. Naquela época os jogadores realmente vestiam a camisa e jogavam direito”, relembrou Barbina, segurando uma foto antiga do seu time do coração. Em meio a palavrões e um lindo sotaque cuiabano, ela ri e vive a nostalgia de uma época que se foi no tempo, em meio a fotos, lembranças, alguns amigos e muita saudade da torcida organizada.
O time teve dias de grandes viagens, como uma para o Rio de Janeiro onde enfrentou o grande Vasco da Gama. “Nós juntávamos todo mundo e íamos de ônibus junto com o time, para ajudar e assistir os jogos. Fazíamos uma festa muito bonita e se precisasse brigávamos também pelos nossos jogadores”, contou a torcedora apaixonada.
Do outro lado da cidade, o arquirrival Operário Várzea-grandense (CEOV), que também marcou a história regional no futebol também, tem história. Assim como a torcedora do Tigre, o ex-jogador do Operário, Pulula as Silva, tem grandes histórias para contar do futebol mato-grossense.
O clube surgiu lá no fim da década de 40, liderado por Rubens dos Santos, com apoio do Bispo Campello de Aragão. “Em 1967, Rubens dos Santos, ao lado de dirigentes como Ranulfo Paes de Barros, Joaquim de Assis, Macário e Agripinio Bonillia, implantavam o futebol profissional aqui”, rememorou. A decisão do campeonato, conhecido com o “Clássico dos Milhões”, aconteceu diante do seu maior rival, Mixto, onde com duas vitórias, 1X0 e 3X1 respectivamente, o CEOV ficou com o título.
O ex-ponta foi negociado com o Clube Esportivo Operário Várzea-grandense, em 1973, passando a se chamar Zé Pulula. No Tricolor ganhou todos os títulos possíveis e foi até convocado para a seleção mato-grossense. Após uma lesão grave no joelho, Zé Pulula precisou parar de jogar, voltou para Mato Grosso e assumiu as categorias inferiores do Operário. Por insistência do treinador Milton Buzeto, na época, técnico do tricolor, quase operou o joelho e voltou a jogar.
Natural de Pará de Minas/MG, José Eustáquio Pulula da Silva, ex-ponta direita do Operário, hoje mora em Várzea Grande, onde é comunicador sertanejo. Lula faz questão de agradecer que se hoje tem uma vida tranquila ao lado da família e amigos, agradece também ao “Velho Guerreiro” Rubens dos Santos, fundador e eterno presidente do CEOV. “Foi quem ao lado do falecido filho Renato dos Santos, me deu a oportunidade de vencer na vida, conseguindo uma profissão após o futebol”, finalizou.
O clube mais antigo da capital, Dom Bosco, fundado em 1925, retornou a elite do futebol mato-grossense neste ano. O clube que era frequentado pela elite cuiabana do século passado e também teve seus momentos de glória na história do futebol regional. O encontro entre Dom Bosco e Mixto é conhecido como "Clássico Vovô", por ser o clássico mato-grossense mais antigo.
Apaixonado desde os oito anos de idade pelo clube, o ex-jogador do Leão da Colina, Carlinhos Iê Iê, contou por telefone como se sentiu feliz com o retorno do clube aos gramados. “Todo mundo me perguntava quando o Dom Bosco ia voltar e agora que nós vemos nosso time de novo é muito bom”, disse.
Com sérios problemas de saúde, o dombosquino já perdeu a visão de um olho e precisa fazer hemodiálise regularmente, mas nem todos esses problemas tiram a alegria do torcedor. “Minha família toda participava do Dom Bosco, comecei a jogar bola e acabei jogando no time. Hoje sou um dos maiores torcedores”, comentou. Iê Iê, que termina anunciando que ainda verá o Dom Bosco ser tri-campeão.