Caminhado pelas estreitas ruas do centro da capital, o olhar desatento pode deixar passar o lado bom que Cuiabá tem a oferecer. A arquitetura com seus casarões, igrejas suntuosas, morros, bares, restaurantes e museus são alguns dos muitos atrativos da calorosa cidade. Aos olhos virgens de um turista, a cidade tantas vezes criticada, oferece um mundo de possibilidades, sons, sabores e experiências singulares.
Como em uma viagem, o tempo na capital de Mato Grosso une beleza rústica com a sofisticação contemporânea. O olhar atento pode também identificar coisas não visíveis como a cultura popular, o linguajar único e o sentimento de acolhimento e pertencimento que Cuiabá oferta aos seus visitantes. Por conta disso, a noite cuiabana conta com uma variável saborosa, que vai dos quitutes típicos da região à culinária internacional, de japonesa à mexicana.
Um retorno aos tempos áureos, ao som do chorinho ou mesmo do lambadão. Quem nunca ouviu falar do esquineiro Choppão e o seu famoso escaldado, conhecido por todo boêmio? Seu ambiente acolhedor não conta com climatização, tornando aquele ‘chope geláááádo’ ainda mais gelado. Os garçons são antigos e conhecem os clientes habituais pelo nome.
Cuiabá tem aquela nostalgia de tempos idos da infância, que remonta às reuniões de fim de tarde da família, quando três gerações, no mínimo, se encontravam para conversar à sombra da mangueira e ao som do violão. “Sou completamente apaixonada pelos quintais de Cuiabá. Pelos sabores da culinária, a carne seca, o quiabo, o maxixe, as tardes perdidas com conversa ao lado de nossos amigos e familiares. Pelo contato com os cajueiros e as redes armadas nas varandas”, narrou com amor a poetisa Luciene Carvalho.
“Sentaí! Vem ajodá cô’nois!” e é assim que a poetisa define o lado bom de Cuiabá, com um lado emocional do povo que abraça a diferença e acredita no acolhimento. “Cuiabá é o povo, é o linguajar inconfundível. É a farofa de banana e o peixe assado. É cururu, é siriri. É viola de cocho e também é abraço forte e conversa alta!”, diz.
É a experiência que pode ser (re)vivida no quintal de Dona Domingas Leonor, com a culinária mato-grossense e com mesas à sombra das mangueiras do bairro São Gonçalo Beira Rio. “A senhora Domingas abriu os portões sua casa e transformou o local em ponto turístico, mas acima de tudo em um lugar de preservação da cultura cuiabana”, contou Luciene.
Quem adentra o corredor estreito, com paredes multicoloridas e decoradas com utensílios de cozinha antigos em estilo rústico, se surpreende com o local de forte cultura típica. Sobre as mesas, luminárias de várias cores e com velas. Os discos de vinil de cantores de bossa nova, MPB, samba de raiz e pop-rock casam com o agradável ambiente familiar. Esses são os elementos que marcam o restaurante Fundo de Quintal, localizado na área central de Cuiabá.
Ah! A Praça Popular! Quem conhece Cuiabá com certeza passou pelos bares e restaurantes da região. Em uma reunião com os amigos ou no ‘happy hour’ com os colegas de trabalho, o pessoal vai pra tomar um chope, comer e, como não poderia faltar, dar aquela espiadinha em quem passa, o famoso ‘ver e ser visto’. E quem passar lá para um café da tarde, encontrará a opções com as padarias Sorella e Vienna, além da Bolo de Arroz e Cia.
Tarde da noite, bem além da praça, cantores de música sertaneja ajudam a animar o ambiente com shows. Quem prefere outros ritmos, como MPB e música eletrônica, também os encontra em bares e casas noturnas de Cuiabá.
Cuiabá tem, também, sua história e faz questão de mostrá-la, como no Museu do Morro da Caixa D'Água Velha. Além do contato com a história antiga da cidade em suas galerias subterrâneas, sua praça permite a proximidade com uma bela timbaúva, árvore gigante, nativa do Pantanal. A cultura indígena do Mato Grosso, em suas manifestações com arte, artesanato e objetos coletados nas aldeias, pode ser conhecida em espaços como a Casa do Artesão e o Museu Rondon, este no campus da Universidade Federal do Mato Grosso.
Mudar o olhar e ver, a dica vale para quem é da terra e está perdendo tantas belezas pela cegueira do dia a dia.