Dois veículos internacionais informaram, na tarde desta terça-feira (31), que tiveram acesso a um vídeo registrado dentro do avião da Germanwings, momentos antes de ele cair nos Alpes franceses. A revista "Paris Match", da França, e o jornal "Bild", da Alemanha, não divulgaram as imagens, mas afirmaram que tiveram acesso a elas, e publicaram descrições do que estaria registrado no material.
Segundo os dois veículos, a versão apresentada no vídeo pode ser confirmada com o áudio registrado na caixa-preta, que registra as vozes dentro da cabine dos pilotos. O arquivo do vídeo foi encontrado em um telefone celular resgatado entre os destroços do avião por "uma fonte próxima da investigação", diz a "Paris Match".
De acordo com a publicação francesa, que divulgou a informação em francês, espanhol e inglês, a cena é descrita como "caótica", e nas imagens não é possível identificar as pessoas. "mas os sons dos passageiros gritando tornam perfeitamente claro que eles estão cientes do que estava para acontecer com eles".
Ainda de acordo com a revista, "é possível ouvir gritos de 'meu Deus' em diversas línguas".
"Batidas metálicas também podem ser ouvidas mais de três vezes, talvez do piloto tentando abrir a cabine com um objeto pesado. Perto do fim, após um forte chacoalhão, mais forte do que os anteriores, os gritos se intensificam. Depois, nada."
Supostas conversas da caixa preta
O jornal "Bild" havia publicado no domingo as supostas conversas que estariam gravadas na caixa-preta do avião.
Segundo o tabloide alemão, antes mesmo da decolagem, em Barcelona, na Espanha, o comandante Patrick Sonderheiner disse para o copiloto Andreas Lubitz que não tinha tido tempo de ir ao banheiro. O voo partiu para Düsseldorf, na Alemanha, com 20 minutos de atraso, às 10h01.
Às 10h27, o piloto orienta Andreas a preparar o pouso. Andreas, segundo o jornal, diz: "você pode ir agora". O piloto responde: "você pode assumir o controle". O piloto sai da cabine. E ouve-se a porta fechando pela última vez.
Às 10h29, o controle aéreo detecta que o avião começou a descer. O piloto bate na porta e grita: "Pelo amor de Deus, abra a porta". Ouvem-se os gritos dos passageiros.
Às 10h35 a caixa-preta registra sons de golpes com um objeto metálico na porta, era o piloto tentando arrombar a cabine.
Às 10h36, um alarme dispara um alerta em inglês: “Terrain, pull up", o solo, levante. Em seguida, ouve-se uma nova batida forte na porta e mais um grito do comandante: "Abra a maldita porta".
Às 10h38: enquanto o avião desce é possível ouvir a respiração calma de Andreas. Às 10h40: um som que parece ser o da asa direita raspando em uma montanha. Gritos dos passageiros são ouvidos uma vez mais. São os últimos sons registrados.
O voo da Germanwings caiu na última terça-feira (24), matando as 150 pessoas a bordo. O voo partiu de Barcelona (Espanha) para Düsseldorf (Alemanha) e, segundo os promotores franceses, foi derrubado pelo copiloto Andreas Lubitz "deliberadamente".
Copiloto teria avisado sobre depressão
A companhia aérea Lufthansax informou nesta terça-feira (31) que o copiloto do avião da Germanwings que caiu nos Alpes franceses há uma semana informou à empresa que, em 2009, havia sofrido um episódio depressivo grave.
A companhia entregou documentos à procuradoria, incluindo e-mails de Andreas Lubitz a seus instrutores de voo. "Nesta correspondência, ele informou à Escola de Treinamento de Voo em 2009… sobre um 'severo episódio de depressão", afirma o comunicado.
No entanto, ele teria obtido um atestado médico de aptidão para pilotar, segundo a companhia, que é dona da Germanwings.
A empresa afirma ter enviado "no interesse da elucidação rápida e sem falhas" das circunstâncias da tragédia essas informações, obtidas "após uma investigação interna."
Desta forma, a Lufthansa forneceu à procuradoria todos documentos referentes ao treinamento de Lubitz, seus "registros médicos" e "correspondência entre o copiloto e a escola de pilotagem".
É nesta correspondência que o jovem forneceu em 2009 documentos médicos comprovativos de que era capaz de retomar a sua formação, apesar de já ter sofrido um "episódio depressivo grave."
O presidente da Lufthansa, Carsten Spohr, que deve visitar o local da tragédia nesta quarta-feira, havia dito na semana passada não ter "nenhuma pista" sobre os motivos do copiloto, que teria deliberadamente lançado a aeronave contra os Alpes franceses, matando todas as 150 pessoas a bordo.
Tendências suicidas
Nesta segunda-feira (30), a promotoria de Düsseldorf, na Alemanha, afirmou que Lubitz passou por tratamento para tentar conter tendências suicidas no passado.
“Muitos anos atrás, antes de obter sua licença de piloto, o copiloto passou por um longo período de tratamento psicoterápico, com tendências suicidas visiveis”, disse o escritório da promotoria.
Segundo a promotoria, até agora não há sinais de que ele tinha tendências suicidas atualmente, segundo suas recentes idas ao médico.
A promotoria também afirmou que não vai entrar no mérito das especulações sobre os motivos do copiloto Andreas Lubitz, que segundo as autoridades teria derrubado deliberadamente o avião da companhia alemão. Segundo o órgão, não há pistas sobre o que teria motivado a ação do copiloto.
Problemas de saúde
Relatos da imprensa internacional apontam problemas enfrentados pelo copiloto que podem ter sido um fator na queda do avião.
Segundo o jornal francês "Le Parisien", Andreas Lubitz, de 27 anos, sofria de transtorno de ansiedade generalizada (TAG).
Os médicos que o atenderam em 2010 aplicaram injeções de olanzapina, que tem efeito antipsicótico, e recomendaram que Lubitz praticasse esportes para recuperar a autoconfiança.
Lubitz também aparentava ter problemas com o sono, para o qual foi recomendado a usar o antidepressivo agomelatina.
A promotoria de Düsseldorf informou nesta sexta-feira (27) que encontrou documentos médicos "que apontam uma doença e o tratamento médico correspondente" na casa de Lubitz, em Düsseldorf, e na de seus pais, na cidade alemã de Montabaur.
O site do jornal alemão "Die Welt" informou na semana passada que agentes da polícia acharam vários remédios para tratar um grave "transtorno psicossomático" no apartamento em Düsseldorf.
Segundo o jornal americano "The New York Times", Lubitz também tinha problemas de visão que poderiam ter colocado em risco seu trabalho.
Fonte: G1