Cidades

Pichação e grafite: formas de expressão que vêm da rua

Em diversos pontos da cidade encontramos diferentes formas de arte nos muros de cada esquina, as pichações e os grafites. Mas o que eles querem dizer? Por que o fazem? Para um leigo, grafite e pichação não passam de rabiscos feitos com tinta nos muros, ou pura e simplesmente contravenção. Entretanto, os entendidos do assunto pontuam que há uma grande diferença entre eles.

O grafite é considerado uma arte urbana, enquadrado ao “street art” – em tradução livre, arte urbana. A pichação, além de não ser considerada arte, é crime previsto em lei. Em outros termos, pode ser avaliada como vandalismo.

O conceito das duas é distinto, porém quando se aproxima da realidade de pichadores e grafiteiros, vemos que existem muitas semelhanças. Desde 2011 o grafite é legalizado no Brasil. Se tratando de locais públicos, uma autorização prévia é feita no Executivo municipal. Quando os bens são particulares, a autorização deve ser feita pelo proprietário do local.

Em uma pequena volta pela capital mato-grossense, pode-se ver obras assinadas dos grafiteiros Jean Siquera e Babu Seteoito. Ambos, hoje, produzem vertentes diferentes da grafitagem, porém tiveram início na mesma escola: a pichação.

Os grafiteiros, por amor à arte, muitas vezes tiram dinheiro do próprio bolso para contribuir com a arte na cidade. Segundo Jean, esse tipo de arte tem um grande poder social e ajuda muitos jovens. “Acredito que não só o grafite, mas a arte em geral – a dança, os esportes – pode mudar a vida de muitas pessoas, principalmente das mais necessitadas da periferia”, destaca.

Babu atualmente vive o que para vários artistas ainda é sonho: tira seu sustento exclusivamente da arte. “O grafite hoje é um mercado muito promissor. Há consumidores da arte, galerias de arte urbana. Grandes empresas estão apostando e financiando artistas”, conta Babu, que já estampou até um ônibus do transporte público com a sua arte.

Entretanto, ele afirma não esquecer sua origem: a rua. “A minha arte é pintar na rua. É pintar na cidade”. Mesmo sabendo que, ao pintar muros, a qualquer momento a sua arte pode ser excluída. Uma mão de tinta e a arte se foi. Ainda assim faz grafites muros afora, como forma de protesto, dando cor a muros cuiabanos.

O artista segue uma vertente chamada “Bomb”, que são pinturas de ação, usando apenas duas cores e feitas em apenas em algumas horas – obras de outras vertentes do grafite podem demorar dias. O grafiteiro ainda lembra que a dupla mais famosa do grafite, Os Gêmeos, usam essa mesma modalidade. “O bomb foi quem tornou o grafite público”, revela Babu.

A pichação, por exemplo, é feita em uma cor só. Babu explica que é um tipo de linguagem: “São códigos urbanos. Caracteres que falam sobre determinado grupo. Uma iconografia urbana”. Ele completa dizendo que a arte rompe barreiras estéticas e têm viés político. “É uma arte que não existe sem conflito”, relata o grafiteiro.

Controvérsias

O Brasil é um dos países referência na pichação e no grafite. Para Siquera, este tipo de expressão diz o que a cidade realmente clama, além de dar outro visual ao cinza no cotidiano urbano. “O grafite é uma arte que está exposta na rua para quem quiser ver. Seja um simples desenho decorativo ou uma crítica contra algo, uma necessidade de externar um sentimento que está guardado dentro de cada artista que sai de madrugada na companhia da sua mochila, seu fone de ouvido e suas latas de spray”.

Embora o grafite seja algo amplamente reconhecido no mundo, em Cuiabá ainda há suas barreiras. Jean revela que já foi reprimido por contribuir com a arte urbana. E o mais curioso de tudo é que a própria população promove as denúncias.

“Em Cuiabá as pessoas não sabem muito bem distinguir um grafite do ‘picho’, e marginalizam a pichação. Muitas vezes eu estava pintando e era abordado por policiais. A denúncia partia de populares que chamavam a polícia porque ‘tinha marginal pichando um muro’. Eu não sou um marginal, eu trabalho e pago meus impostos como todos”, desabafa.

Caso recente

A madrugada do dia 25 de fevereiro foi especialmente marcante para três jovens artistas cuiabanos: Simone Ishizuka, André Gorayeb e André Eduardo. Eles foram detidos por grafitar uma das laterais da Trincheira Santa Rosa, na Avenida Miguel Sutil, em Cuiabá. Diante dos fatos, houve ampla discussão entre a prefeitura, governo do Estado, parlamentares e sociedade.

Em protesto contra a detenção dos colegas, grafiteiros e interventores urbanos, dois dias após o ocorrido, se reuniram para uma ocupação artística na Trincheira Jurumirim. Na manifestação, artistas coloriram parte de um dos muros da via com a arte.

 

Cintia Borges

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