Cientistas descobriram 30 novas variedades de feijão que são capazes de se desenvolver bem em temperaturas até 4ºC acima da média. Diante da perspectiva de que o aquecimento global pode comprometer a produção de feijão de vários países, inclusive do Brasil, trata-se de uma alternativa importante.
O estudo que levou ao desenvolvimento das novas linhagens de feijão foi promovido pela CGIAR – uma parceria global para pesquisas sobre agricultura – e apresentado em uma conferência organizada pelo governo alemão em Adis Abeba, na Etiópia.
No começo, a pesquisa focava no desenvolvimento de feijões que pudessem sobreviver a solos pobres em nutrientes e secas. A busca por uma plantação que fosse resistente ao calor começou em 2012, depois que cientistas do CGIAR avaliaram que o aquecimento global poderia ameaçar as plantações em várias regiões do mundo.
De acordo com os pesquisadores, o aquecimento global poderia prejudicar as plantações de feijão no Brasil, Nicarágua, Haiti, Honduras, Malawi, República Democrática do Congo, entre outros países.
"Quando nossos colegas que trabalham com mudanças climáticas e modelos climáticos calcularam que até 50% das áreas de cultivo de feijão poderiam ser perdidas devido ao estresse provocado pelo calor na metade do século, percebemos que era necessário fazer algo", disse Steve Beebe, pesquisador sênior do CGIAR, ao G1 por e-mail.
Para chegar aos tipos de feijão resistentes às altas temperaturas, foram testadas mais de mil linhagens de feijão. Boa parte das variedades resistentes ao calor foram obtidas por meio de cruzamentos entre os feijões comuns e o feijão tepary (Phaseolus acutifolius), que é cultivado desde a era pré-colombiana no norte do México e é conhecida por resistir bem a secas.
Apesar de o cruzamento interespecífico ser usado há muitos anos para melhorar a qualidade do feijão comum, o cruzamento entre o feijão comum e o tepary ainda era um desafio, segundo Beebe.
"Confirmamos que 30 linhagens tolerantes ao calor são produtivas, mesmo com temperaturas noturnas acima de 22ºC", disse Steve Beebe, pesquisador sênior do CGIAR. Segundo ele, normalmente o rendimento do feijão começa a cair quando as temperaturas são superiores a 18 ou 19ºC. Os feijões foram testados na Colômbia, em Porto Rico e em Moçambique.
"Como resultado dessa inovação, o feijão não precisa mais ser a vítima do aquecimento global que parecia destinado a ser, mas pode oferecer uma opção adaptada ao clima para agricultores que lutam para lidar com o aumento das temperaturas", diz Andy Jarvis, especialista em clima do CGIAR.
A partir de agora, esses feijões serão distribuídos entre parceiros em programas nacionais no mundo, especialmente na América Central e na África Ocidental para entrarem em esquemas experimentais, segundo Beebe. Trata-se de uma exigência a se cumprir antes de uma variedade nova ser distribuída a agricultores.
Fonte: G1