Essa foi a resposta do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, ao presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, na última visita do dirigente à capital fluminense, em fevereiro. Bach chegou a dizer que talvez tivesse "a oportunidade de apertar as mãos de operários pessoalmente, enquanto eles terminam os últimos trabalhos", na cerimônia de abertura dos Jogos, em 5 de agosto de 2016.
Por enquanto, porém, pelo menos três promessas da Rio-2016 não serão entregues a tempo: uma estação da linha 4 do metrô (que ligará a zona Sul à zona Oeste, principal local de competições olímpicas), o plantio de 24 milhões de árvores para compensar a emissão de gases causadores do efeito estufa e a limpeza das lagoas da Barra e Jacarepaguá, vizinhas ao Parque Olímpico. Três projetos que não têm influência na competição esportiva e são parte do legado deixado à cidade.
Um quarto projeto que não deverá ficar pronto é o da limpeza da Baía de Guanabara, este sim com implicações esportivas, já que a localidade receberá a competição de vela. "É uma pena, uma oportunidade perdida. Embora as competições ocorram próximas à Boca da Baía, onde o controle é mais fácil, o serviço não será completo", disse o prefeito Paes, a 500 dias do início da Olimpíada.
A polêmica sobre a baía já ganhou páginas no noticiário internacional, especialmente pelas declarações conflitantes que marcam os anos que antecedem o evento. Outra polêmica que afeta o legado olímpico para a cidade – negativamente – é a construção do campo de golfe em área de reserva ambiental.
Controvérsias sobre o legado à parte, as obras dos locais de competição avançaram e, um ano após o COI ter dito que os Jogos do Rio eram "os mais atrasados da história", a organização conseguiu reverter o quadro. A 500 dias do início, a prefeitura e o comitê organizador Rio-2016 dizem que as obras estão em ritmo avançado e que tudo estará pronto antes do prazo. Em agosto deste ano, acontecerão os primeiros dos 44 eventos-teste para os Jogos nas instalações olímpicas.
O velódromo e o centro de hipismo foram os pontos de preocupação alertados pelo COI na última visita, mas a prefeitura garante já ter corrido atrás do prejuízo.
Águas poluídas
A limpeza da Baía de Guanabara tem sido uma das grandes polêmicas dos Jogos. No primeiro evento-teste para os Jogos, realizado ainda em agosto de 2014, a Regata Internacional de Vela ficou marcada pelas reclamações dos atletas sobre a quantidade de lixo encontrado na baía.
"Pra nós, o mais importante é a quantidade de detrito, que atrapalha a performance do barco. Quando um saco plástico fica preso no barco, fica muito mais difícil, a resistência da água fica maior", disse o cinco vezes medalhista olímpico e técnico da seleção brasileira de vela, Torben Grael, à BBC durante o evento.
Ele ainda insistiu que "haveria risco de uma corrida ser decidida pelo lixo" se nada fosse feito para minimizar o lixo flutuante da baía.
Desde então, houve muitas idas e vindas sobre o tema. De início, o governo estadual reiterou seu comprometimento com a meta de tratar 80% do esgoto despejado na baía até a Olimpíada. No entanto, o novo secretário estadual do Meio Ambiente, André Corrêa, admitiu em janeiro que a promessa não seria cumprida.
"Aquela questão de meta, 80% de carga orgânica, aquilo não vai acontecer. Precisamos agir com transparência, estamos revendo todo caderno olímpico", disse ao SporTV.
Na última visita do COI ao Rio, no mês passado, o governador Luiz Fernando Pezão desconversou. "Se não chegarmos a 80% de despoluição, o importante é que saímos de 17% do esgoto tratado para 49%. Vai ficar como legado para a cidade."
Em nota à reportagem, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente não confirmou se houve mudança na meta para 2016, mas disse que "as medidas para despoluição da baía estão sendo readequadas" e que em breve será anunciado um novo plano de recuperação com Parcerias Público Privadas.
Segundo a pasta, a zona de competições de Vela já passou por testes do Inea (Instituto Estadual do Meio Ambiente) e "apresenta índices compatíveis com os padrões internacionais", não havendo, assim, maiores prejuízos aos atletas.
A Secretaria disse ainda que "está elaborando um novo projeto para implantação de ecobarreiras, mais robustas, tendo como exemplo outras experiências no mundo", para combater o lixo flutuante.
O governo do Estado, também controlado pelo PMDB, não comentou as declarações dadas nesta semana pelo prefeito Eduardo Paes, do mesmo partido, sobre a "oportunidade perdida" pela cidade para limpar a baía.
As lagoas da Barra e de Jacarepaguá também deveriam estar limpas até os Jogos de 2016, de acordo com a promessa feita no dossiê de candidatura. A Secretaria do Meio Ambiente, porém, já disse que não haverá tempo suficiente para a despoluição do complexo, mas que haverá avanços até a Olimpíada.
Linha 4
A nova linha do metrô é considerada o principal legado dos Jogos para a cidade. Serão seis novas estações para ligar Ipanema à Barra da Tijuca, a serem inauguradas em julho de 2016, a um mês dos Jogos.
A estação Gávea, porém, não ficará pronta. Segundo o governo estadual, responsável pela obra, ela precisou sofrer alterações no projeto e foi adiada para dezembro de 2016.
"A estação Gávea, inicialmente, teria uma plataforma, o que permitiria apenas uma expansão no futuro. Agora estão sendo construídas duas plataformas paralelas, o que viabiliza duas futuras expansões sem interromper o funcionamento da estação: Gávea – Centro e Gávea – Uruguai", afirmou o governo à BBC Brasil.
"Essa alteração traz benefícios à população, por isso o cronograma da estação foi modificado, o que não gera qualquer impacto na operação do metrô durante a Olimpíada."
Sustentabilidade
No dossiê de candidatura para os Jogos, o Rio havia se comprometido com o plantio de 24 milhões de árvores que serviriam para compensar os gases do efeito estufa emitidos para a realização dos Jogos. Em 2012, o então secretário estadual do meio ambiente, Carlos Minc, chegou a aumentar a promessa para 34 milhões, que deveriam ser plantadas até dezembro deste ano.
Até agora, foram plantadas 5,5 milhões de mudas de acordo com o "contador de árvores". A Secretaria Estadual do Meio Ambiente disse à reportagem que a promessa feita na candidatura já não vale mais porque à época "não havia referência confiável da pegada de carbono dos Jogos".
A pasta reiterou que a emissão de carbono será de 1,6 milhão de toneladas e 50% desse total já foi compensado com o plantio de árvores e que "a compensação do restante será realizada através do desenvolvimento de ações mitigatórias (soluções de incentivo à redução das emissões) e de programas de restauração de bioma da Mata Atlântica."
Polêmicas
Fora essas promessas já não cumpridas (ou alteradas), o Rio-2016 se compromete a entregar todas as outras obras no prazo. Entre elas, as principais preocupações estão com o velódromo, o centro de hipismo no Complexo de Deodoro e o polêmico campo de golfe.
A prefeitura afirmou que o atraso das obras do velódromo já foi recuperado e que será entregue duas semanas antes do previsto.
No caso do centro de hipismo, o prazo para a conclusão é o segundo trimestre de 2016, às vésperas do início dos Jogos, mas a promessa da prefeitura é que ele esteja quase pronto já em agosto desse ano, quando está programado um evento-teste.
Já o campo de golfe causou polêmica por estar sendo criado em uma área de preservação ambiental, na reserva de Marapendi. Além disso, a obra está sendo financiada pela Fiori Empreendimentos, que investiu R$ 60 milhões para construir o campo e, em contrapartida, ganhou o direito de construir 23 prédios de 22 andares na região – bem acima dos seis andares permitidos para o local.
Segundo a prefeitura, em 2008, a secretaria estadual do Meio Ambiente já havia concedido o licenciamento ambiental para a construção de um campo de golfe na área.
Em nota, ela diz que "a construção do campo de golfe está proporcionando significativo ganho ambiental, uma vez que todo o terreno vem sendo recuperado através do plantio e do replantio de espécies nativas." A prefeitura afirma que "a área coberta por vegetação passará de 94.600 m² para 650 mil m²".
Por último, há preocupações com o fato de sete construtoras envolvidas em 11 obras essenciais da Olimpíada estarem sendo investigadas pela Operação Lava Jato – Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Mendes Júnior e Carioca. A prefeitura e o governo estadual do Rio, porém, garantem que "os consórcios continuam seguindo o cronograma estabelecido e as obras continuam no prazo."
Fonte: BBC BRASIL