Primeiro município do Amazonas a decretar calamidade pública em 2015, Boca do Acre tem sofrido com a cheia provocada pela subida do Rio Purus. Segundo a Defesa Civil, mais de 20 mil pessoas foram afetadas pela enchente no local. Além das escolas, que tiveram as atividades interrompidas, os postos de saúde também estão paralisados, segundo o secretário de administração do município, Jader Santana. Em todo o estado, dez cidades estão em situação de emergência.
"Os atendimentos estão sendo feitos em um barco. Aqui na 'cidade baixa', todos os postos estão parados. Os casos mais graves são levados ao hospital, que ainda não foi afetado pela cheia", comenta Santana.
Desde a chuva que atingiu o município na sexta-feira (13), o rio chegou a descer cerca de 10 centímetros, segundo o secretário. Mesmo assim, a situação continua preocupando. Na semana passada, o sistema de abastecimento de água também foi interrompido. "Ainda continua enchendo", diz Santana.
Segundo o secretário, os comerciantes do município precisam improvisar a cada centímetro que sobe. "Há a dificuldade da chegada da mercadoria ao município. A gente compra muito de Rio Branco (AC), e aí o caminhão vem e tem que entregar os produtos de barco ou de canoa", relata.
Em um mercadinho da cidade, os funcionários deslocaram os produtos para as prateleiras mais altas. O que ninguém sabe ainda é até quando o estabelecimento vai conseguir ficar aberto. "A previsão é de encher um metro, um metro e meio, em cima dessa água que está aí", diz o gerente do estabelecimento, Régis Cunha.
Os veículos são outra preocupação dos populares. Para não perder o caminhão para as águas, o pedreiro João Matos colocou o veículo sobre toras de madeira. "Era para não molhar o motor. Nós fizemos essa arte. [Se a água continuar subindo] Levanta mais. A gente arranca o teto", diz João.
Acostumada com a cheia, a população não deixa de se divertir. O vôlei entre amigos ganha um quê de pólo aquático. "Fica até melhor porque a bola vai para o fundo e dá para a gente pular e não se machucar, porque é água", afirma o estudante Rodrigo Vieira.
Os moradores de casas mais altas ainda torce pelo recuo da enchente. Conformados, alguns moradores querem apenas minimizar o prejuízo certo. A dona de casa Maria de Souza teve que se mudar temporariamente. "Foi preciso a gente sair. Pedimos a casa do vizinho para a gente ficar. Ele arrumou 'para nós' (sic)", conta.
Quem não tem casas de amigos ou parentes para ficar vai para os abrigos da Defesa Civil. Quase 400 pessoas já foram atendidas pelo órgão neste sentido. "[Em casa] Estava difícil. A gente vendo a água subindo, subindo, subindo mesmo. Aqui está tudo 'mais melhor' (sic). Pelo menos tirou meus filhos da água. Eu até me emociono. Estava com muito medo", relata a dona de casa Santa da Silva.
Cheia
Ao todo, dez cidades estão em situação de emergência por conta na cheia dos rios no interior do estado. Boca do Acre – que também sofre influência da cheia do Rio Acre – decretou situação de calamidade pública no dia 10 de março. O número de famílias afetadas chega a 17,1 mil, segundo informações da Defesa Civil do Estado.
Ainda de acordo com informações divulgadas pelo órgão, em sete cidades a situação já foi homologada pelos órgãos oficiais. Na Calha do Rio Juruá, as cidades em situação de emergência são: Itamarati, Guajará e Ipixuna. Os municípios de Eirunepé e Envira também estão em situação emergencial. Já na Calha do Rio Purus, as cidades amazonenses afetadas pela cheia são Canutama, Tapauá, Carauari e Paunini. Humaitá, que é banhada pelo Rio Madeira, sofre os impactos do avanço das águas.
Segundo a Secretaria Estadual de Educação do Estado (Seduc-AM), em Boca do Acre, nove escolas estão alagadas e uma serve de abrigo para desalojados. A Defesa Civil informou que a estação de tratamento de água do município também foi paralisada. Em razão do problema, moradores enfrentam escassez de água potável.
Na região do Alto Solimões, há cinco cidades em alerta: Tabatinga, São Paulo de Olivença, Santo Antônio do Içá, Tonantins e Benjamin Constant.
Ajuda humanitária
De acordo com a Defesa Civil, 321 toneladas de ajuda humanitária já foram enviadas para Boca do Acre. As cidades de Tapauá, Canutama e Pauiní, todos no Purus. A Defesa Civil do Estado montou um posto de arrecadação na sede do órgão, situada na Avenida Carvalho Leal, nº 1659, bairro Cachoeirinha, Zona Sul de Manaus.
Fonte: G1