Ao mesmo tempo, no primeiro pronunciamento após as manifestações do último fim de semana, a presidente Dilma Rousseff afirmou que as denúncias provam que o partido não interfere nas investigações.
"Eu acho que esse acontecimento mostra que todas as teorias a respeito de como o governo interferiu sobre o MPF, ou quem quer seja para investigar e fazer qual coisa, é absolutamente infundada. Se querem investigar vão investigar, quem for responsável pagará pelo que fez", disse a presidente durante uma entrevista coletiva.
Entre os denunciados pelo MPF estão o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, o ex-gerente da empresa, Pedro Barusco, o doleiro Alberto Youssef, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e alguns executivos de empreiteitas. Eles são acusados de lavagem de dinheiro e corrupção.
De acordo com os procuradores que apresentaram as denúncias, João Vaccari Neto participou de reuniões com Renato Duque nas quais eram acertados valores a serem transferidos ao PT em doações ilegais. O MPF afirma que foram feitas 24 doações ao partido, totalizando R$ 4,26 milhões.
O PT, no entanto, afirma que só recebe doações legais para suas campanhas.
Em nota, a defesa de Vaccari Neto afirmou que ele "não participou de nenhum esquema para recebimento de propina ou de recursos de origem ilegal destinados ao PT".
Falando à imprensa após a cerimônia de sanção do novo Código de Processo Civil, a presidente Dilma Rousseff voltou a afirmar que anunciará um conjunto de medidas para o combate à impunidade nos próximos dias e disse não acreditar que o Congresso, partido de sua base aliada, dificultará a aprovação do pacote.
Nos últimos meses, o governo tem tido problemas na negociações com os parlamentos, incluindo da próprioa base aliada, incluindo o PMDB, partido dos líderes tanto do Senado quanto da Câmara dos Deputados.
Em resposta ao comentário do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB – RJ) – que afirmou que "a corrupção está no Executivo, não no Legislativo", a presidente disse que "a corrupção pode estar em qualquer lugar".
"A corrupção não nasceu hoje. Ela é uma senhora idosa, e pode estar em qualquer lugar, não poupa ninguém. Ela pode estar, inclusive, no setor privado. Não vamos achar que tem qualquer segmento acima de qualquer suspeita", disse.
'Prova de democracia'
Em seu discurso sobre o novo Código de Processo Civil, a presidente relembrou o aniversário da redemocratização, no dia 15 de março, e afirmou que as manifestações que aconteceram em todo o país na última sexta-feira e no último domingo – contra e a favor do governo – mostravam que o Brasil "convive pacificamente com manifestações".
Ao contrário dos protestos de junho de 2013, os atos do último fim de semana não registraram episódios de violência, nem excessos da polícia.
"Sexta-feira e ontem, centenas de milhares de brasileiros saíram às ruas para se manifestar com toda a liberdade, de forma pacífica. Assim como as urnas traduzem a vontade da nação, que não pode ser desrespeitada, as ruas são o espaço legítimo da manifestação."
"Ontem, quando vi centenas de milhares de cidadãos se manifestando pelas ruas de várias cidades brasileiras, não pude deixar de pensar que valeu a pena lutar pela liberdade, valeu a pena lutar pela democracia. Este País está mais forte do que nunca", afirmou.Dilma voltou a falar sobre a reforma política como solução para a corrupção, uma das demandas dos manifestantes em ambos os dias.
Ela não mencionou, no entanto, a proposta de um plebiscito para decisões sobre projetos de reforma e disse que "a protagonista (do debate) é toda população brasileira, mas o espaço adequado é o Congresso Nacional".
Erros
Questionada sobre erros cometidos em sua administração, Dilma afirmou que a entrevista não era "um confessionário" e defendeu os ajustes fiscais, dizendo que diálogo com setores do governo e com a sociedade será com "posição de humildade, mas firmeza".
"Somos obrigados agora a fazer ajustes e correções para continuar crescendo. Não estamos acabando com nossas políticas, mas corrigindo."
"Tem gente que acha que a gente devia ter deixado algumas empresas quebrarem e muitos trabalhadores se desempregarem. Eu tendo a achar que isso era um custo muito grande para o país. Agora que é possível discutir se podia ser um pouco mais, um pouco menos, é possível discutir."
A presidente admitiu, no entanto, que o governo errou ao delegar às faculdades particulares a responsabilidade pelas matrículas do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). E afirmou que está sendo corrigido o erro que possibilitou que alunos não aprovados em Português conseguissem a bolsa do governo.
Fonte: BBC BRASIL