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Casal larga tudo e viaja por um ano com R$ 24 por dia pra comer

Uma vida em movimento, sem o peso da rotina, sem compromissos e sem obrigações. Você pode achar que essa vida é só pra quem tem muito dinheiro, mas Rogério, Seu Aparecido e Dona Lourdes, Rafael e Amanda mostram que não é nem um pouco impossível quando se aprende a viver com menos.

“O lema da viagem era: nós temos tempo de sobra, a gente só não tem dinheiro”, conta Rafael.
Às vezes, sem nenhum tostão.

Seu Aparecido e Dona Lourdes trabalharam 25 anos em uma pequena fábrica de móveis em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Filhos criados, netos crescidos e até um bisneto para alegrar a família. Com o sentimento de missão cumprida, chegou a hora de sombra e água fresca.

Aí eles viram que sobra muita coisa, muito acúmulo para esse novo jeito de viver. O estilo ficou mais descontraído. A casa espaçosa e confortável da família, vai ser alugada. Seu Aparecido e Dona Lourdes agora têm rodas nos pés – eles moram em um caminhão adaptado. A reboque, vai o carro de passeio.

A casa de Dona Lourdes e Seu Aparecido tem apenas 24 metros quadrados, mas tem tudo o que o casal precisa: uma cama, aparelho de condicionado, um televisor, um espaço para guardar lembranças de viagem e objetos de que eles gostam, um banheiro junto do quarto. Logo no corredor ficam o guarda-roupa e um espaço para guardar roupa de cama e roupa de banho. O outro banheiro é onde eles tomam banho. Um armário com potes para guardar mantimentos e louças. A geladeira, o fogão, as panelas, o micro-ondas. Na frente um aparelho de som, a mesa e à frente o melhor de tudo: a paisagem que muda sempre.

“A princípio a gente pensou bastante, ficou assim quase um ano para pensar se ia se adaptar ou não, mas a gente viu que era tudo que a gente queria. Já vai para quatro anos nessa vida”, conta a aposentada Maria de Lourdes Franco.

Seu Aparecido já foi caminhoneiro e gosta de uma conversa. Dona Lourdes é boa companheira, vai ouvindo as histórias do marido e fazendo crochê. Quando a fome aperta, é só parar no próximo posto. Para Dona Lourdes, fazer o almoço na cozinha apertada não é problema. Nem sente falta das panelas e louças que acumulava na antiga casa – como boa dona de casa ela se adaptou à situação. O casal viajante já rodou muito por esse Brasil. Foram ao Sul, ao Nordeste e, hoje, são conhecidos até nos países vizinhos.

O desejo de dar uma guinada na vida veio mais cedo para Rafael e Amanda. E não pensem que foi fácil.
“Um dia ele chegou em casa com a proposta da viagem. ‘Tenho uma mudança pra nossa vida. Você vai topar na hora’. ‘Eu, o que?’ – ‘Uma viagem pelo mundo’. ‘Você tá maluco? Nunca que eu vou fazer isso’”, relembra a contadora Amanda Vidal.

Formada em contabilidade, Amanda, de 25 anos, é do tipo "pés no chão". Em pouco tempo de casados, os dois já tinham um apartamento em Niterói, bons empregos e bons salários.

“A ideia de me desfazer de tudo era bem difícil, porque eu também tive uma infância bem diferente. Eu preciso sentir que eu tenho um lar, que eu tenho um lugar para ficar”, explica Amanda.

O que quase terminou em separação, se revelou uma imensa prova de amor.
“Aí já estava ela com uma planilha. Olha, só, um ano, não vamos vender tudo. Não vamos vender os móveis, vamos comprar uma casa ali, com tudo planejado já. E eu aceitei, claro”, conta o jornalista Rafael Coelho.

Com o dinheiro que tinham, a grande aventura teria que ser econômica – bem econômica.
“Foz do Iguaçu, Buenos Aires, Uruguai, Nova Iorque, Japão, Cuba, Colômbia, Índia, China, Indonésia”, enumera o casal.
Olhando as planilhas da Amanda, mal dá para acreditar que eles gastaram em média R$ 24 por dia para se alimentar.

“Em todos os países a gente sempre vai comer no lugar mais barato, usar o transporte mais barato e dormir no lugar mais barato. Nós ficamos ao todo, na viagem inteira, em 24 casas de pessoas. Nós pagamos apenas 35% das noites nós pagamos para dormir. As outras todas foram de graça”, conta Rafael.

Esses dois abriram mão de qualquer conforto. Se dava para fazer uma longa viagem por terra, pra que gastar com avião?
“Dormimos nos aeroportos. Inclusive lá em Sydney, um dia antes do voo, para economizar uma diária nós fomos dormir no aeroporto”, relembra Amanda.

Mas na Austrália eles também se permitiram um luxo: alugaram um carro, onde dormiam e cozinhavam.

Amanda: O carro tinha cama atrás, uma geladeira e um fogão de uma boca com uma pia.
Rafael: Sempre era macarrão enlatado, legume enlatado
Globo Repórter: E o banho?
Bem, o banho…
Amanda: Nosso recorde foi 6 dias sem banho.

Companheirismo é essencial para uma parceria de sucesso
E só não ficaram sem tomar banho mais tempo porque um generoso casal de idosos sentiu que eles precisavam de ajuda. Quando um incentiva o outro, fica mais fácil viver com menos em uma viagem

Seu Aparecido e Dona Lourdes acabaram de completar 45 anos de casados. Uma longa parceria, com afeto e o aprendizado de saber que, na vida, o importante mesmo é investir no essencial.

Globo Repórter: Vocês gastam bem menos do que antes quando viviam em uma casa fixa?
Maria de Lourdes: Com certeza. Bem menos. Hoje com a nossa casa nós não pagamos IPVA, nós não pagamos IPTU, que já são despesas que nós não temos. Esse dinheiro aí, o que que a gente faz? A gente abastece o carro para sair pelo mundo conhecendo mais gente, mais lugares e vivendo a vida.

O que eles acumulam agora são novas amizades. Com simplicidade, estão sempre abertos para um abraço, um churrasco no meio da viagem, um bom bate-papo com os amigos. Momentos especiais dessa grande aventura de viver com menos e viver melhor.

Fonte: G1

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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