A discussão sobre o que é literatura, o que diferencia um texto comum de um texto ficcional não tem fim. Se existe uma condição para uma escrita ser literária, diria que é a reinvenção da linguagem. O que marca o estilo e a identidade de um escritor é a linguagem que cria, que reinventa. Por que reconhecemos de imediato um texto de Machado de Assis? De Manoel de Barros? De Guimarães Rosa? De Mia Couto? É como se a escrita de cada um desses prosadores e poetas viesse com uma assinatura: a sua linguagem, a sua sintaxe, a sua musicalidade.
Escrever e viver para Clarice Lispector eram duas coisas muito próximas, duas possibilidades de estar no mundo. Em sua produção literária notamos um diálogo constante com o escrever, o fazer literário. Ela dividia com o leitor suas inquietações e descobertas sobre a escrita. Respondia a leitores de suas crônicas de jornal, respondia a cartas que recebia e estabelecia uma troca. Sua vida era escrever.
Com uma seleção temática, Crônica para jovens:de escrita e vida foi organizado por Pedro Karp Vasquez, depois do volume Crônicas para jovens: de amor e amizade. Mais recentemente, foi lançada a obra Crônicas para jovens: do Rio de Janeiro e seus personagens.
Embora a edição esteja endereçada aos jovens, os textos de Clarice podem ser apreciados pelos adultos: aqueles que já conhecem as suas obras obviamente vão identificar elementos vistos em algum texto; os que não conhecem poderão se enredar pelos seus textos. São dezenas de crônicas que mostram os bastidores de uma autora que vivia pela escrita e da escrita.
Quem sabe, essas obras podem ser um caminho para a sua entrada na obra e vida clariciana, para ler seus contos, romances e suas crônicas. Aproximar os jovens do universo de Clarice pode ser um passo para se deleitarem com os contos e romances de uma das mais importantes autoras da literatura brasileira. Cada crônica é uma declaração a paixão pela escrita.