Foto: Ednei Rosa
Será mesmo aceitável pagar uma das mais caras tarifas de ônibus do país tendo em contrapartida um serviço público em péssimas condições? Nas ruas, os usuários, com toda a certeza, responderiam a esta questão de forma negativa, afinal são eles que diariamente enfrentam a dura jornada de se locomover pelo modal mais popular em toda a extensão territorial brasileira.
O valor unitário da passagem de R$ 3,10 não é visto sendo revertido na melhoria da qualidade do transporte; aliás, a realidade é inversa: veículos cada vez mais velhos e desconfortáveis; deterioração dos poucos abrigos nos pontos de ônibus da cidade; a estagnação da quantidade da frota; falta de acessibilidade; atrasos e descumprimento de itinerários, e tantos outros itens de vasto conhecimento do usuário.
A atual frota de ônibus de Cuiabá, distribuída entre três empresas (Norte e Sul, Pantanal e Integração) que detêm a concessão para a operação do transporte público, conta com 383 veículos (409 se somarmos os 26 veículos de reserva). Deste total, mais da metade (214 veículos) roda há mais de seis anos.
Apesar de contrato firmado entre as empresas e a Prefeitura determinando a faixa etária máxima de quatro anos e meio, 50 veículos têm entre nove e dez anos, sendo usados diariamente por diversos usuários cuiabanos.
Além do mais, outros pontos firmados em contrato estão sendo descumpridos, como a climatização, que deveria ser realidade em 80% da frota; obrigação das próprias empresas de instalarem abrigos em todos os pontos de ônibus do município; e a acessibilidade, já que nem todos os 95% dos veículos que contam com o elevador para a entrada de portadores de necessidades especiais funcionam.
Conforme o secretário municipal de Mobilidade Urbana, Thiago França, a Prefeitura de Cuiabá reconhece a deficiência do transporte e afirma que algumas medidas já estão sendo tomadas, como a notificação das empresas para se adequarem a estas e outras exigências que não são cumpridas.
“No início do ano, nós encaminhamos uma série de notificações às concessionárias, entre elas cobrando a renovação da frota. E também algumas operações de fiscalização, como a de acessibilidade, e verificamos o funcionamento dos elevadores. Chegamos a lacrar alguns ônibus com problemas neste equipamento, mas dentro de uma razoabilidade para não prejudicar o sistema”, esclareceu França.
Na promessa, o secretário afirmou que, após reunião com a Associação Mato-grossense dos Transportes Urbanos (AMTU), ficou acertada a renovação de 50 veículos ainda no primeiro semestre deste ano e, ainda, a retomada da manutenção e limpeza dos terminais de ônibus localizados nos bairros CPA I e CPA III.
Ironicamente, não só os usuários reclamam do transporte público cuiabano como também as empresas apontam problemas e declaram uma situação financeira decadente, culpando as administrações públicas municipais que decretam tarifa menor do que foi calculado nas planilhas, causando um grave desequilíbrio econômico-financeiro em relação ao que é previsto nos contratos.