Opinião

CINEMA EM MATO GROSSO: A DIFERENÇA ENTRE FICÇÃO E DOCUMENTÁRIO

O filme brasileiro da diretora Anna Muylaert “Que horas Ela Volta?",  foi aplaudido de pé esta semana após sua primeira sessão internacional no Festival de Sundance, nos Estados Unidos. Ali o filme recebeu o titulo de THE SECOND MOTHER. A atriz Regina Casé é a protagonista, ela interpreta uma empregada doméstica que mora no local de trabalho, com a família dos patrões. A doméstica entra num impasse quando mais precisa ajudar sua filha, a jovem extremamente ‘opinada’ vem de Pernambuco morar com ela durante o vestibular e solta o verbo diante dos empregadores.

Neste mês, a diretora Anna Muylaert leva seu filme também a Berlim, com outros 14 títulos brasileiro que o evento alemão exibe. É o Brasil começando a retornar no cenário audiovisual. O cinema de diferentes Estados conseguindo dialogar com o mercado mundial e entrando pela porta da inteligência, dialogando com um festival de jurados que priorizam linguagem, cuidado conceitual e execução, assim um dos melhores Festivais do mundo mostra que 2015 inicia positivamente para o cinema nacional.

Em Mato Grosso  nós, profissionais  da Cultura, vivemos na montanha russa econômica totalmente sem um projeto coeso com a realidade de mercado nacional, corremos atrás dos projetos  e levantamos uma espécie de trabalho com cachês irrisórios para encaixar no limite. Tudo bem doméstico e pobre, em tempo recorde, cortando isso, limitando aquilo e provando que ‘a criatividade supera as dificuldades’. Trabalho com arte e cultura em Cuiabá e algumas cidades da baixada desde adolescente,  eu interpreto esse jargão como uma gambiarra amarga, porque fazer cinema autoral em MATO GROSSO ainda é pagar para trabalhar. Ha uma espécie de barganha permanente do inicio ao fim do processo de filmagem, o que faz com que até depois da obra editada, distribuída por festivais,  você ainda continue trafegando pelos corredores das prestações de contas justificando cada merreca como se fosse uma cifra coerente na tabela. Um teatro imoral mal feito onde os cineastas se olham com respeito pelo fato de que vemos o absurdo maltrato, sabemos da injustiça de mercado mas nos empenhamos em promover MATO GROSSO, a assinatura da obra com a logo dos patrocinadores, a mesma que se mantém com nossos impostos. Essa é a diferença: Fazer audiovisual em Mato Grosso é documentar uma superação. Assinar como obra de nossos lideres é uma ficção. 

Já tivemos um FESTIVAL DE CINEMA E VIDEO DE CUIABA com interesse nacional, hoje com uma verba bem mais reduzida o CINEMATO ainda é um dialogo pedagógico com as escolas, e o grande publico local, a única plataforma de visibilidade dos trabalhos autorais independentes, mas acredite, tivemos anos em que até filmes de média metragem e longas foram levantados nesta região com apoio do Governo e da Prefeitura. Filmes queimados também aconteceram no audiovisual local, com apoios milionários  projetos que se diziam locais com apoios estaduais mas a equipe principal era importada de outros Estados.  Ou ainda mais embaraçoso ainda, o elenco principal inteiro vindo de outro Estado, recebeu um cachê decente e o elenco local recebeu uma esmolinha. 

Como aqui no CULTURA EM CIRCUITO peguei o apelido de ‘positivista radical’, revelo os frutos que superaram espinhos, conheça aqui os vídeos que colheremos em 2015. Estas obras fomentarão novos públicos, projetarão um perfil melhor para nosso Estado por todos os festivais que passarão e serão o retrato deste tempo por décadas, independente dos lideres que passaram no poder. São os resultados de uma arte de resistência, de muito investimento pessoal com um pequeno apoio do dinheiro publico, de independência das televisões publicitárias e que neste especifico ano, sublinham o esforço da Secretaria de Cultura da Gestão anterior.

As obras aqui mencionadas tiveram alguns apoios em comum e carregam características e locações em comum, a maioria vem de projetos antigos que somente na gestão anterior conseguiram sair do roteiro, umas querem publico de televisão, outras, públicos de festivais mais específicos, outras brigam pelo fato do cinema com uma linguagem independente da TV, todas, independente de suas propostas merecem nosso aplauso. Cinema é um trabalho de grupo, uma arte coletiva, esses apoios culturais  levantaram muitos profissionais, exaltaram locações, inspiraram jovens e fortaleceram nossa região como um Estado que valoriza a criatividade.  

Na rede social facebook voce pode acompanhar o feitio de cada um dos filmes abaixo, com nomes de toda a equipe, fotos de making of de todos os filmes aqui mencionados. Confira as paginas, curta e prestigie. É quase impossível acreditar que tantos artistas, tantos profissionais locais, tantas locações, tantos equipamentos foram colocados em operação com os baixos valores investidos, mas enfim,  como dizemos boa sorte nas artes cênicas: MERDA pra nós!

A TERCEIRA LEI

(2015, DIREÇÃO DE SERNON NONRES) 

Com Patrocínio da Secretaria Municipal de Cultura/Prefeitura de Cuiabá o CURTA ‘A TERCEIRA LEI’  investiga o sentimento de vingança, a opção pelo caminho da criminalidade, um homem diante de suas decisões. O patrão descobre que seu empregado é um ex-presidiário, fato que o leva a demiti-lo. Revoltado com a situação, o empregado demitido resolve se vingar assaltando o supermercado em que trabalhava. No entanto nem tudo sai como o planejado.O filme ainda não tem data para apresentação e como a maioria dos profissionais do audiovisual desta região anseiam pelo Festival CINEMATO. Sernon,  iniciou se no audiovisual aos 16 anos numa oficina de vídeo, entrou no mercado do audiovisual aprendendo as diferenças do mercado publicitário com o do cinematográfico, depois de uma recente visita a uma escola de cinema em São Paulo resolveu encarar a batalha cinematográfica e voltar a filmar. 

DE VOLTA PRA CASA 

(2015 DIREÇÃO DE DANIELLE BERTOLINI  E JOÃO BERTOLI)

O LONGA METRAGEM ‘DE VOLTA PRA CASA’  trata da violência doméstica por um prisma inusitado – os homens que cometeram a violência, e foram  presos pela Lei Maria da Penha. Os diretores acompanharam  José, Maria e suas seis filhas, família que viveu a situação. Após sair da prisão, José tenta retomar seu casamento e sua família. Este filme está em fase de finalização, e a previsão de estréia é em maio deste ano. O roteiro e produção são de Dani Bertolini e a direção é da dupla. Dani avisa que o Congresso Brasileiro de Cinema está realizando um mapeamento das demandas estaduais do audiovisual brasileiro, e a convidou para liderar o processo aqui em Mato Grosso. Não é uma associação, mas um Forum que se reunirá para definir as demandas municipais e estaduais, a fim de nortear a política pública para a área. 

 ELE SEMPRE ESTEVE CERTO

(2015, DIREÇÃO LUIZ MARCHETTI)

Baseado no conto homônimo de Wanda Marchetti o CURTA ‘ELE SEMPRE ESTEVE CERTO’ acontece durante as ferias escolares de três irmãos na casa da avó, pelo interior do Estado. O melhor lugar para o banho de cachoeira é próximo a uma aldeia indígena. Por entre banhos, olhares proibidos dos irmãos menores acontece o romance da menina Isabel e o índio Raoni. Mas vai chegando o final da viagem e é hora de voltar, ir para o carnaval em Cuiabá. O que os separa e o que os aproxima? A distância? Isabel qual será sua fantasia no bloco de carnaval? Eu quero ir vestida de índia. O curta foi filmado em Cuiabá e em Chapada dos Guimarães com a consultoria de Naine Terena, contou com o apoio do PROAC-MT está em fase de edição e deverá também participar este ano do CINEMATO alem dos Festivais de cinema pelo Brasil. 

LICOR DE PEQUI

(2015, DIREÇÃO DE MARIA THEREZA AZEVEDO)

Dona Dita tem sessenta e cinco anos e está esquecendo as palavras; Lara Jane tem vinte e dois anos e está em busca da palavra geradora para escrever seus poemas; Maria Flor tem seis anos e está descobrindo as palavras. As três vivem num mesmo espaço da cidade, mas carregam camadas distintas de memória. Os resvalamentos espaciais de cada uma das personagens contaminam os gestos da outra. O CURTA ‘LICOR DE PEQUI’, de Maria Thereza Azevedo, foi selecionado no edital de apoio a curtas-metragens da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura (Minc). Foram mais de mil inscritos de todos os estados do País. O edital de apoio destinou R$ 70 mil para apoio à produção de cada projeto selecionado, o filme foi realizado em Cuiabá, tendo enfoque na cultura local.  Saiba mais no site: www.licordepequicurtametragem.com/

S2 

(2015, DIRETOR BRUNO BINI)

Um grupo de quatro amigos vive o amor e o sexo na era virtual. Enquanto procuram por amizade, novas experiências ou pelo amor verdadeiro, descobrem que ter milhares de pessoas observando, comentando e curtindo cada passo dado pode deixar tudo muito mais complicado. O CURTA ‘S2’ está em fase de finalização e deverá entrar em festivais a partir de março. Bruno Bini é um profissional que sempre apresenta seus trabalhos por todo o Brasil mas sempre se preocupa em participar do CINEMATO, dialogando com a formação de público nesta região. O filme tem o apoio da Prefeitura Municipal, através da Secretaria de Cultura, do Hotel Odara, Caipi One e Varadero.

SUA VIDA É VOCÊ QUEM FAZ

(2015 DIREÇÃO DE JOÃO BERTOLI)

Como tantos outros jovens pais, Gonçalino é um homem com poucas possibilidades. Desempregado e cercado pela violência que ronda as cidades, ainda assim tem esperança de poder dar uma vida mais digna à sua família.Após uma noite de bebedeira, o acaso lhe apresenta uma oportunidade de chegar em casa com algum dinheiro e limpar um pouco a sua barra. Agora Gonçalino precisa tomar uma decisão: Ir pelo caminho correto e mais difícil, ou tomar um atalho!? O CURTA ‘SUA VIDA É VOCÊ QUEM FAZ’ foi todo montado com profissionais que vivem e trabalham em Mato Grosso, está em fase de edição e este ano deverá ser lançado aqui no CINEMATO e nos Festivais nacionais. 

Leia o Cultura em Circuito na integra

 

Luiz Marchetti

About Author

Luiz Marchetti é cineasta cuiabano, mestre em design em arte midia, atuante na cultura de Mato Grosso e é careca.

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