No último domingo (25), o Fantástico mostrou o documentário de uma jornalista francesa que foi recrutada pelas tropas do Estado Islâmico. Disfarçada, ela se infiltrou entre os terroristas e foi até a Síria, o berço do grupo, para mostrar como jovens europeus são atraídos pelos radicais.
Agora, a jornalista está ameaçada de morte. Escondida, ela contou esta semana ao Fantástico os bastidores dessa reportagem arriscada.
Ela desvendou os bastidores de um mundo bárbaro, violento e dominado pelo radicalismo religioso. Mostrou como homens agem para recrutar jovens europeus para as fileiras do Estado Islâmico, o grupo que quer fundar um califado entre a Síria e o Iraque.
Descobriu onde os homens do grupo treinam técnicas de combate em uma praça em Paris. Entrou em contato com os principais recrutadores em ação na França. E foi até a Síria disfarçada, como se fosse se unir aos jihadistas e se casar com um deles.
“Vá para Istambul, na Turquia. De lá eu direi o que deve fazer”, disse o terrorista por uma rede social.
Ela usou câmeras escondidas nas roupas para gravar tudo que viu em Raqqa, a cidade síria que é a capital do Estado Islâmico. Depois que o documentário foi lançado, a jornalista passou a receber ameaças e está escondida em algum lugar da França.
Por e-mail, ela respondeu às perguntas do Fantástico sobre os momentos mais perigosos das filmagens e sobre a ameaça que os grupos terroristas representam para a Europa.
Para ela, o momento mais apavorante das gravações foi quando dois homens do Estado Islâmico a repreenderam.
Estado Islâmico: Nós conseguimos ver através do seu véu.
Jornalista: Desculpe, ele é um pouco transparente.
Estado Islâmico: Você precisa se cobrir melhor.
Jornalista: Está certo, está certo, desculpe.
“Esse foi o momento mais tenso. Eu pensei que qualquer coisa poderia acontecer quando aqueles dois me chamaram”, conta a jornalista.
Mulheres que não se cobrem totalmente podem receber a pena de morte. Exatamente como contou um dos recrutadores, ainda na França: “Matamos as mulheres, cortando as gargantas”, diz.
Um momento triste foi quando ela encontrou uma menina de 15 anos que tinha fugido da casa da família na França com os documentos da irmã mais velha, de 27 anos. E estava esperando para ser dada em casamento para um homem que ela nunca tinha visto pessoalmente.
“Eu terei uma vida normal, vou passear, sair, ir a shoppings. Mas tudo isso em uma terra islâmica. Graças a Deus”, diz a menina.
“Tamanha ingenuidade. Era apenas uma criança. Aquilo me desestabilizou. Eu queria salvá-la, mas ela estava totalmente determinada a seguir com aquela loucura. E eu não podia dizer que era jornalista porque isso iria acabar com o meu disfarce”, conta a jornalista.
Foi nesse momento que a jornalista resolveu cortar os contatos com os jihadistas e voltar o mais rápido possível para a França. Os jovens europeus que são recrutados pelos grupos terroristas são mandados para campos de treinamento. Alguns voltam para a Europa. Eles são conhecidos como lobos solitários: jihadistas que agem sozinhos seja recrutando outras pessoas ou esperando o comando para realizar algum ataque.
Um deles é Abu Tak Tak: “eles me mantêm desativado por enquanto”, diz em uma conversa.
Para a jornalista francesa, esses são os terroristas mais perigosos. “Os jovens mais pobres e isolados da nossa sociedade são alvos fáceis para esses lobos solitários. Eles vivem à margem, estão desempregados e não têm perspectivas. Os jihadistas aparecem como amigos, protetores, e mostram um propósito pelo qual esses jovens acham que vale a pena lutar. Eu acho que esse documentário, ao mostrar como os jovens são recrutados pelo Estado Islâmico, vai servir de alerta para todos”, diz a jornalista.
E talvez tornar mais difícil que jovens europeus sejam enganados por homens que distorcem a religião islâmica para engrossar as colunas de um exército que espalha a barbárie e o terror pelo mundo.
Fonte: G1