O Estado de Mato Grosso vive, há décadas, graves problemas com os grandes eixos de saída, especialmente o sul, por onde boa parte de tudo que é produzido no Estado é escoada e, apesar de gestão sobre gestão prometerem sanar o problema, a realidade é que safra após safra ele continua encarecendo absurdamente a logística e deixando a produção muito aquém da capacidade e potencial real.
Com o apontamento da situação, a nova gestão do Estado começa liberando R$ 30 milhões para o que foi denominado plano emergencial, ou pacto para atender 100% das estradas de Mato Grosso, em parceria com as prefeituras, através do Fundo Estadual de Transporte e Habitação (Fethab). “São 30 mil km de estradas, pavimentadas e não pavimentadas, que serão atendidas através dessa parceira para que possam ter o mínimo de fluidez, desafogando parte do problema”, prometeu o novo secretário de Estado de Infraestrutura e Logística, Marcelo Duarte Monteiro.
A solução, denominada pelo próprio secretário como paliativa, poderá sanar os problemas emergenciais, mas a realidade de Mato Grosso vai além de problemas pontuais em praticamente todas as estradas. O gargalo logístico existe e a viabilização de novos modais se arrasta há décadas.
“Modais ferroviários e hidroviários estarão dentro do nosso plano diretor de logística que será elaborado e visa realmente planejar em longo prazo a logística de Mato Grosso”, afirma Monteiro, tirando logo em seguida parte da responsabilidade do Estado em fazer os modais saírem do papel.
Marcelo reitera o interesse do novo governo em sanar esses gargalos, levando em consideração que Mato Grosso tem plenas condições de desenvolver outros modais e certamente assim melhorar e desafogar a logística, além de baratear o custo de produção e aumentar significativamente os números, mas joga a culpa dos imbróglios para a esfera federal: “Vejo que Mato Grosso vai ter que trabalhar nesses dois modais (ferroviário e hidroviário), como indutor e viabilizador. Nós não temos, dentro do ordenamento jurídico nacional, competência para construir ou licitar rodovias e desenvolver hidrovias, pois são temas tratados em esfera nacional. Mas o governo quer ser protagonista nisso. Vamos buscar nos ministérios em Brasília – no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), na Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antac), Empresa de Planejamento e Logística (EPL) e diversos órgãos que regulam esses modais – resolver os diversos entraves que dificultam hoje, por exemplo, a navegação dos rios, como
o das Mortes e o Araguaia. Ou ainda que tenha problemas jurídicos como o Paraguai”, pontuou Marcelo.
Ele afirma que o Estado tem hoje cerca de 8 milhões de hectares em lavoura, quando poderia ter pelo menos o triplo disso não fosse a inviabilidade de produzir em áreas remotas, sem estradas que deem pleno acesso. Ele cita o exemplo de uma conversa recente com um produtor da cidade de União do Sul que, segundo ele, gasta em um trajeto de 150 km o mesmo valor que gastaria entre Porto Velho e Manaus através do transporte hidroviário.
“Queremos transformar essas estradas em estradas viáveis para que mato Grosso consiga realizar o seu potencial produtivo e não perca a cada ano essa oportunidade”, explica.
Marcelo pontua que hoje Mato Grosso já conta com a alternativa da BR-163 (mesmo inacabada) pelo norte, onde há fluxo nos períodos de seca, conseguindo atender parte do escoamento de soja e milho até o Porto de Santarém. “Esse movimento já está aliviando a saída pelo sul que é muito intensa, logo há sobra de caminhões e fretes caindo”.