Opinião

Não me faça rir

Sou da época de Didi Mocó Sonrisal Colesterol. Nunca esqueço no cinema lá de Montenegro, na Rua Ramiro Barcelos, quando me maravilhei com Didi pela primeira vez. Numa tela absolutamente gigante, o Renato Aragão batia o escanteio e saía correndo desesperadamente para cabecear. Ele consegue chegar, e cabecear, num lance que até Pelé ficaria com inveja.

Aliás, como a gente ria mais. Como éramos mais inteligentes. Vejo esses humoristas de hoje, nesses programas sem nenhuma criatividade, ganhando salários de jogador de futebol (o tal do Fábio ganha mais de R$ 300 mil) e nem ao menos são caricaturas dos Paulos Gracindos ou Jôs Soares da vida. Assistindo “Viva o Gordo” num canal da TV a cabo, impressionante como batia na ditadura, nos presidentes, nas ações do governo. Era uma forma do povão, que assiste sim o “Zorra Total”, estar sabendo na fria que ele estava entrando.  E eles, os humoristas, usavam dessa arma com perfeição.

Hoje é tudo diferente. A censura do patrocínio e do anúncio em horário nobre bate forte.

Ninguém conta piada de freira. Ninguém conta piada de viado. Ninguém aborda as nossas mazelas, ninguém fala da nossa política. Parece que não temos problemas. Parece que moramos em Malmo, na Suécia, onde tudo é funciona, e até demais. Vivemos literalmente no país das maravilhas, onde um ladrão hoje na Praça da Mandioca entra no carro da polícia sorrindo e agradecendo ao guarda por tirá-lo dali por medo de linchamento (aliás, o ladrão fora pego pelos moradores da Praça e não pela polícia).

Bons e velhos tempos dos filmes de Didi, Dedé, Mussum e Zacarias. No final da sessão de cinema, estava seu João ou dona Hilce me esperando. Sim. Íamos sozinhos. Não imagino hoje deixar Joãozinho, com seus 6 anos, sozinho num cinema. Podem sequestrá-lo. Um segurança pode agredi-lo. Jogar ele lá de cima. Tudo piorou. Aliás, nem tem mais cinema em Montenegro. E os filmes, ah os filmes não têm graça, nem carisma nenhum. Muito menos inteligência. Hoje nosso humor são plágios descarados de comédias idiotas americanas. Espelho de uma política descaradamente suja, coronelista, representante de 500 anos de oligarquias que reflete nossa sociedade podre, falida, incoerente, politicamente correta na aparência, e demoníaca nas atitudes.

João Manteufel Jr.

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Mais conhecido como João Gordo, ele é um dos publicitários mais premiados de Cuiabá e escreve semanalmente a coluna Caldo Cultural no Circuito Mato Grosso.

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