O pai de Haissa Motta, a jovem morta por policiais militares em Nilópolis, na Baixada Fluminense, chorou durante entrevista para o RJTV desta segunda-feira (12) ao comentar o vídeo da câmera do carro dos agentes, obtido pela Revista Veja, que mostra o momento do crime. Ironildo Motta contou que reviveu todo o drama que a família passou após a morte de Haíssa, e pediu punição para os Policiais Militares.
"Eu me vejo conversando com minha filha no telefone. Eu me vejo falando com ela 9h, 10h de uma sexta-feira ", lamentou. "E no sábado encontro o recado que ela está morta", acrescenta. Haissa e quatro amigas que sempre saiam juntos voltavam de um bar onde costumavam se reunir às sextas-feiras depois do trabalho para dançar. Ela chegou a conversar com Ironildo, por telefone, durante a noite, e disse que estava tudo bem, antes do retorno pra casa, interrompido por um erro da policia. "Foi uma abordagem errada. Primeiro eles atiram e matam, para depois perguntar. Tem que ter punição. Do jeito que está não pode ficar", disse Ironildo.
Em entrevista ao G1, a irmã de Haíssa, Andressa, já tinha comentado as imagens. “Estamos à mercê de bandidos e de policiais despreparados. Ela morreu desnecessariamente e podiam ter sido todos que estavam no carro. Ele não mirou no chão. Não tem volta, nada do que eu diga vai trazer a minha irmã de volta, mas quero, pelo menos, ter a sensação de que a justiça foi feita”, afirmou Andressa na manhã desta segunda-feira.
Haissa foi morta durante uma abordagem policial em Nilópolis, na Baixada Fluminense, há cinco meses, mas só agora o vídeo se tornou público.
Na gravação, dois policiais em uma viatura mandaram um carro onde estavam um rapaz e três amigas parar. Como o carro não parou, PM Márcio José Watterlor posicionou o fuzil para fora do carro e efetuou cerca de 10 tiros na direção do veículo, atingindo a jovem nas costas.
Para Andressa, a formação de um policial militar é muito rápida. “Um policial que se forma em 6 meses não tem um preparo adequado para ir para a rua. Um cara novo, que já tem três autos de resistência, continua na rua para cometer o quarto assassinato. Mesmo se fossem bandidos, mas se não atiraram contra a viatura, eles jamais poderiam ter disparado”, criticou Andressa.
Segundo a família da jovem assassinada, apenas agora, após a divulgação das imagens, alguma coisa será feita para punir os policiais. “No próprio vídeo ele confessa e assume toda a responsabilidade. Espero que agora a justiça seja feita de verdade”, diz a irmã.
Depois da morte de Haissa, a mãe e a irmã mais nova entraram em uma profunda depressão mas, segundo Andressa, nenhum amparo foi dado pelo Governo do Estado. “Minha irmã está quase perdendo o emprego e minha mãe não faz nada, fica 24 horas isolada dentro de casa. Meu pai é pedreiro autônomo e não temos condições de pagar um plano de saúde para tratar a minha mãe. A vida dela está se deteriorando”.
Em nota, a assessoria de imprensa da Policia Militar informou que os policiais foram afastados de suas funções após o ocorrido e estão respondendo a um Inquérito Policial Militar (IPM), que foi aberto pelo comando da Policia Militar na época do fato. Ainda segundo a nota, o IPM está em fase de conclusão e deve ser publicado nos próximos dias.
Amiga implorou por ajuda
Quando o veículo para, os policiais descem e uma das jovens implora: “Ajuda ela aqui. Pelo amor de Deus. Ajuda ela aqui, moço”, suplica uma das amigas. As amigas que não foram feridas entram no carro dos policiais e seguem o carro onde está a jovem ferida até o hospital.
No caminho, os policiais conversam com as amigas e um deles questiona o motivo do grupo não ter parado o carro. “Não, não justifica, tá. Não justifica ter dado o tiro, tá bom?”, alega o PM.
Ao ligar o rádio para comunicar o que ocorreu, um dos policiais diz: “Não sei nem o que eu falo aí”. Ao relatar o que ocorreu o policial ainda admite: “Dá um auxílio aqui também que a gente tá meio barata voa”. O relógio da câmera da viatura policial mostra que eram quase 6h do dia 2 de agosto do ano passado.
Fonte: G1