Opinião

Meia inteira

Meia no singular quase sempre é plural, já que são necessárias duas para virar uma inteira.

Até mesmo a meia propriamente dita, normalmente, é um par. Uma para cada pé. Menos a meia calça que é inteira, assim como a meia elástica. 

O mesmo caso da bola de meia. Como ser bola, sem ser inteira? O meia joga no meio de campo e para ser bom tem que ser um jogador inteiro: atacar, defender, apoiar e distribuir.  

Ainda no esporte, há a meia maratona, graças a Deus! Porque uma Maratona não é para qualquer atleta, só para atletas completos, como os do declatlo.

A meia pista ajuda, mas trava o trânsito e a meia velocidade é um conceito muito variável. A gente não tem noção do que é a velocidade inteira, nesse mundo cada vez mais veloz….

Meia quase sempre pressupõe a outra metade. Quase sempre. Já ouviu falar em meia tragada?

Meia entrada, na verdade, é uma inteira porque dá direito a meio pagamento da entrada para a sessão  inteira.

Também tem o meio tempo, composto por vários meios: meio dia, meia hora, meio minuto, segundo, décimo centésimo. São meios cada vez menores! 

E a meia noite? Essa também pode vir acompanhada de uma meia lua, que não deixa de ser inteira, já que sua outra metade está logo ali, no seu lado oculto.

Meia volta e volta e meia, é como trocar seis por meia dúzia. Sempre dão no mesmo lugar. Aliás, meia dúzia é metade, mas também são seis!

Também tem a meia pensão. Assim, meio meia sola, o que não faz um sapato inteiro, mas já quebra um galho. Já o pé de meia o ideal é que seja inteiro! Senão vira meia pataca.

A Meia Praia é clássica. Fica em Lagos, Portugal. Já a meia sunga apareceu agora. É moda na Europa e pra ficar bonitinha exige uma depilação completa, mais caprichada que a feminina.

Meia bandeira é no táxi. A bandeira verdadeira fica a meio pau, quando há luto. Pena que não haja meia dor, só meio triste! Também não há meia alegria…

Existe a meia verdade que não é lá essas coisas. Mas não existe a meia mentira. A meia cara esconde uma meia vontade, expressa por meias palavras.

As meias medidas costumam não resolver, já que não são inteiras. Completo, ou melhor, integral deve ser o meio ambiente que não se mantém com meia proteção, só com atenção total.

E quando a meia verdade se junta a meia intenção? Aí é o caos  por inteiro! Tudo fica meia boca com anda por aqui: meia economia, meia saúde, meia educação… Já ouviu falar em meia segurança? Tudo de meia tigela! Nosso governo inteiro atua por meio de meias atitudes produzidas por gente de meia cara que não se satisfaz com meia porção. Estamos inteiramente f…alidos!

São eles que querem fazer-nos acreditar na meia inflação. Essa não tem jeito: ou tem ou não tem! Precisaremos de, no mínimo, meio século para preencher tantos meios incompletos. Esse tempo já foi uma existência.  Hoje, com a longevidade é quase apenas meia vida.

Existem coisas que sempre são e serão inteiras. Para elas, não há meio termo. Não existe meia morte. Quando ela vem, vamos inteiros. Pelo menos a parte física. A espiritual, una e íntegra, é indissolúvel e eterna. E como não existe meia eternidade…

PS: havia pensando preguiçosamente em fazer uma meia crônica para acompanhar o tema central. Mas de meia em meia cheguei mais rápido do que imaginava a crônica inteira de hoje!

Valéria del Cueto

About Author

Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “Ponta do Leme”, do SEM FIM... delcueto.wordpress.com

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