Funcionários da fábrica de caminhões e ônibus da Mercedes-Benz em São Bernardo do Campo (SP) fazem uma paralisação de 24 horas, nesta quarta-feira (7) em solidariedade aos 160 trabalhadores demitidos pela empresa em dezembro, após o fim do período de suspensão de contrato, o chamado layoff.
Até a última terça-feira (6), a montadora não confirmava o número de funcionários demitidos, porém, nesta quarta-feira, divulgou um comunicado, no qual informava que, além dos demitidos, cerca de 100 colaboradores aderiram a um PDV, plano de demissão voluntária. Outra medida tomada pela montadora foi de prorrogar a suspensão do contrato de outros 750 funcionários até 30 de abril. Eles terão todos os custos assumidos pela empresa.
A greve na Mercedes-Benz começou por volta das 5h30 da manhã, e de acordo com o sindicato, teve adesão superior a 90%, paralisando a produção.
O sindicato diz ainda que, havia acordado com a Mercedes, em novembro, que a montadora prorrogaria o layoff de todos os 1.015 trabalhadores por mais cinco meses, até abril. Porém, 244 deles ficaram de fora. A entidade afirmou que parte dos funcionários aderiram ao PDV, porém, não sabe quantificar.
Demissão por telegrama
Darlene Burgo, de 44 anos, diz que foi uma das demitidas na fábrica da Mercedes no ABC paulista. Ela trabalhava há 10 anos no cargo de montadora, na área de motores, mas exercia função administrativa. "Por isso me colocaram no layoff (que terminou em novembro). Eu tinha uma função na carteira e exercia outra", diz.
Ao término do período de suspensão de contrato, no fim de novembro, Darlene afirma que recebeu um telegrama pedindo que procurasse o RH da montadora.
Darlene é formada em administração de empresas e tem pós-graduação em qualidade e produtividade. "Um montador da Mercedes não ganha pouco. A minha renda pesa, tenho um filho de 5 anos. Eu sendo mulher, com a idade que eu tenho, onde vou arrumar outro emprego agora?", questiona.
Volkswagen
Outra fábrica localizada em São Bernardo do Campo, a da Volkswagen também está com a produção parada, afirma o sindicato. A greve teve início nesta terça-feira (6), após o anúncio da demissão de 800 funcionários. Nesta quarta-feira (7), houve um princípio de confusão em uma das portarias da fábrica.
Em nota, a marca afirmou que “trata-se de fato isolado ocorrido na Ala 17, onde representantes do sindicato tentavam acessar a força as áreas de desenvolvimento de produto, local de acesso restrito em razão da confidencialidade, para a retirada de empregados que não aderiram ao movimento grevista”.
Cerca de 7 mil colaboradores estão de braços cruzados. O sindicato diz que a adesão na Volks também é superior a 90%, e que apenas áreas como engenharia e administração funcionam. Não há assembleia marcada para conversar sobre a volta dos trabalhadores, e o sindicato afirma que só irá negociar se o número de demissões for reduzido.
Outro lado
As duas montadoras afirmam que a demissão de funcionários foi necessária para adequar a produção à realidade do mercado, que apresentou queda nas vendas em 2014. Já Luiz Moan, presidente da Anfavea, a associação das montadoras, disse que as demissões são "pontuais".
“Falando da Mercedes, eu tive já a garantia de que qualquer movimento doravante será feito mediante negociação com o sindicato [dos metalúrgicos]. Sobre a Volkswagen, não há hipótese de demissão neste mês de janeiro, portanto há um tempo adequado de negociações entre as partes”, disse Moan, que participa nesta quarta da cerimônia de posse do novo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro.
Já o ministro do Desenvolvimento, Comércio e Exterior, Armando Monteiro, afirmou que o governo acompanha o assunto, mas “não há nada que justifique uma intervenção”.
A Volkswagen afirma que houve queda de 15% na fabricação de veículos no ano que passou. "Há um acordo trabalhista vigente desde 2012, que foi estabelecido em premissas de mercado e vendas que infelizmente não se confirmaram. Quando o acordo foi firmado, após anos de crescimento, a perspectiva era que a indústria automobilística atingisse a marca de praticamente 4 milhões de unidades em 2014. O que ocorreu de fato foi uma retração para 3,3 milhões", explicou a montadora, em nota.
A Mercedes-Benz, também em nota, disse que "durante todo o ano de 2014, a Mercedes-Benz do Brasil utilizou todas as ferramentas legais e negociadas de flexibilização para preservar a sua força de trabalho." A montadora ainda reiterou o compromisso de investir R$ 730 milhões nas fábricas de São Bernardo e Juiz de Fora (MG), entre 2015-2018, "com o objetivo de assegurar a competitividade da empresa no setor de veículos comerciais."
Queda nas vendas
Tanto o mercado de carros, como o de comerciais apresentou queda nas vendas em 2014. Entre os veículos de passeio e comerciais leves, houve redução de 6,9%, enquanto caminhões e ônibus tiveram queda de 11,6%, de acordo com dados da Fenabrave, a associação das concessionárias.
A queda anual é a segunda consecutiva. Ao todo, foram emplacados 3.497.811 de veículos. Em tom pessimista, o a Fenabrave projeta nova queda para 2015, de 0,53%.
Fonte: G1