Política

Jayme Campos mira o Palácio Paiaguás

Do alto da longa trajetória na vida pública, após 32 anos ocupando cargos como o de prefeito de Várzea Grande (1982/1996/2000), governador do Estado (1990), e por último, o Senado (2006), Jayme Campos (DEM) se afasta temporariamente do cargo eletivo. Após ter renunciado à condição de candidato à reeleição, no bloco da oposição do governador eleito Pedro Taques (PDT), mantém os olhos votados aos próximos pleitos.

A análise do possível retorno se dá num campo futuro, passando pelos processos eleitorais de 2016, e de 2018, quando poderá disputar o comando do Palácio Paiaguás. Reconhecido pela forma ímpar como impõe a lealdade aos aliados políticos, Jayme Campos mantém sua postura extremamente crítica emrelação ao papel do Congresso Nacional, não dispensando cutucões no governo federal.

Quando o assunto é Várzea Grande, ele dispara questionamentos contundentes sobre a administração do segundo maior município do Estado. Confia na boa intenção do governo Pedro Taques, preferindo não opinar nesse momento sobre um dos temas mais emblemáticos da próxima gestão: a implementação ou não do novo Fundo Estadual de Transporte e Habitação (Fethab), Lei de autoria do deputado José Riva (PSD), que garante distribuição de recursos do fundo aos 141 municípios do Estado de Mato Grosso.

Qual o sentimento ao deixar o cargo público após mais de 30 anos de atuação?

De dever cumprido. Eu tenho orgulho de ser senador por Mato Grosso, sobretudo um senador que teve um privilégio de se impor com trabalhos na Casa, de participar como membro titular da Comissão de Assuntos Sociais, de Assuntos Econômicos, da Comissão de Reforma Agrária, da CCJ. Fui vice-líder do meu partido, vice-presidente do Conselho de Ética do Senado. Senador independente, defendendo boas ideias e bons projetos, defendendo minhas convicções. Relatei o projeto de guarda compartilhada, acho que foi muito importante para dar respeito às crianças brasileiras. Relatei 266 projetos e muito interessantes e outros dirigidos ao Estado, como a criação do curso de medicina para Rondonópolis, as Zonas de Exportação, porque há desequilíbrio nesse aspecto. Meus projetos não foram demagógicos, e sim responsáveis, como o do Fundo de Amparo as Mulheres Agredidas, além de muitos outros

Quais os planos a partir de agora?

Eu preferi em 2014 não disputar. Fui a convenção mas em um determinado momento meu coração disse que não deveria disputar. Respeito o meu coração. Mas pelo meu mandato, pela minha trajetória tenho condições de emitir opinião. Agora, para 2016 e para 2018 temos eleições e eu me encontro ainda bastante jovem. Modéstia à parte faço política com altivez, quando deixei de disputar tinha pesquisa com 44% de intenção de votos. Tirando nulos e brancos quase 58%. Não deixarei a vida pública, talvez de forma menos direta, mas continuarei colaborando ativamente.

Existem mágoas, ressentimentos?

Nenhuma. Renunciei porque eu quis. Comuniquei o senador Pedro Taques, porque naquele momento tinha pessoas que não combinavam com o processo. O Pedro Taques foi muito leal comigo, tanto que ele sempre avalizou minha candidatura. Não tenho o que reclamar, comigo ele foi muito leal.

O aventado retorno ao comando de Várzea Grande é um projeto?

Temos outras pessoas, uma nova geração de políticos e imagino que temos que fazer reflexão, mesmo não sendo do DEM. Chega de aventureiro, tem que ter respeito com a cidade. A população está extremamente descrente com atuação do poder público. E se fizer pesquisa hoje, imagino que eu tenha quase 90% de aprovação. Isso estimula, mas temos novos nomes e não tenho dificuldades. Não seu apegado ao cargo, faço política porque gosto. Tenho compromisso com a população, com a cidade. A cidade perdeu o crédito, está se esvaziando. Tem “vendese” em todo lugar, acho que 30%, porque a população não tem perspectiva. Mas estamos aguardando. Vou cuidar da minha saúde, da minha família e talvez viajar. E vamos aguardar as eleições, poderei disputar mas não é minha pretensão nesse momento. E o futuro a Deus pertence. Me sinto jovem e disposto, e temos também as eleições de 2018 que vamos discutir sendo uma possibilidade.

Várzea Grande tem sido palco de muitos questionamentos, sobretudo em relação à política de gestão pública. Como vê esse cenário, considerando sua experiência de 3 mandatos à frente do Paço Couto Magalhães?

A situação lá é precária, temerária. Várzea Grande passa por crise moral, crise ética. Uma cidade que passou a ser muito violenta. As políticas públicas tem se apresentado ineficientes. A população tem pagado caro pelos desmandos. A saúde, os serviços sociais e a segurança, a população paga muito caro. Nasci lá, fui prefeito, então sinto também como homem público o dever de cobrar as autoridades. A Câmara Municipal que tem o dever de fiscalizar não faz o seu papel.

Tem sido conivente. Várzea Grande se tornou uma das cidades mais violentas do Brasil. Lá mata 3 ou 4 pessoas e deixa amarrado para outro dia. Virou uma cidade sem ordem alguma.

O que espera da gestão Pedro Taques?

Eu particularmente sou suspeito porque participei do projeto político, votei no Pedro, apoiei e acredito na sua proposta. As intenções dele são as melhores possíveis. Aqui precisa de um choque de gestão. Se percebe aqui só mídia negativa, com muitas operações, prendendo autoridades com desvio de conduta ao cargo que exercem. Percebo o Pedro Taques com boas intenções, melhorando os índices. A educação nossa em relação ao Ideb é uma das piores do Brasil.

De maneira que estou torcendo, espero que faça um bom trabalho, sem rancor, sem ódio, que faça as mudanças. A confiança depositada no Pedro Taques é muito grande. Ele furou a fila, disputou o Senado e agora o governo, chegou no topo da glória. Vamos torcer por ele, porque acho que vai fazer a diferença.

A implantação do novo modelo do Fethab, Lei de autoria do deputado José Riva (PSD) que prevê distribuição de parte do fundo aos municípios, gera polêmica com risco de não ser posto em prática e já sendo alvo de ações na Justiça por entidades como a Aprosoja. Como analisa o assunto?

O Fethab é um fundo criado no governo de Dante Martins de Oliveira, destinado à manutenção das estradas e também para a habitação. Foi criado para essa finalidade, mas foi desviado para aquilo que não era correto. E agora estamos vivendo um dilema, porque passa, com esse projeto aprovado pela Assembleia Legislativa, a destinar parte desses recursos para os municípios.

Acho que isso merece muita responsabilidade. Os municípios estão muito empobrecidos, não tem nem óleo diesel para os caminhões. Sou parlamentar municipalista e a maioria dos municípios, onde residem os problemas, não tem condições de ter equilíbrio financeiro. Então acho que o Fethab deve ser discutido, se fica na mão do Estado ou repassa para os municípios.

Todavia, existe uma ação em curso pela Famato, Aprosoja e vamos aguardar porque é um assunto muito sério para emitir opinião.

Muito de discute a Reforma Tributária e Política e não se verificam avanços pontuais no Congresso. Confia na chance real de essas reformas saírem de fato do papel na Legislatura que se aproxima?

É uma coisa muito interessante. A Reforma Política era para ter sido feita e não virou nada. Primeiro temos que reduzir o número de partidos para cerca de 10. Temos quase 40 e querem criar mais. Temos que discutir o financiamento público, voto distrital, etc. Mas não vejo essa boa vontade do Congresso. Esse número de partidos amarra, e não vai para a frente. Temos que discutir a Reforma Tributária, a Reforma Previdenciária.

Aqui no Brasil está tudo emperrado. Estamos vivendo momentos de atraso, de retrocesso no país, porque com essas amarras será sempre ineficiente. Se discute metrô no Brasil e na Argentina tem metro há 40 anos, mesmo com economia fragilizada.

Precisamos que o governo faça política responsável, não o que estão fazendo. Tem que fazer política mais séria. Hoje o governo federal está quebrando estados e municípios com a Lei Kandir. Mato Grosso tem prejuízo de cerca de R$ 2,8 bilhões. Então é uma política caolha, faz cortesia com o chapéu alheio.

Sonia Fiori – Jornal A Gazeta

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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