Preguiçosa e saboreando frutas, Sandra, a orangotango nascida há 29 anos em um zoológico da Alemanha e residente, há mais de 20, em um zoo de Buenos Aires, olhava, desconcertada, para as câmeras que se voltavam para ela na última segunda-feira, depois que a Justiça argentina lhe deu direitos em defesa de sua liberdade.
Em um caso inédito em nível mundial, a Câmara de Cassação Penal de Buenos Aires decidiu que, embora a orangotango não seja um ser humano, ela tem sentimentos e, por isso, a ela se pode aplicar um habeas corpus para que possa viver com mais liberdade.
Em dezembro de 2013, um pedido similar tinha sido rechaçado pela Justiça de Nova York, quando uma organização de defesa dos animais pediu que quatro chimpanzés em cativeiro fossem considerados “sujeitos não humanos” e com direito à liberdade.
A decisão da corte concentrou a atenção na símia de pelagem avermelhada, de 50 kg e 1,50 m de altura, quando fica ereta. Saboreando um melão e tirando cuidadosamente as sementes da fruta, Sandra encarou as lentes de várias câmeras de TV.
“É assim que vive há 20 anos, em um espaço grande, tem especialistas que cuidam de sua alimentação, controlam a sua saúde e, em geral, vive em condições muito boas”, explicou Adrián Sestelo, diretor do laboratório de biotecnologia reprodutiva e chefe de biologia do zoológico de Buenos Aires. No entanto, a Associação de Funcionários e Defensores dos Direitos dos Animais (Afada) interpôs uma ação para que fosse libertada.
A Afada argumentou que Sandra “é uma pessoa não humana, pois mantém laços afetivos, raciocina, sente, se frustra com o confinamento, toma decisões, possui autoconsciência e percepção do tempo, chora as perdas, aprende, se comunica e é capaz de transmitir o que aprendeu”.
Alguns ativistas chegaram, inclusive, a considerar que Sandra estaria deprimida. “Não é verdade, isto é desconhecer a biologia básica da espécie. Sandra é um orangotango, os orangotangos vivem sozinhos, sua conduta é muito relaxada, muito tranquila”, disse Sestelo.
Alheia a tudo isso, Sandra brincava debaixo de árvores frondosas no zoo, situado no bairro portenho de Palermo.
Fonte: iG